Marcos Coimbra: As elites responsáveis pelo ataque à democracia e ao nosso futuro terão saudades de Lula

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Fotos: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

O futuro em xeque

O assalto à democracia compromete o nosso amanhã. Algum dia a elite responsável pelo desastre terá saudades de Lula

por Marcos Coimbra, em CartaCapital, 25/08/2016 

É difícil imaginar o futuro da democracia no Brasil. Após o que aconteceu nos últimos anos, uma coisa é certa: a reconstrução de um sistema político aberto e pluralista será um processo longo, sujeito a complicações e retrocessos.

O maior desafio será convencer os desfavorecidos de que o caminho eleitoral é efetivamente capaz de atender às suas necessidades e preferências.

A derrubada do governo Dilma Rousseff e a consequente retomada do poder pelas oligarquias pode sugerir a muitos que a solução pelo voto é ilusória. O fim da “mágica brasileira”, que fez com que tantos acreditassem que era possível solucionar sem traumas e rapidamente nossos problemas de desigualdade e injustiça, cobrará um preço elevado.

Na ânsia de reconquistar seus privilégios e reassumir as rédeas do Estado, a elite brasileira age temerariamente. Recusa-se a aprender com nossa própria história e prefere ignorar o que ensina a experiência internacional.

Comparado a outros países igualmente pobres e brutos, o Brasil teve, no fim do século XX e no início do atual, uma trajetória singular. Saiu de uma longa ditadura e incorporou milhões de pessoas ao sistema político, mantendo-se basicamente em paz, apesar de compartilhar níveis de miséria que, em outros lugares, levaram a problemas crônicos de instabilidade e violência.

Em 1989, na primeira eleição presidencial moderna, tínhamos 82 milhões de eleitores, 67 milhões compareceram e 62 milhões votaram em algum candidato. Em 2014, o eleitorado era formado por 142 milhões de pessoas, 115 milhões compareceram e 104 milhões votaram nominalmente.

No curto espaço de 25 anos, o Brasil trouxe 60 milhões de novos atores para dentro do sistema político. Algo semelhante ao total de votantes nas últimas eleições na Argentina, Peru e Colômbia somados, os países de maior eleitorado na América do Sul (e quase cabia ainda o Chile).

Entre nós, a ampliação do eleitorado não se deu apenas em velocidade mais elevada que a de qualquer vizinho, mas em escala várias vezes maior (em intervalo igual, o eleitorado argentino aumentou cinco vezes menos, em termos absolutos).

Na química política, a reação onde entram ampliação acelerada do sufrágio e miséria social persistente costuma produzir faíscas e explosões, na forma de conflitos civis, radicalismo exacerbado, banditismo e fanatismo religioso. No Brasil, nada disso aconteceu. Ao contrário, as novas massas de cidadãos, predominantemente pobres, mantiveram-se fiéis à democracia.

Em retrospecto, não é difícil entender o porquê: com a criação do Partido dos Trabalhadores, constitui-se uma alternativa de representação político-partidária, simultaneamente viável e legítima, que permitiu aos despossuídos imaginar que seus interesses poderiam ser promovidos através do processo eleitoral.

O desempenho de Lula na eleição presidencial de 1989 foi decisivo na consolidação dessa possibilidade. Sua quase vitória sobre Fernando Collor, apesar do jogo sujo do financiamento empresarial e das manipulações da mídia, significou que podia haver esperança. Treze anos depois, a grande maioria do País resolveu apostar nele.

O sucesso de Lula na Presidência demonstrou a tese e produziu o melhor momento vivido pelas pessoas humildes na história brasileira. Por mais que os porta-vozes da elite busquem desconstruí-lo, é sua essa honraria.

As condições materiais que prevaleceram naquele período mudaram, em grande parte por causa de alterações na economia mundial. Dilma, a seu modo e com suas limitações, quis remediá-las, mas foi derrubada tentando.

As elites brasileiras escolheram o caminho que melhor conhecem: a imposição, ao conjunto do País, de suas velhas receitas. Recusam-se, por inépcia intelectual ou preguiça, a nem sequer procurar saídas que mantenham o respeito aos interesses dos mais pobres.

Nesse novo/velho Brasil que querem (re)construir, passando a borracha no que foi feito pelos governos do PT e arrasando a imagem do partido e suas lideranças, acham que voltarão a mandar sem questionamento. Estão prontas a utilizar-se do “pau e circo” do passado, com mais repressão e uso desenfreado da máquina de mistificação dos oligopólios de mídia.

A pergunta é se conseguirão, depois da década petista e tudo que representou. Depois que as camadas trabalhadoras obtiveram acesso às novas tecnologias da informação. Depois que adquiriram, na prática, consciência de seus direitos.

Ninguém é capaz de imaginar o que vem pela frente. Mas é bem provável que, no futuro não muito distante, as elites brasileiras tenham saudade de Lula.

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Comentários

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MARIO FONTES

Até agora só ganharam medalhas os atletas de origem pobre. Creio que vai continuar assim, porque a elite brasileira só sabe mesmo é roubar e viajar pelo mundo com nosso dinheiro, não se esforçam para nada. As únicas coisas que que os ricos da elite brasileira sabem fazer bem são: Dar Golpe assassinando a Democracia- Usurpar o poder para assaltar o Estado brasileiro – Promover a concentração de renda pelo Patrimonialismo (roubo e ofertas de favores e privilégios e altos cargos aos amigos e comparsas) Esta elite de rapina que quer roubar o trabalho de todos é vagabunda e corrupta não consegue ganhar dinheiro se esforçando estudando empreendendo, trabalhando, competindo, administrando e inovando para fazer lucro. Só sabem promover o arrocho salarial, retirar direitos trabalhistas e obter propina pela entrega dos recursos do pais, saquear as riquezas do pais para o bolso de meia dúzia e depois ficar reclamando da violência dos favelados e pobres e dizendo que prefere morar em Miami. Esta elite podre que comanda o pais há 500 anos são descendentes da ociosa corte Portuguesa, fugida com medo da Invasão Napoleônica, que matava os nobres inúteis como eles.
Pergunta como vamos nos livrar destes exploradores golpistas que não trouxeram nada de bom, sem encosta-los no paredão e fuzila-los, ou guilhotina-los como fizeram os Franceses, para se livrarem das elites inúteis deles? Para podermos evoluir socialmente em direção a uma sociedade mais avançada melhor e justa?
Nada de novo nos últimos 500 anos: Perdemos a Floresta de Pau Brasil e a Mata Atlântica e sobraram muitos Índios e mestiços a serem educados.

Perdemos o ciclo do ouro das pedras preciosas do açúcar da borracha e sobraram mais escravos negros e mulatos e favelados e explorados, verdadeiros parias sociais, com propensão a violência devido a miserabilidade, para serem inseridos na economia do pais.

Após o Petróleo haverá um grande déficit ecológico com poluição e desempregados despreparados para um mundo tecnológico que exige muitos anos de estudo para conseguir um emprego e uma pequena elite, cada vez mais rica, pensando em morar em Miami para fugir da violência.

Vocês que defendem mais capitalismo para resolver os problemas sociais; de onde acha que vieram essa massa enorme de pessoas em situação desprivilegiada, sem educação e com grande propensão para violência devido a condição de risco de miséria?

Pergunto, esta população toda de miseráveis e analfabetos veio de 500 anos de exploração Colonialista, Mercantilista, Capitalista ou de 10 anos do governo de Centro-Esquerda do PT?

Interessante notar que a Estatal Norueguesa explora Petróleo no Pré-sal, faz isto para manter o já elevado nível de vida, educação e Bem Estar Social de seus compatriotas, que já é bem alto.O fundo de Bem Estar Social n Noruega gerado pelo Petróleo atingiu quase U$ 1 Trilhão.

FrancoAtirador

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Sociopatas Não Têm Remorso, São Irremediáveis Canalhas Históricos.
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Há 62 Anos, essa Mesma Elite Econômica Usurpadora e Anti-Nacional,

pelos mesmos motivos, golpeou o Presidente Eleito Getúlio Vargas.
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E 52 Anos Atrás, comemorou o Fim do Suposto ‘Projeto Comunista

Idealizado’ por um Partido Trabalhista Liderado por Jango e Brizola.
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Não fosse o Povo Brasileiro tão Tolerante, Submisso e Subserviente,

estariam todos Alinhados Horizontalmente, Sem Capuz, no Paredão.
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Sergio L

Talvez, eu disse TALVEZ, quando o brasileiro sentir na pele e no bolso toda a ira da elite (que já estamos sentindo, mas vai piorar e muito) ele COMECE a despertar…

Sidnei Brito

Sem toda a argumentação e sem a linguagem elegante do Coimbra, já venho dizendo isso há tempos, acho que até aqui neste espaço de comentários. Meu mote: os caras não estão precificando o golpe.
Com certeza, em outras épocas pode ter sido relativamente fácil cometer um golpe e convencer o cidadão de que ele teria que esperar por trocentos anos o bolo crescer para só aí, se desse, dividir.
Hoje, acredito, não vai ser fácil convencer ninguém de que não dá para mudar de smartphone só por causa de uma novidadezinha.
Sabe aquele SUS que todo mundo diz ser horroroso e ninguém quer? Na hora que faltar, vai estar cheio de gente lembrando que o diabo não era tão feio quanto pintavam: “eu usava e era bem atendido”; “demorava um pouco, mas quando atendia era bom”; “foi no SUS que o médico descobriu o que eu tinha; no particular só me enrolaram”; “o pessoal falava do SUS, mas esse hospital que eu tô indo só tem aparência”.
Questão de tempo mesmo.

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