Lula: “Quanto mais me provocarem, maior será o risco de eu me candidatar!”; veja o discurso

 Fotos: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Da Redação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou na noite dessa sexta-feira (10) na avenida Paulista, da manifestação contra o golpe.

Ele falou durante 35min10s (na íntegra, ao final) às frentes Brasil Popular, Povo Sem Medo, que convocaram o ato, aos movimentos sociais, às mulheres, aos homens, aos estudantes e ao próprio presidente usurpador Michel Temer

“Não vou dizer Fora Temer, não pega bem”, observou. “Mas, Temer, você é um advogado constitucionalista. Você sabe que não agiu corretamente assumindo a presidência. Por favor, permita que o povo retome o governo com a Dilma e dispute eleições em 2018 para ver se você vai ser presidente.”

“O Temer pegou a interinidade, e não agiu como presidente interino”, disse Lula. “Ele assumiu como se fosse Fidel Castro depois da Revolução Cubana! O Fidel era autoridade, porque tinha feito a revolução. Temer não tinha autoridade, não tinha feito a revolução. Chegou lá através de um golpe dos fascistas e conservadores!”

Lula lembrou que, naquela mesma avenida Paulista, muitas pessoas foram protestar contra a corrupção, usando a camisa da CBF, pedindo o impeachment de Dilma.

“Os coxinhas agora têm vergonha de dizer que querem o Temer, que querem o golpista. Espero que saiam para a rua para que a gente possa ver a cara deles”, provocou.

Lula disse ainda que o que o governo quer Temer é fazer um desmonte no país:

“Quando eu fui eleito, eu tinha uma obsessão: era provar que um peão de fábrica sem diploma poderia governar esse país melhor. O desafio nunca foi fácil, mas hoje, quando o governo tem um problema, a solução é sair vendendo. Não é possível que as pessoas não se deem conta de que o que eles querem é desmontar esse país!”

“Na verdade, eles querem vender tudo, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa, Transpetro…”

“Eu tenho orgulho de saber que o Banco do Brasil é maior que os privados! Que a Caixa Econômica é o segundo banco desse país (já passou o Itaú e o Bradesco)!”

“Tenho orgulho de ter incentivado os bancos públicos. Quando teve a crise em 2008, quando o sistema financeiro privado não queria financiar as pessoas, os bancos públicos fizeram esse país crescer”.

“Eles têm medo da coisa pública, tem medo dos bancos públicos, das empresas públicas, porque eles não sabem governar. Só sabem privatizar! E para privatizar não precisa ter governo, é só ter agiota”.

Lula lembrou que foi o único presidente do Brasil que participou de todas as reuniões do G8, que é a casta dos presidentes dos países ricos:

“Eu fui convidado para todas, porque nós conseguimos fazer a maior revolução social da História do Brasil! A primeira coisa: conseguimos provar que o pobre não é problema, é solução desse país. A segunda coisa: provar que aumentar o salário mínimo não era inflacionário – e aumentamos 74%.A terceira coisa: provar que a gente poderia durante 12 anos dar aumento real aos trabalhadores, sem causar inflação”

Lula criticou a política externa do governo interno:

“Vi uma entrevista com o atual chanceler brasileiro [José Serra] no Roda Viva. E eu lembrei de uma coisa que o Chico Buarque disse no lançamento da campanha da Dilma [em 2014]: ‘Eu gosto do governo da Dilma, gosto desse governo do PT, porque eles não  falam grosso com a Bolívia nem fino com os EUA!

“Voltou o complexo de vira-lata. O chanceler reconheceu que o Brasil não pode se meter nas coisas de países grandes. Somos pequenos, de terceiro mundo e temos que nos colocar no nosso lugar. Quem tem que mandar são os americanos, os europeus, nós apenas temos de ficar de cabeça baixa”.

“Não podemos ter esse complexo de vira-lata. Aprendi com minha mãe analfabeta a andar de cabeça erguida. O que faz você ser respeitado não é ser grande ou ser rico”.

Nesse momento, Lula se emocionou ao lembrar de sua mãe e da infância e dos repetidos ataques de que tem sido vítima e desafiou: “Eu quero ver o dia em que alguém vai encontrar um real de desvio nas minhas contas (…) parece que hoje as pessoas não querem condenar com provas ou com julgamento, mas com manchetes de jornal.”

O ex-presidente lembrou que respeita a Justiça, fortaleceu o Ministério Público, a Polícia Federal, deu recursos, autonomia e respeito às instituições, mas que não podemos aceitar que essas instituições sejam partidarizadas. E desafiou: “Estou esperando que algum delegado, alguém do MP, aponte um real de desvio meu”.

Lula criticou ainda a condenação midiática, sem respaldo em provas. Disse que hoje as pessoas preferem condenar não na Justiça, mas numa manchete de jornal. E desabafou: “Quem não morreu de fome até os cinco anos onde eu vivi e venceu a fome não tem medo de nada. Quanto mais eles me provocarem, mais eu corro o risco de ser candidato à Presidência em 2018″

Assista à integra do discurso

Ouça a íntegra do discurso: