Janio de Freitas: “Os que tomam o poder vêm dar mais aos que não deixaram de ter mais mesmo com Lula e Dilma”

Tempo de leitura: 3 min

Temer

Michel Temer assina notificação de posse como presidente interino encaminhada pelo Senado. Foto: Reprodução do twitter

O momento crucial
12/05/2016 09h00

Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo

Foram muitos os fatores contribuintes para este episódio sórdido da antidemocracia, mas um só momento crucial criado pela própria Dilma Rousseff. Os outros momentos determinantes, dois ou três, foram elaborações típicas da mente de Eduardo Cunha. Ficou lá atrás, e nunca esclarecido por Dilma, o fato que demarcou o fim de muitas coisas, o fim do modo como era vista, o fim de suas possibilidades de ação política, até o fim do governo.

Ainda hoje não se sabe o que ocorreu entre Dilma e o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, um tanto antes ou pouco depois da reeleição. A reportagem decente não percebeu a importância do assunto, e os jornalistas da ficção estavam com abundância de temas. Mas a confrontação de duas pessoas exaltadas a se cobrarem de atos e de culpas teve consequências: a saída de Mantega, sob uma justificativa familiar, mas com o tratamento presidencial de descaso, e a substituição, como todas, sob pressões políticas.

Dilma contornou as pressões com uma nomeação de surpresa. Mas escolher Joaquim Levy, tão identificado com o neoliberalismo que até colaborara com a campanha de Aécio Neves, equivaleu a comunicar à oposição que a presidente estava em pânico com a situação econômica. Sem corrupção dentro do governo, nada poderia dar mais munição aos opositores do que problemas econômicos, não importando a sua dimensão real. Nem que dispusesse de soluções Joaquim Levy poderia adotá-las, imobilizado pela barragem política que associou Eduardo Cunha e Aécio Neves, o tático e o incentivador.

Dilma traiu-se, perdeu-se, traiu o eleitorado e perdeu a companhia dos defensores de um Brasil menos desigual, menos entregue a uma claque de riqueza e improdutividade, e um pouco mais decente. Desde então, foi uma presidente à mercê da oposição. Por sorte sua, oposição conduzida por gente medíocre. Mas nem isso lhe valeu. Sua ação política foi pior que a dos opositores.

Dilma é uma técnica que se supõe também política. Presunção comum entre técnicos, sem igual na área econômica. Suas opções políticas foram ruins como regra. As equipes palacianas de sua escolha criaram uma Presidência lerda, sem criatividade e iniciativa, politicamente míope.

Se, porém, isso explica o governo aturdido com o cerco oposicionista –o parlamentar e o de imprensa/tv/rádio–, não leva a entender a entrega definitivamente desastrosa da Fazenda a Levy –claro que não por ser o sóbrio Joaquim Levy. Ainda hoje Dilma precisa lutar contra o efeito desmoralizante desse ato.

Mas nem sequer esboçou uma explicação, no entanto devida: por que a inversão, por que um ministro neoliberal, por que Levy? Absoluta falta de percepção política, sem dúvida. O provável cálculo de uma sedução do poder econômico que, afinal, se voltou contra a feiticeira. E mais, é provável que mais, silenciado e nem por isso esquecido.

Dilma Rousseff errou muito. Mas nem a soma dos seus erros pode justificar a fúria incivilizada que Aécio Neves desfechou logo depois de derrotado pelas urnas, para derrubada do governo legítimo. A par dos erros, o governo Dilma levou a avanços significativos contra problemas sociais. Aí já se notam recuos deploráveis. Por efeito do quase ano e meio de degradação econômica desde o início do segundo mandato, com a ação destrutiva da oposição e a inoperância do governo, forçada em grande parte.

Mas os que tomam o poder não trazem correções. São figurinhas fáceis. Vêm buscar o que deixaram de ter. E dar mais aos que não deixaram de ter mais mesmo nos governos de Lula e Dilma.

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Comentários

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ELIZA

Rogério Maestri, excelente observação. Foi a minha impressão. Não devemos esquecer nunca a dignidade de Dilma ao se retirar. A Presidenta não tem do que se envergonhar. Honesta e correta. Não deixaremos esses canalhas esquecerem por um segundo que são apenas canalhas e golpistas. Desejo de coração que eles implodam na luta esganiçada pelo poder.

Messias Franca de Macedo

… E *um mequetrefe aloprado administrador de empresas assume, pasme, o ‘miniSTÉRIO’ da Educação e ,pasme, Cultura!
*Mendonça Filho (DEMo/PSDBosta/PE)

O descalabro somente não é tragicômico porque é uma decorrência artificial (sic) do golpe!
Ademais, O TRAIDOR USURPADOR ‘TEMERo$o já se encarregou de substituir a insígnia ‘Brasil Pátria Educadora’ por, lembrando a ditadura, *’Ordem e Progresso’!

$$$$$$$$$$$$$

*
‘Governo Federal: Ordem e Progresso’ será o slogan de Temer

ERICH DECAT – O ESTADO DE S.PAULO
12 Maio 2016 | 11h 08

Marqueteiro afirmou que intenção é transmitir uma mensagem ‘forte, concisa e atual’; novo lema substitui o ‘Brasil: Pátria Educadora’
(…)

CACHOEIRA – perdão, ato falho -, FONTE [IMUNDA!]: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,governo-federal-ordem-e-progresso-sera-o-slogan-do-governo-temer,10000050764

***

NOTAS DO MATUTO:
o(a) dileto(a) leitor(a) entendeu o ‘forte’ da mensagem?!
Hã hã hã… Quer dizer, “intonci”, que o (des)governo nazigolpista tem marqueteiro, inclusive para difundir a ideia de que o Bolsa Família ficará, inclusive, para além de setembro de 2016?!

RESCALDO:
“os golpistas pensam que o povo não está entendendo nada!” Por jornalista Paulo Henrique Amorim

Eduardo M S Di Lascio

É um dos títulos mais confusos que eu já lí em toda a minha vida.

    FrancoAtirador

    .
    .
    “Os que tomam o poder
    [TEMER/CUNHA/RENAN/SERRA]
    vêm dar mais [DINHEIRO]
    aos que não deixaram
    de ter mais [DINHEIRO],
    mesmo com Lula e Dilma”
    .
    .

FrancoAtirador

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O Tea Party braZil e a Ku Klux Klan estão Muito Felizes:

O Michel Jaburu não Nomeará Nenhuma “Tia do Café”.

Aliás, Tia Alguma Ocupará Cargos no Governo. Só BRDs.
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FrancoAtirador

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A Presidente da República exonerou,
há pouco, todos os Ministros de Estado,
exceto o Presidente do Banco Central.
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    FrancoAtirador

    .
    .
    O Pilatos Zavascki Poderá Terminar de Lavar as Mãos Sujas de Injustiça

    e Devolver o Lula para o Calabouço do Autocrata da Província do Paraná.
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    Com a Bruxa Comunista Queimada Viva em Praça Pública na Fogueira Inquisitorial,

    e o Enforcamento do Rei Vermelho e a Expulsão do Prefeito Petralha de São Paulo,

    estará Consumado o Extermínio do Partido dos Trabalhadores da Face da Terra.
    .
    .

Sérgio Vianna

Muito bom, Rogério Maestri, o seu texto-análise intitulado “O golpe não foi consumado”.
Parabéns pela compreensão dos fatos e mais ainda pela exposição de sua ideia base que justifica seu pensamento.
Valeu!

FrancoAtirador

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Posição Cômoda a dos Jornalistas
que ainda trabalham nas Empresas
que apoiaram o Golpe de Estado.
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    FrancoAtirador

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    Tchau, Querid@s!
    .
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    FrancoAtirador

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    Emissoras de TV Pedem que @s Artistas ‘Peguem Leve’
    nos Protestos Contra o Impeachment nas Redes Sociais

    Você Póde Substituir Por Censura, Se Achar Melhor…

    (https://twitter.com/CintiaBarenho/status/730824452833968129)
    .
    .

Rogerio Maestri

O golpe não foi consumado.
As últimas imagens da saída dos ex-presidentes Collor de Melo no Brasil e de Richard Nixon nos USA, derrubados por processos de Impeachment legítimos tanto num como em outro país, não são nada parecidas do que a saída da Presidenta Dilma no seu discurso.
Quando aqueles presidentes foram depostos ou renunciaram, estavam meramente cercados por seus familiares e representantes do seu governo faziam tudo para não aparecer nas fotos para a posteridade.
A imagem dos ex-ministros e demais assessores se apertando para ficar evidente nas filmagens e fotos do último discurso da Presidenta Dilma antes do período de afastamento são completamente diferentes. Ninguém antes da entrada da Presidenta estava com cara de funeral, nenhum parecia estar envergonhado por ter participado do governo Dilma, até alguns se esticavam e procuravam achar uma posição que mostrasse sua posição de destaque no governo.
Bem, o que tem isto de importância? Tudo, enquanto nos verdadeiros impeachments de Collor e de Nixon o pudor e a vergonha impunha um verdadeiro recato de não aparecer do lado daqueles presidentes que tinham realmente feito algum crime, o mesmo pudor e a mesma vergonha impulsionavam seus colaboradores a dar a solidariedade à saída da Presidenta, não houve espaço a vergonha e ao arrependimento, houve espaço a solidariedade e ao sentimento que estavam saindo com seu dever cumprido.
Esta atitude mostra simplesmente a diferença de impeachment com golpe, um se foge do detentor, outro se aproxima muito mais.
Não sei como será a “posse” do traidor, porém se houver pessoas se aproximando para aparecer nas fotos e filmagens não será por solidariedade, mas sim por ficar mais evidente para ter mais cacife na divisão do Butim, pois enquanto para os que saem o sentimento é de orgulho, para os que entram é de vergonha e vilania.

    Homero Mattos Jr.

    exatamente. é isso aí. bravo!

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