Janio de Freitas: Intervenção é mais contra o Exército do que contra delinquentes; ministério novo é para controlar PF

Tempo de leitura: 3 min
Brasília - O Comandante Militar do Leste, General Braga Netto, durante entrevista coletiva sobre o decreto de intervenção no Estado do Rio de Janeiro (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 Michel Temer durante cerimônia de assinatura de decreto de intervenção Federal no estado do Rio de Janeiro, no Palácio do Planalto. Foto: Beto Barata/PR, via Fotos Públicas

O risco ao contrário

Os ideólogos da intervenção pensam em política e deixaram o Exército com o risco

por Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo

A intervenção federal no Rio, como está feita, é mais contra o Exército do que contra os delinquentes a serem combatidos.

E, não constando que os ideólogos da intervenção Moreira Franco, Raul Jungmann e o general Sergio Etchegoyen tenham descoberto novas formas de ação anticriminalidade, não há por que supor ao menos redução da mortandade, tão logo acabe a usual retração dos delinquentes quando há novidade na repressão.

Mais necessária é a intervenção na chefia da Polícia Federal. Mas nos dois casos Michel Temer faz prevalecerem os seus interesses.

Contra sustar as boas interferências na PF para sua condição de suspeito e acusado; e a favor de uma medida extrema e controversa que lhe traz muitas vantagens políticas. O país e os Estados são capítulos à parte.

O Exército está em operações no Rio desde julho de 2017. Se, passados sete meses, quem assinou aquele envio da tropa assina, agora, a intervenção para a mesma garantia da ordem, não é preciso recorrer a números para concluir pelo insucesso do Exército.

Isso pode ficar debitado ao seu despreparo para ações fora de sua finalidade.

A intervenção elimina tal álibi, ao estabelecer que todo o sistema de polícia e segurança do Rio passe à responsabilidade do Exército na pessoa de um general. Assim como todas as respectivas atividades.

No nível a que chegou o poder de ação do crime organizado, a repressão não conta com outra tática que não o enfrentamento direto.

Do qual, pelo que se conhece, o esperável está em duas hipóteses: ou mortes a granel ou resultados muito aquém do desejado (e necessário).

A primeira ocorrência deixaria o Exército sob repulsa interna e externa, com possíveis consequências internacionais para o país.

A segunda ocorrência será a derrota, que é o inferno dos militares. E não será menos do que isso para o Exército.

A única novidade da intervenção é a intervenção. Feita em cima das pernas.

Nada foi estudado da situação atual, que já difere da vigente há um mês, nem discutido sobre um modo de agir diferente dos pouco ou mal sucedidos de até agora.

Os ideólogos da intervenção pensaram em política.

E deixaram o Exército, que tem se mantido exemplar no Estado de Direito, com todo o risco.

A criação do Ministério da Segurança, pretendida por Temer, vem do mesmo tipo de propósitos pessoais, compartilhados no Planalto por muitos pendurados em acusações e inquéritos.

Esse ministério não teria utilidade: o que conteria já existe.

Dar maior autonomia à Polícia Federal, já existente, é um objetivo falso.

O pretendido é o oposto: juntar todos os setores ligados a investigações e processos sob um mesmo comando, para facilitar manipulações sem conflito de orientação entre eles. Vem daí a crise que começa a formar-se na PF.

Inicia-se uma fase nova de ação do Planalto, para servir aos interesses de defesas pessoais e ataques à decência.

Leia também:

Cassaram a faixa do Vampirão! Pressão teria vindo do Palácio do Planalto


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Antonio

Infelizmente mais esse desvio do Temer veio para ficar, começa pelo Rio e paulatinamente atingirá todos os estados. Nada mais é do que a militarização aos moldes do que foi feito em 64, agora com a aparência legal, como foi “legal” o golpe contra a presidente.
Esse ato mostra que o comandante do exército é um banana.
Mostra que quem governa se chama Echegoyen e lembrando de outro basco sinto arrepios pelo que está por vir.
O exército brasileiro cujos oficiais são formados pela mesma linha da antiga escola do Panamá é um dos poucos no mundo que, como instituição, já voltou suas armas contra o povo do país que deveria defender.
Não se poderia esperar outra coisa de uma força que tem como patrono um reconhecido genocida.
Não servem para defender a soberania, batem continência a um comprovado informante de país estrangeiro e agora se preparam para fazer a única coisa que fazem bem: REPRIMIR, BATER, PRENDER, TORTURAR E MATAR BRASILEIROS.

Deixe seu comentário

Leia também