Izaías Almada: E o golpe aqui, senhores juízes, não vem ao caso?

TURQUIA, FRANÇA E BRASIL…

por Izaías Almada, especial para o Viomundo

O mundo das comparações é inevitável, seja na bonança ou na tempestade.

Com a morte de policiais norte americanos, o golpe na Turquia e a situação hitchcockiana no Brasil – agora com o suspense à espera da votação do impeachment no senado – vamos avançando para uma situação que Deus jamais imaginou na criação do mundo.

E pelos vistos, a justiça passa batida em todas elas. Policiais que matam negros nos Estados Unidos, muitos deles costumam ficar impunes; a quebra da legalidade democrática, em qualquer circunstância, como agora na Turquia ou aqui no país, sob o manto da mentira jurídico mediática, tem maltratado e desacreditado a justiça que se espera de um mundo civilizado.

A Polícia Federal pode fazer o que quer? O Juiz Sérgio Moro pode fazer o que quer? O MPF pode fazer o que quer? O STF vai ficar calado? Ou existem leis no Brasil?

O país endoidou de vez? Perdemos a compostura ou nunca a tivemos? Fiquemos no exemplo mais assustador mais atual, aberrante mesmo, embora existam centenas, milhares deles que podem nos remeter a reflexões sobre as perguntas acima.

O número de denúncias de corrupção contra o senhor Eduardo Cunha e os valores por ele amealhados para uso pessoal, para comprar deputados e eleger uma bancada “sua” e até para chantagear, consoante os inúmeros depoimentos, delações as mais variadas, documentos de diversas procedências, muitos vindos da Suíça, é inacreditável.

Um evangélico, acima de tudo. Aliás, a religião se transformou num dos melhores negócios do mundo contemporâneo, sobretudo no Brasil.

São milhões e milhões de dólares surrupiados ao erário público e o senhor Eduardo Cunha continua solto, encontrando-se com o interino presidente (sic) Temer há poucos dias no Palácio da Alvorada, num flagrante deboche à imbecilidade do povo brasileiro.

Seu processo de cassação é também outro deboche ao país, pois há seis meses a Câmara de Deputados vai adiando a sua mais do que necessária cassação ao usar variados subterfúgios. Incluindo-se aqui o teatrinho da renúncia à presidência da Câmara.

O Brasil está sem governo, ou melhor, juntaram o prontuário de alguns cidadãos e colocaram-nos provisoriamente no palácio da Alvorada, “enquanto seu lobo não vem”. Muitos, inclusive, são candidatos a tornozeleiras eletrônicas.

A mixórdia institucional é acachapante, com o Ministério Público fazendo o que quer; zilhões de operações da Polícia Federal, batizadas com alguns nomes imbecis, festival de delações premiadas, acusações por todos os lados, onde – atônito – o cidadão brasileiro já não sabe mais em quem acreditar.

Situação que só interessa aos golpistas e a seus patrões de dentro e de fora das nossas fronteiras.

Emissoras de televisão, emissoras de rádio, jornais e revistas semanais atingem o ápice da mediocridade, com a sua quase que total falta de compromisso com seus leitores, ouvintes e espectadores.

Às vezes me vem à lembrança a imagem desses filmes de Zombies, os tais mortos vivos, como sendo a imagem mais atualizada do Brasil, tamanha a facilidade com que aceitamos as mudanças políticas para pior sem uma reação à altura da desfaçatez com que são tramadas e realizadas.

Tenho a ousadia de dizer que a esperteza e a imbecilidade políticas no Brasil são as duas faces de uma mesma moeda.

Ambas contribuem para a desorganização social, para o aculturamento, para a negação da própria atividade política e para a submissão dos cidadãos ao mais nefasto poder de um capitalismo predador, irresponsável, idiotizante, que arrasta boa parte da humanidade para aquilo que ela tem de pior.

Os exemplos, inúmeros, podem ser encontrados em alguns dos principais países, como o recente caso dos francos atiradores negros em Dallas no Texas. Ou do caminhão de Nice.

Já não há qualquer dúvida: somos um país aculturado, um país que, por incompetência ou má fé, ainda não soube criar as ferramentas para pensar com a própria cabeça.

Aceitamos, com a falsa impressão de resistência (Não vai ter golpe, vai ter luta…) a instalação em Brasília de um governo interino incompetente e medíocre, movido pelo desrespeito ao povo brasileiro, pelo ódio ao que foi construído em favor de um programa de desenvolvimento soberano.

A interinidade, portanto, a esperteza do golpe parlamentar, mostra a cada dia que passa a sua imbecilidade, a sua falta de programa para o avanço econômico e social do país.

E não há muito do que reclamar, pois milhões de brasileiros contribuíram para que chegássemos a atual situação. Situação que se repete de tantos em tantos anos desde 1930, para estabelecermos uma data histórica.

A democracia entre nós não é um fim a ser atingido como símbolo maior da cidadania e da convivência social civilizada, mas tem sido antes de tudo, a cada nova geração, o terreno fértil onde os espertos aproveitam a liberdade que ela dá para conspirarem na defesa de seus interesses mais egoístas e mesquinhos para impor a ditadura da Casa Grande, a subserviência ao capital internacional e ao ridículo encantamento pelos bonecos da Disneylandia.

E pensar que uma associação de juristas brasileiros quer denunciar a Turquia pelo desrespeito à democracia ao pedir a prisão de juízes que apoiaram a tentativa de golpe lá. E aqui, senhores juízes, não vem ao caso?

É triste, mas é verdade.

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