Ideli Salvatti: “O povo brasileiro jamais aceitará outro golpe de Estado”

Tempo de leitura: 3 min

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Jango: a Exumação da História

Ideli Salvatti (*)

Em seu compromisso com a Democracia, o Brasil vem implementando medidas para garantir e promover os Direitos Humanos. Um dos principais eixos dessas ações é o resgate da memória e da verdade histórica do país, desvendando as graves violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura civil-militar iniciada com o Golpe de 1964.

É um desafio. Após meio século, a verdade histórica com frequência se encontra sepultada sob anos de desinformação e esquecimento forçado. É preciso exumá-la – literalmente, retirá-la do húmus, desenterrá-la, trazê-la à luz, como somente um regime democrático, marcado por sistemas de freios e contrapesos e ampla participação social em assuntos públicos, pode fazer.

Com esse objetivo, foram retomados neste ano os trabalhos de identificação das ossadas encontradas na Vala Clandestina de Perus e será divulgado o relatório final da Comissão Nacional da Verdade. São medidas fundamentais para que o povo brasileiro possa conhecer sua História – impedindo que regimes de exceção e arbítrio voltem a impor sua vontade sobre a dos cidadãos e cidadãs.

Também com o objetivo de trazer a história à luz foram exumados, em 2013, os restos mortais de João Goulart – deputado, ministro e Presidente da República deposto pelo Golpe de 1964. Além da necessidade de resgatar a verdade histórica, a exumação de Jango – único Chefe de Estado brasileiro a morrer no exílio – respondeu a pedido da família e a suspeitas que ele possa não ter morrido de causas naturais.

Para garantir a transparência e a independência das investigações, a perícia contou com a participação de renomados especialistas internacionais, além do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que tem larga experiência na área. E, para garantir o compromisso do Brasil com a preservação e o fortalecimento do Estado Democrático de Direito, o Congresso Nacional simbolicamente restituiu o mandato presidencial de Jango em dezembro passado.

Sempre soubemos das dificuldades técnicas de exumar e periciar os restos mortais de Jango, enterrado há 37 anos. Mas o resultado será anunciado nas próximas semanas e, seja qual for a conclusão, uma coisa é certa: após quase quatro décadas, a família Goulart e a sociedade brasileira terão uma resposta transparente e embasada sobre as circunstâncias da morte do ex-Presidente. Além de aplacar o sofrimento de quem até hoje não sabe como Jango se foi, tal resposta cumpre o dever do Estado Brasileiro de esclarecer a verdade sobre as sistemáticas violações que ocorreram no período de exceção.

A perícia sobre os restos de Jango poderá confirmar a tese da morte natural, indicar que o presidente foi assassinado ou mesmo ter resultado inconclusivo. Seja qual for o resultado imediato da investigação, entretanto, o resultado final do processo é certo: o fortalecimento da democracia e a reafirmação do direito que todo brasileiro e toda brasileira tem de conhecer sua própria história e a história de seu país.

Desta forma, o próprio processo investigatório sobre a morte de João Goulart, independentemente do resultado, resgata um capítulo da História do Brasil intencionalmente silenciado pela mordaça ditatorial. A esse capítulo se somam provas testemunhais e documentais de que ele foi monitorado enquanto vivia no exílio. E, enquanto os restos mortais do ex-Presidente podem ser reinumados, a verdade exumada permanecerá pública para sempre.

Essa é a vantagem e a força da democracia: permitir a aprendizagem e o constante aperfeiçoamento de instituições. Por isso, o povo brasileiro jamais aceitará outra ditadura. Por isso, o povo brasileiro jamais aceitará outro golpe de Estado.
 
(*) Ideli Salvatti é ministra dos Direitos Humanos

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Comentários

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Roberto

Ideli, desculpa-me o termo, mas você parece estar no País de Alice. Sem politização da sociedade brasileira é muito fácil cairmos em uma ditadura. Não que eu ache que haja condições para isso. O PT está há 12 anos na presidência da República porquê não tem ninguém otário ali, mas falta um trabalho sério e permanente de politização. Se não, nós veremos pessoas sairem como bestas dizendo que o PT tornará a América Latina uma República Bolivariana. Não há coisa mais idiota para se dizer. E sem politização cada vez mais gente pode embarcar nessa asneira e noutras parecidas, como vimos nesta eleição repletas de golpes aplicados pela direita e sua mídia facista.

Eduardo Lima

Olha só! Tem alguém acordado no PT! Mas quando o partido vai fazer algo efetivo contra o golpismo instalado? E o governo? Dá para ouvir os roncos do sono profundo! O governo precisa mostrar ação, enfrentamento político, enfim, governar. Estudar e apresentar um pacote de ações para garantir e ampliar as conquistas da Classe C. Reconquistando a Classe C, especialmente a do Centro-Sul, o apoio popular será tão forte que acaba esse golpismo que está no ar e a base política reduz as cobranças estridentes. Na série de textos abaixo há uma reflexão neste sentido. O que a Classe C precisa? Recomendo a leitura.

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR3.html

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR2.html

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR.html

FrancoAtirador

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O ‘Povo’ Ucraniano também não aceita Golpe de Estado.

Ã?!? Já houve e não avisaram? Não póde! Assim não dá!
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    FrancoAtirador

    .
    .
    O ‘Povo’ Paraguaio é outro que não aceita Golpe de Estado.

    Ã?!? O que foi que aconteceu com o Lugo? Assim não póde!
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    O ‘Povo’ Hondurenho… Ã?!? Zelayaram o Presidente? Mas Como?
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Cláudio

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* . . . . **** . . . . Lei de Mídias Já!!!! **** … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. **** … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

Francisco

“Um dos principais eixos dessas ações é o resgate da memória e da verdade histórica do país (…) foram retomados neste ano os trabalhos de identificação das ossadas encontradas na Vala Clandestina de Perus e será divulgado o relatório final da Comissão Nacional da Verdade”.

A intenção de Ideli é das melhores possíveis, mas… “ossadas”?

Ideli de Deus! Do pessoal que está fazendo o ENEM (o futuro do Brasil, os que futuramente “impedirão o golpe”), quantos sabem a que ossadas você se refere? Quantos acham um absurdo haver ossadas a exumar? Quantos acham que “eles bem mereceram, por se meter em confusão”?

Ô Ideli, Ideli, Ideli… A igrejinha da esquerda (deve) saber do que você está falando, Ideli. No entanto, esta democracia em que vivemos é povoada por 202 milhões de cidadãos, Ideli.

Um Lobão com mil e quinhentos destrambelhados tem maior possibilidade de formar gerações e imprimir “verdades” nas massas, querida! Porquê?

Que se exumem os cadáveres e se exumem as concessões de rádio e TV, Ideli!!! Ou seu trabalho será inglório, não reconhecido e, se duvidar, criminalizado!

O PT acabou com a fome no Brasil. O jovem? Não acredita. O que acredita? Não dá valor (“Não fez mais que a obrigação”, “Não era coisa difícil, com tanta terra!”). Principalmente não sabe como era antes…

O problema não é fazer é fazer saber.

Mauro Assis

A Comissão da Verdade federal trabalhou três anos, gastou uma grana e descobriu que o JK morreu de acidente de carro e também achou UM corpo que não havia sido ainda localizado.

E agora como clímax vai nos informar se o Jango foi envenenado ou não… então tá.

leo

Violação dos Direitos Humanos durante a ditadura? Tudo bem. E os tribunais de exceção dos grupos de esquerda? Alguém os reconhece e os investiga?

Infelizmente, essa Comissão Nacional da Verdade já foi apelidada de várias formas e, hoje, surjo com mais uma: “Comissão Imparcial da Verdade”.

Bom, e alguém sabe dos bilhões de reais dos cofres públicos que já foram pagos sob forma de anistia política, dinheiro que saiu do meu bolso sem que eu mesmo me lembre de qualquer desses acontecimentos da guerra velada que durou cerca de 20 anos?

E que história é essa de democracia, Ideli!? O grande Gabeira já foi bem categórico quanto a isso. Vocês não lutavam por uma democracia no Brasil, mas pela implantação de uma ditadura de esquerda.

    leo

    Quando digo “Comissão Imparcial da Verdade”, esqueci de dizer que se trata da verdade de quem hoje conta a história, ou seja, um precioso paradoxo temporal e ideológico.

Rodrigo

Eu não teria tanta certeza disso.

Leo V

Na boa, Comissão da Verdade com Exército ocupando bairro da classe trabalhadora, como na Maré no Rio, com os trabalhadores submetidos a tribunais militares? Em que mundo Ideli Salvatti está?
Certamente não no dos moradores da Maré.

Vamos lá, e a criminalização de ativistas e organizações políticas como se viu no período da Copa, e prossegue?
Com advogada tendo que pedir asilo político?

Que tal falar dos indígenas?

Ideli Salvatti tem ido muito mal da pasta, ou melhor, a pasta tem ido muito mal no governo Dilma, pois a opção dela é pela baioneta e não pelo respeito aos DH.

    Mauro Assis

    Onde tem trabalhador submetido a tribunal militar no Brasil, bicho?

    Leo V

    No Brasil…

    sob governo do PT.

    Se você não sabe sobre isso, joga um googe. Até or jornalões já noticiaram.

    Então é isso. Esse papo da Ideli Salvatti é de uma hipocrisia sem tamanho. Dá nos nervos.

Julio Silveira

Não sei não, me desculpe a rudeza e a sinceridade por expor o que eu já acredito politicamente. Passei a achar que a cidadania brasileira é corrupta e completamente impatriótica, e culturalmente manipulada para facilitar o atendimento aos interesses que sequer são deles. Enquanto tivermos no país leis que facilitem a inserção do caos, leis que não protejam rigorosamente a cultura democrática, como houveram leis que protegeram a ditadura com rigor e severidade, sei não, tudo fica sendo possível. E assim facilita a crença de que a democracia é uma casa da mãe Joana. A questão maior para mim, não é saber se o povo aceitaria ou não o golpe, mas impedir que sequer que sejam possíveis alguns populares, de qualquer nível social ter direito a pleitear isso. Permitir que isso seja possível, creditando isso, essa possibilidade, a direito causado pela força da estabilidade democrática, como fez a Dilma, pode ser um erro estratégico fenomenal, alem de um péssimo exemplo de conduta, na condução de uma cultura a ser definitivamente firmada no Brasil.

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