Fernando Brito, a Folha e Chacrinha: Vai para a cadeia ou não vai?

Tempo de leitura: 3 min

Folha trai seus “instintos mais primitivos” e lança o “Chacrinha prisional”

POR FERNANDO BRITO · 02/10/2017

A inclusão da pergunta, inédita em suas pesquisas, tinha endereço certo para o Datafolha: contrabalançar o que já sabiam ser o crescimento de Lula nas intenções de voto.

Então, criaram uma “estatística Chacrinha”: “vai para o trono ou não vai?” e um “vai pra cadeia ou não vai?”.

Ao melhor estilo do Coliseu romano, põe a decisão sobre vida e a liberdade de alguém na base ou “você acha” que Lula deveria ser preso? Por que não logo “executado”? Ficaria mais coerente com o tipo de linchamento proposto.

Gloriosos 54% acham que “deve prender” e é uma milagre que 40% digam que não, depois de anos de Jornal Nacional acusando Lula de ter roubado apartamento, aluguel, prédio, pedalinhos, bugigangas do gabinete presidencial e pirulito de criança.

Nem assim os dados deixam de revelar que há um ódio incontido da elite brasileira a um homem que nada dela tirou, senão seu mórbido prazer de ver os pobres serem tratados como uma “sub-raça”:

“O apoio à prisão do ex-presidente cresce conforme aumenta o grau de instrução (69% entre os que têm nível superior e 37% entre os com nível fundamental) e a renda familiar mensal (chega a 76% no grupo mais rico e a 42% no mais pobre) do entrevistado.”

Palmas ao Datafolha que cria um novo tipo de justiça no Brasil. Não se “vota” mais apenas para escolher pesssoas para governar, mas para decidir quem deve ser mandado apodrecer na cadeia, depois de julgado pelo tribunal da mídia.

Do jeito que as coisas andam selvagens neste país, acho que, numa pesquisa, até o goleiro do Flamengo seria mandado para a cadeia depois dos penaltis do jogo do Cruzeiro.

Não adianta, depois, fazer biquinho de liberal escandalizado se uma horda de fanático vai invadir e agredir os funcionários de um museu de arte. Se a mídia “treina” a opinião pública para ser pitbull de marombeiro não pode reclamar quando alguns saem mordendo.

Sugere-se, depois desta que a Folha chame o Alexandre Frota para seu conselho editorial. Pela linha de jornalismo estatístico, parece ter mais a contribuir do que os meninos de camisa de fino algodão.

Felizmente, neste país, por enquanto, ainda não temos “votação para linchamento” e – ainda – temos eleição para presidente.

E nessa, eles piram, Lula sobe cada vez mais.

É isso que eles não aceitam, não perdoam e não medem consequências – nem ditadura, nem conflito civil – para impedir.

Trecho do artigo do juiz Sergio Moro analisando positivamente a Operação Mãos Limpas, da Itália, sobre a importância do tribunal da opinião pública: 

A publicidade conferida às investigações teve o efeito salutar de alertar os investigados em potencial sobre o aumento da massa de informações nas mãos dos magistrados, favorecendo novas confissões e colaborações.

Mais importante: garantiu o apoio da opinião pública às ações judiciais, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem o trabalho dos magistrados, o que, como visto, foi de fato tentado.

Há sempre o risco de lesão indevida à honra do investigado ou acusado.

Cabe aqui, porém, o cuidado na desvelação de fatos relativos à investigação, e não a proibição abstrata de divulgação, pois a publicidade tem objetivos legítimos e que não podem ser alcançados por outros meios.

As prisões, confissões e a publicidade conferida às informações obtidas geraram um círculo virtuoso, consistindo na única explicação possível para a magnitude dos resultados obtidos pela operação mani pulite.

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Comentários

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Nelson

“As prisões, confissões e a publicidade conferida às informações obtidas geraram um círculo virtuoso […]”.

Sim, geraram um “círculo tão virtuoso” que acabou parindo … Sílvio Berlusconi.

É de cair o queixo, mas Moro é o juiz adorado por uma montoeira de gente que possui curso superior, pó-graduação, mestrado e até doutorado. Um montoeira de gente que se diz amante inveterada da democracia e que afirma que ditadura existe na Venezuela e em Cuba.

Gente altamente educada, mas, apenas formalmente, com uma capacidade de compreensão da vida e da política rala, muito rala.

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