Fátima Oliveira: Sobre políticos que agem como imperadores

Tempo de leitura: 3 min

povo brasileiro

O povo está cansado de políticos que agem como imperadores

Fátima Oliveira, em O TEMPO 
[email protected] @oliveirafatima_

Eu só vejo vantagens em eleições. Gosto da época do pleito desde criança. Cresci vendo a muvuca das eleições em minha casa, nos grotões do Maranhão, lá em Graça Aranha, onde papai foi vereador duas vezes. Já relatei como mamãe era terrível em dia de eleição! Relembrem:

“Mamãe recebia os caminhões, distribuía um papelzinho e levava o povo pra votar. Era o terror das seções eleitorais. Muito simpática, abordava mais mulheres, dizia: ‘Deixa ver se tá levando o papel certo’. Se não era dos candidatos dela, bradava: ‘Num é esse não! Pega o certo!’ E, de braço dado, ia com a pessoa até a entrada da seção. Boca de urna de 100%. Papai era dos mais votados.

“Ela sabia, certinho, os votos dele em cada urna! Dias antes, fazia serão escrevendo à mão os tais papeizinhos, acho que eram números, que no dia da eleição carregava dentro do sutiã. Ainda adora eleições, mas diz que hoje são sem graça. Tem razão. Impossível reproduzir a sua boca de urna. Adoro eleições porque insisto em sonhar”. (“Nas eleições, se não acredita, eu vou sonhar pra você ver”, O TEMPO, 20.4.2010).

O período eleitoral é momento singular da luta por mais democracia e cidadania e também de muitas esperanças… As pessoas estão sempre a desejar mais e mais daquilo que signifique algum conforto adicional em suas vidas, a exemplo de transporte público de qualidade, boas escolas, bom atendimento na assistência à saúde e tudo o mais que torne a vida mais digna.

O dito “povão” não exige nada de mais da Presidência da República, de governos de Estado nem de prefeitos, apenas aquilo a que tem direito. O outro lado da questão em tela é que os candidatos em geral demonstram não saber qual a função deles, uma vez eleitos. Por que será, hein?

Imagino que numa sociedade mais evoluída serão abolidas as tais propostas de programa de governo. Não sei como, mas deve haver um jeito! Algo tipo uma consulta popular sobre as necessidades mais prementes da população, e o resultado seria elencado como o programa daquela cidade, daquele Estado ou país. Ou seja, bem diferente do que hoje que a candidatura diz: “vou fazer, isso, aquilo etc.”.

Caberia às candidaturas demonstrar quem é mais confiável para executá-lo. Cada pessoa votaria em quem a convenceu de que seria o melhor para materializar aquelas demandas… Ah, e o compromisso de finalizar todas as obras de seu antecessor! Porque é costume abandonar obras públicas tão somente porque terminá-las significa avalizar o trabalho iniciado por outrem…

Depois de muito pensar e pensar, avalio que seria a única maneira de enterrarmos a ideia de quem se elege para o Executivo (Presidência da República, governo de Estado e prefeitura) acreditar que foi ungido para receber um cheque em branco da população e, uma vez aboletado no poder, faz o que bem lhe aprouver, como acontece hoje em dia. É que eleitos para o Executivo tendem a achar que são imperadores e se danam a fazer o que lhes dá na telha! Agem como donos do lugar e como se tudo devesse obedecer aos seus desejos pessoais. Chega a ser acintoso!

Tenho a impressão de que o cansaço que as pessoas demonstram em época de pedição de voto tem a ver com o tradicional comportamento de dono de quem ocupa os postos máximos do Executivo. É tão forte que muita gente se irrita e diz: “Tanto faz votar em qualquer um, porque são todos iguais depois de eleitos!”. Quem duvidar faça a sua própria experiência, dando-se ao trabalho de andar de ônibus e/ou de táxi para sentir o pulsar das ruas nas eleições: é de descrença e desânimo.

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Comentários

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Jandira Martins

Acertou na mosca. O problema centrl é que cada governador, prefeito ou presidente da República se acha do dono! É um absurdo, mas é assim que a coisa rola. Temos de mudar tal visão de governo e não adianta só reforma política porque até o PT se comporta do mesmíssimo jeito. Tal comportamento é um câncer social

Aline Pereira

O seu artigo desanca o status quo. E tudo o que você escreveu tem nome, chama-se Reforma Política, bem mais desenvolvida enquanto ideia do que a tal Reforma Política que vivem falando por aí. Também pensei muito sobre o que li. Estamos muito cansados e sem esperança.

mineiro

esses politicos imperadores sao imperadores e vao ser se nao mudar esse sistema podre, carcomido, ultrapassado , golpista, conservador e tudo mais. se nao tirar o poder das maos dos politicos e dos que vivem da politica vai ser assim ate o fim do mundo. nao adianta , eles podem fazer o que quiser e nunca vai acontecer alguma coisa contra essa corja. e nao adianta meio termo , que isso é carta fora do baralho. é igual a cbf , ou acaba com esse sistema criminoso ou fica do mesmo jeito e nao adianta chorar. o proprio lula ja se deu conta disso.

Romanelli

muito bem ..só faltou dizer qual seria a solução pa isso

Proposta:

– a assunção transparente de metas, e a cobrança por projetos e planos

– a responsabilização do faltante e mentiroso, o fim da IMPUNIDADE

– e democracia PARTICIPATIVA, não esta representativa, de mentirinha, tiririca, tudo com mais referendo e plebiscito…

qual seja, estamos muito longe de ver a coisa melhorar (54% dos candidatos sequer tem curso universitário ..e dos que tem, a maioria são de advogados)

Caracol

Ficou assim, Fátima, por causa de uma coisa chamada dinheiro. Você gosta de dinheiro? Pois é… eu também gosto, trabalho como um burro pra faturar algum, e isso pra sustentar a família, pra comprar comida, meu cigarrinho de palha, essas coisas.
O Henry Miller, escritor americano censurado pelas editoras comerciais e acadêmicas, escreveu uma vez um ensaio sobre dinheiro. Não que ele se interessasse pelo assunto, ele foi um duro a vida toda, mas é que Ezra Pound, aquele reacionário de merda, uma vez o provocou e lhe mandou um postal perguntando-lhe se ele não se interessava nunca por dinheiro. O Henry Miller pensou… pensou… e concluiu que ele realmente não se interessava por dinheiro. Aí, como ele era um gênio, escreveu um ensaio sobre dinheiro e o intitulou assim: “O Dinheiro e como isso se transformou nessa merda toda”.
O ensaio é genial, Fátima, além de gozadíssimo, e ele desanca com as pessoas que acumulam dinheiro como forma de adquirir “status” e poder, e afinal… tudo ilusório, pois todo mundo morre igual, seco e com a boca cheia de formiga. Você devia ler, pra entender melhor essas tuas perplexidades.
É claro que eu acho o dinheiro uma coisa muito útil, já pensou, eu ter que fazer escambo e trocar um quilo da farinha de mandioca que produzo por não sei quantos de meus cigarrinhos de palha? É rabo, né? Pois é. Mas ter que me conformar que o dinheiro corrompa os políticos dos quais você fala, que corrompa até uma coisa como o Futebol que era tão bonito e me deu tanta alegria durante a minha juventude… bom aí é demais, né? É um saco, isso.
Olha, faça como eu: assine o pedido que está correndo por aí para uma Reforma Política a favor do financiamento público de campanhas. Isso vai certamente melhorar as coisas, ao menos vai deslocar um pouco da influência do uso pernicioso do dinheiro. Certamente vai encorajar a gente muito boa que poderia estar lá no Congresso nos representando sem que para isso fossem obrigadas a arrumar dinheiro e depois ter que fazer merda pra pagar.
Pense nisso.

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