Loureiro: Dúvidas profundas sobre o futuro do petismo

Tempo de leitura: 3 min

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3 X 5 = 15?

5 de fevereiro de 2015

Por Eduardo Loureiro, no Página 13, via e-mail

Em 2003, Lula assumia a Presidência da República. Juntamente com as expectativas para um governo melhor, vinham os primeiros baldes de água gelada: anúncio da contra-reforma da Previdência, aumento dos juros e do superávit primário – e consequente redução dos níveis de renda e emprego.

Em 2005, houve eleição para Presidente da Câmara. Disputaram Luis Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães, pelo PT; Severino Cavalcanti e Jair Bolsonaro, pelo PP; e Luís Carlos Aleluia, pelo então PFL (atual DEM). A divisão entre as candidaturas petistas foi fatal. O desrespeito de Virgílio Guimarães pela escolha da bancada petista fez com que uma oportunidade para derrotar o governo petista fosse aberta. Severino Cavalcanti, numa aliança entre a oposição e o fisiologismo, foi ao segundo turno contra Greenhalgh e se elegeu presidente da Câmara.

Mais tarde, em junho daquele mesmo ano (a eleição à Câmara ocorrera em fevereiro), Roberto Jefferson denuncia um esquema de caixa 2 de campanha, que ele mesmo batizou de “mensalão”. O resto, é história.

Voltemos aos tempos atuais: em 2015, temos um ministro da Fazenda fiel aos mandamentos macroeconômicos ortodoxos e ao famoso “tripé da estabilidade”: câmbio flutuante, juros altos e superávit primário. Como resultado, aumento de 1,2% do superávit primário – não houve cortes orçamentários no ano passado para pagamentos de juros – e elevação da taxa SELIC em 0,5%.

No último domingo, 1º de fevereiro, o candidato à Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conhecido por seu fisiologismo e vínculo com o empresariado, foi eleito em primeiro turno, contra Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG). Uma cisão na frágil base – calcada somente no institucionalismo – do governo Dilma II.

Um famoso filósofo prussiano escreveu, certa vez, que a história acontece a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Não sei bem se podemos falar em repetição, uma vez que os problemas citados, em maior e menor grau, são recorrentes nos governos petistas, nos mais diversos níveis, desde 1995. Mas não se pode negar as sinistras semelhanças de 2003 e 2005 com 2015, bem como a imprevisível e explosiva mistura entre desorientação política e economia em compasso recessivo.

Além do mais, é importante ressaltar que a bancada petista de 2015 é menor e menos coesa politicamente que a de 2003 – embora a Reforma da Previdência tenha trazido importantes dissensos entre 2003 e 2005, incluindo diversas desfiliações. Além disso, Eduardo Cunha é mais articulado e possui maior sustentação empresarial que Severino Cavalcanti, e conquista a Presidência da Câmara de maneira mais folgada, na bancada mais reacionária desde 1964.

Também diferente de 2005, o país não apresenta crescimento econômico, tampouco melhora nas condições de emprego e renda da população (mesmo que ainda tímidas se comparadas ao período que se iniciaria em 2007). Além disso, já no começo de 2015, vive bombardeio semelhante da imprensa ao que se viu no processo pós- junho/2005.

Ou altera-se o rumo desta prosa, ou, dificilmente, teremos um desfecho diferente.

Cabe lembrar: em 2005, a militância foi fundamental para evitar que o processo de desgaste levasse Lula ao impeachment ou o PT e partidos aliados à derrota em 2006. A mesma militância que, de forma quase espontânea, elegeu Dilma em 2014, na eleição mais apertada do Brasil depois do fim do regime militar.

Boa parte desta militância já se manifestou profundamente decepcionada com os primeiros atos do governo Dilma, como a nomeação de seu ministério, as retiradas de direitos dos trabalhadores e as medidas econômicas contracionistas, interessantes somente ao mercado financeiro.

Estaria esta mesma militância disposta a receber mais um golpe, em troca de um futuro que se apresenta cada vez mais tenebroso? Ou a decepção – que leva a defecções à esquerda – e o oportunismo – à direita – serão a tônica do petismo daqui por diante?

Eduardo Loureiro é militante do PT e dirigente nacional da Articulação de Esquerda

Leia também:

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Comentários

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abolicionista

Eu tinha dúvidas, agora já superei. A luta é contra o capitalismo rastaquera e extrativista, escravocrata e medíocre desse violento entreposto comercial chamado Brasil, é contra a Casa Grande que sempre deu as cartas por aqui e contra a exploração da natureza, das gentes, das terras. No passado o PT já embarcou nessa luta, mas agora passou para o outro lado, não foi o primeiro a fazer isso. O PSDB também já foi o partido da esquerda moderada, até fazer um pacto com o PFL em nome dessa tal de governabilidade. Alguém ainda lembra desses tempos? O PT virou a casaca, fazer o quê? Ficar negando o óbvio ululante? Paciência, é continuar em frente com quem está ao nosso lado. Vamos parar com essa choradeira.

FrancoAtirador

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DILMA PAGA A CONTA PELO SILÊNCIO

A inflação não disparou, o desemprego não subiu.
Aprovação caiu 19 pontos porque, encerrada a campanha eleitoral,
Dilma emudeceu e debate político voltou ao controle da velha mídia

Não confrontou versões nem fez a disputa política —
condição para impedir que um mentira
repetida 1000 vezes se transforme em verdade.

Apesar da parcialidade dos meios de comunicação,
o governo tinha como responder aos ataques,
com bom espaço, no horário nobre.

Por Paulo Moreira Leite

Um mês depois do início do segundo mandato, Dilma Rousseff atinge um nível deprimente de impopularidade.

A queda nos índices de aprovação não é uma surpresa.
Mas é importante discutir o que está por trás disso.

Nossos analistas econômicos continuam anunciando um apocalipse que insiste em não mostrar sua cara — ao menos até agora.
O desemprego não aumentou. A inflação também não disparou.
Não há novidade na Operação Lava Jato, que segue seu curso de espetáculo midiático.

Vários fatores explicam a queda de Dilma e pode-se mesmo dizer que o governo federal vive uma situação semelhante à do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e à do prefeito da capital, Fernando Haddad.
Estes também caíram na aprovação do eleitor.

Para entender o que aconteceu com Dilma, porém, o ponto principal, na minha opinião, é a mudança no lugar do governo.

O último levantamento disponível, onde números de bom, ótimo, ruim e péssimos estavam praticamente invertidos, refletia a realidade política da campanha presidencial.

Os ataques eram violentos e diários — mas Dilma tinha o horário político para defender-se, para argumentar e fazer o contraponto.

Apesar da parcialidade dos meios de comunicação,
o governo tinha como responder aos ataques,
com bom espaço, no horário nobre.

Também participava de debates, onde era possível denunciar a falsidade de boa parte das críticas.

Encerrada a campanha, voltamos ao monopólio dos adversários, ao Manchetômetro nosso de cada dia.
Para ficar no Jornal Nacional, os números da última semana indicam 24 notícias contrárias para 9 neutras.

Outros fatores também pesaram, porém.

O governo não apenas não tinha o horário político para defender-se —
mas em nenhum momento empregou o espaço convencional que a presidência oferece
a quem está em palácio para dar explicações, argumentar ou responder.

Não confrontou versões nem fez a disputa política — condição para impedir que um mentira repetida 1000 vezes se transforme em verdade.

A queda de 19 pontos na categoria bom e ótimo é um movimento tão grande que expressa outro sinal.
Difícil negar que eleitores que garantiram a vitória de Dilma no segundo turno, num confronto polarizado de projetos políticos, ficaram decepcionados com aquilo que veio depois.
Hoje, diz o DataFolha, um total espantoso de 54% dizem que Dilma é “falsa” — número que chegava a 13%, anteriormente.

A nomeação de um ministro da Fazenda inteiramente identificado com as ideias adversárias já seria complicada em qualquer situação, em particular num país onde a credibilidade não é a virtude mais reconhecida entre os políticos e candidatos.

A novidade agravou-se porque a nova direção econômica veio acompanhada de medidas que, mesmo sendo justificáveis do ponto de vista técnico, são economicamente desvantajosas para os assalariados, que mais uma vez sentiram-se chamados, compulsoriamente, a pagar uma conta de ajuste que caiu no seu orçamento, poupando os ricos e endinheirados de qualquer sacrifício.

Como disse na época o professor Wanderley Guilherme dos Santos em entrevista:
o governo precisava ter explicado o que estava fazendo, por quê e para chegar aonde.

Disse Wanderley, em 16 de dezembro de 2014:

“Quem foi eleita prometendo idéias (e gente) novas para um governo novo, e suplicou o apoio ativo da esquerda na última semana da campanha – arrancada sem a qual teria perdido a eleição – não tem o direito de pedir silêncio quando surpreende a praticamente todos os setores da esquerda com suas indicações.
Não se trata de oposição radical aos nomes indicados, mas de expectativa de que sejam informados de qual trajetória a ser cumprida.
A indiferença do governo em relação ao espanto e reclamações de seus eleitores, ao lado de afagos a adversários de ontem, pode ser entendida como abuso de confiança.
O governo deve satisfações a quem o elegeu.”

(http://paulomoreiraleite.com/2015/02/08/o-silencio-derrubou-dilma/)
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    FrancoAtirador

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    Deu nisso, atender às Reivindicações da Mídia de Mercado.
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    FrancoAtirador

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    Urgente! Falta uma Ponte entre o Apelo e a Rua.

    Se o PT, a esquerda em geral,
    os movimentos sociais e o campo progressista
    não se entenderem a tempo de definir uma agenda comum,
    o juiz Moro o fará por eles.

    http://cartamaior.com.br/?/Editorial/Urgente-falta-uma-ponte-entre-o-apelo-e-a-rua/32828

    abolicionista

    Diz o vulgo que quem cala consente.

    Será que não estamos rezando pro santo errado, caro e sábio Franco?

    Não me pergunte qual o santo certo, que o meu conselho vai ser parar de rezar e incendiar a igreja, para que ela finalmente lance alguma luz sobre os fiéis.

Arlete M. FRADINHO

O que acho engraçado é:O partido que vence as eleições corre o perigo de desaparecer.Daquele que perdeu,ninguém fala nada.Onde estamos? Este blog já foi melhor.Que pena.

JorgeSP

ninguem sabe o futuro.
entao comecem a formar nucleos com amigos e conhecidos.
e a discutir o contexto atual.
e a se preparar para o que pode acontecer, de bom ou de mal.
mas tem que ser um nucleo real, nao virtual.
formar nucleos de pessoas reais.
e se preparar.

Brancaleone

“Verás que um filho teu não foge a luta” – Frase do aniversário do PT…

Sei não…

Acho que se gritar “pega ladrão!!!” em alguns setores petistas, não fica unzinho sequer, fogem todos – ou optam por delação premiada e que se danem os colegas (cúmplices…)

lulipe

Encontre uma bandeira do Brasil na foto e ganhe um prêmio!!!

    abolicionista

    Pelo menos isso, né Lulipe? Afinal, o nacionalismo já matou gente demais, né?

FrancoAtirador

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O que as Centrais Sindicais e a Esquerda
pretendem fazer diante da Destruição
do Último Impulso Industrializante
do Brasil no Século XXI?

Nada?!?

Então, viva Eduardo Cunha,
o Impoluto Novo Presidente da Câmara!

Sua Vitória assumiu Ares de uma Praça da Apoteose
do Coro Conservador, o mesmo que fuzila
a ‘Corrupção na Petrobras’
em Manchetes de Cinismo Garrafal,
sob o Silêncio dos que vão morrer com ela…
[…]
O pré-sal e o seu modelo de regulação soberana continuam a figurar como o grande bilhete premiado do desenvolvimento brasileiro em nosso tempo.

Se o corporativismo imobilizante, a exemplo do esquerdismo cego, ignorar as interações entre esse trunfo e a resistência ao modelo do arrocho que acossa o país, é porque, de fato, a seta do tempo se quebrou.

Pior que isso, talvez.

Mudou de direção.

E avança agora como um raio para reverter aquilo que a geração de 1953 tinha como guia inabalável: a consciência histórica de sua responsabilidade para fazer do desenvolvimento a construção coletiva de um povo, não uma prerrogativa dos mercados.

Saul Leblon, na Carta Maior

(http://cartamaior.com.br/?/Editorial/Petrobras-a-seta-do-tempo-se-quebrou-Desistimos-/32773)

FrancoAtirador

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O Governo deve aprender:

Não adianta bajular.

Essa é uma regra geral.

(Hora a Hora – Carta Maior)
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Edgar Rocha

Coação moral contra a militância descontente é tudo que se esperava de uma liderança petista nos moldes atuais. Agora, se a coisa ficar feia, a culpa é da militância, por que “a decepção – que leva a defecções à esquerda – e o oportunismo – à direita – serão a tônica do petismo daqui por diante”. Caso aconteça, quem vai pagar o pato por abandonar os tão heroicos bem intencionados líderes esquerdistas deste país vai ser o povo, a militância, os descontentes.

Que cara de pau! E que medo de ter de admitir no futuro que uma eventual derrocada do governo Dilma é culpa dos atalhos pegos pelo PT pra alcançar o poder. Isto mais dia, menos dia, iria acontecer.

Deveriam assumir de vez que se tornaram um partido como os outros, como disse Lula e parar de enganar os que historicamente acreditaram na competência política de um governo que abriu mão de quase tudo pra manter-se de pé nestes doze anos. E o que foi conseguido não foi devidamente amarrado que não se possa reverter, ou servir de moeda de troca. O quinhão do PT, infelizmente é o passado de glória que construíram como vencedores da História. Infelizmente, passado não é pano de chão, que se usa pra limpar lambanças do presente (ou do próprio passado e que estavam embaixo do tapete, ou não foram percebidas por serem vistas de perto). Deveriam desistir de vez dos antigos discursos, assim como fizeram com projetos. Foi por isso que o PMDB virou o que é hoje. Foi por isso que o novo encontrou seu caminho e surgiu o PT nos anos 80. Foi por admitir que não tem representatividade, que os setores excluídos da sociedade se uniram pra formar algo novo, que o PMDB não dava conta. Enquanto o PT insistir em coagir e apontar pra uma esperança de autoavaliação, não vai nascer algo capaz de aglutinar-se contra aquilo que, hoje o PT e seus aliados, na prática endossam.
Na Europa, surgiu o PODEMOS. Aqui, há necessidade de algo semelhante, capaz de representar um contraponto a este sistema político e suas representações. Se não surgir logo, receio que a direita ocupe este lugar antes. E o PT poderá se vangloriar à vontade do passado, pois não será mais que isto. Passado, somente. Tenho certeza de que, se isto ocorrer, veremos o verdadeiro lado para o qual pendem estas lideranças coercitivas que culpabilizam os descontentes.

Yacov

CALE-SE IDIOTA !!

‘ … não apresenta crescimento econômico, tampouco melhora nas condições de emprego e renda da população…”

QUE MERDA È ESSA !?! Em que mundo vc vive !! O BRASIL vive uma situação de PLENO EMPREGO, capice !?!? PLENO EMPREGO !!!! Saia às ruas, CRETINO, e veja o supermercados constantemente cheios, apesar da CRISE apregoada aos 4 ventos pelo PiG.

Vc é apenas um IDIOTA ou um MIDIOTA, meu camarada !?!?

presenta crescimento econômico, tampouco melhora nas condições de emprego e renda da população

    Karlo Brigante

    Onde assino?

    Alexandre maruca

    Fechar-se as criticas conduz a cegueira. Voce pode nao concordar com o ponto de vista, mas exponha seus argumentos, nao seu odio. De minha parte concordo com o texto. Ja passou, e muito, da hora de o
    PT acordar.

FrancoAtirador

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O PRENÚNCIO DA CATÁSTROFE SOCIAL

Enquanto a Esquerda (PT incluído) não admitir

que a Mídia-Empresa Fascista enfim triunfou,

e que só com um Renovado Movimento de Massa

poderá haver reversão deste quadro caótico,

infelizmente, o BraSil assistirá um retrocesso,

não de 12 anos, mas de uma Vida Inteira de Luta

por Democracia, Liberdade e, mais, por Civilidade.
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Gerson Carneiro

Somos soldados

Pedindo esmola

Quem é o inimigo?
Quem é você?

Quem é o inimigo?
Quem é você?

Quem é o inimigo?
Quem é você?

Quem é o inimigo?
Quem é você?

Soldados – Legião Urbana

    Jorge Moraes

    Sou mais o tempo da Legião Estrangeira, Espanha, aquelas coisas, Gerson.

    Contrariando o meu gosto musical, entretanto, pretendo assistir ou ouvir a Legião menos antiga.

    Quem sabe juntando-me ao inimigo (exagero, é claro! – Renato Russo e sua música “de acampamento”), não acabo me encontrando também?

    Mas gosto das coisas que escreve, Gerson.

    Um abraço!

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