Caroni: Há dois acordões em andamento — e ambos castigam os trabalhadores

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Os miseráveis é que vão pagar o pato

Golpe e transformismo, por que estamos perdendo?

por Gilson Caroni Filho, especial para o Viomundo

Há dois acordões se desenhando. Um para derrubar a presidente. Outro para mantê-la.

Pelo que sabemos — e não foi através da grande imprensa — nos dois casos, pra variar, o peso recairá sobre a classe trabalhadora.

É uma conjuntura muito difícil para fazer projeções. Pessoalmente, pedi asilo aos sonhos da minha geração. Mas não posso propô-los para os jovens de hoje, sob pena de estar oferecendo coisas que não existem mais. A história está nas mãos deles. Que escolham as memórias que guardarão para contar a seus filhos e netos.

O policlassismo dos governos petistas já dava sinais de esgotamento há algum tempo. O pragmatismo da governabilidade em curto prazo, que inviabiliza a mesma governabilidade em longo prazo, é um caminho sem volta.

Não se pode, em nome da estabilidade fiscal, rezar pela cartilha do fiscalismo do capital financeiro. O ciclo de distribuição sem reformas estruturais é facilmente revertido pela ofensiva conservadora.

Se os líderes petistas dispunham de alguma teoria sobre o capitalismo em uma sociedade periférica, seu destino, com certeza, foi a lata de lixo dos gabinetes palacianos.

Ninguém, no campo democrático-popular, esperava rupturas drásticas. Mas era perfeitamente possível, com o capital político acumulado, estabelecer alianças programáticas com forças conservadoras, empregando a mobilização dos movimentos sociais e segmentos expressivos da sociedade civil como fatores de contrapressão.

Bastava manter o projeto de retomada do desenvolvimento com resgate da soberania e revitalização do aparato estatal. A margem de manobra era pequena, mas existia.

É lícito supor que não faltasse massa crítica para saltos mais ousados. Ao incorporar o receituário neoliberal, o núcleo dirigente do PT condenou-se a reproduzir seu método de governabilidade.

Trocando um projeto de país por outro, de poder pelo poder, inviabilizou-se qualquer alteração na dinâmica institucional. Do realismo político ao pragmatismo fisiológico a distância é menor do que supunham os operadores ideológicos do transformismo.

Loteamento de cargos e uso do Orçamento não são, como se tornou consensual entre analistas, as opções que sobram a governos com maiorias instáveis.

As ”más companhias”, a quem se atribui a responsabilidade pela crise atual, são funcionais quando a promoção da cidadania é relegada a segundo plano. A reforma política se faz imperativa, mas ela, por si só, não produz a redenção republicana.

A raiz da corrupção está no modelo econômico escolhido. Na necessidade decorrente de ”requalificar a base”, na ânsia de se livrar do próprio passado para ingressar no campo conservador.

A desconstrução de discursos passados era o pressuposto para atualização de suas lideranças.

Ao afirmar, ainda no primeiro mandato que ”quando a gente é de oposição pode fazer bravata porque não vai fazer nada”, o presidente Lula deu a senha para que se entendesse o rumo tomado.

Os setores contemplados com as políticas adotadas falam por si. Michel Temer não é, portanto, uma aliança equivocada.

É a consequência inevitável de um governo que, no rastro dos juros estratosféricos, deu um cavalo-de-pau na sua própria origem. Quando o vice-presidente se oferece como fiador de um governo de salvação nacional, algo muito precioso para o coração militante se desmanchou no ar.

Na oposição, o PT foi o maior projeto de transformação política do país. No governo, combinou, como poucos, superávit primário e déficit programático. A escolha econômica é sempre uma opção ética. Eis a lição que a esquerda petista nunca deveria ter esquecido. E por isso está condenada a se reinventar.

Não é possível que não se tenha claro que estamos perdendo, e de goleada, a luta pela hegemonia. Não é crível que vejamos a direita demonstrar desenvoltura na luta de classes, enquanto ficarmos inertes à espera de uma conversão democrática das forças do capital.

É claro que não podemos ignorar os avanços promovidos pelas políticas inclusivas nestes últimos treze anos, mas, com a desconstrução incessante do capital simbólico de qualquer projeto de esquerda, o maior risco que corremos é a questão da desigualdade social perder importância na competição política.

P.S: Enquanto escrevia este artigo, recebi mensagem de uma querida aluna. Vejam o tipo de subjetividade que não podemos perder: Venho de uma família humilde. Hoje, alguns estão na faculdade graças ao governo do presidente Lula. Minha mãe saía para trabalhar e dividia um pacote de biscoito para que pudéssemos tomar o café da manhã. Trabalhava dia e noite para nos sustentar, sem sequer ter seus direitos garantidos. Quando chegava o fim de semana era festa porque eram dois dias em que ela ficava com a gente. Depois do governo que pensou nos pobres, nossa vida começou a mudar e hoje temos nossa casa própria, e temos certeza que se não houver golpe, haverá um futuro brilhante pela frente.

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Comentários

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Valmont

No momento em que a sociedade brasileira tendia a um consenso contra o monopólio dos meios de comunicação, sobreveio o golpe.
Se há algo que eu lamento profundamente é o fato de não existir em minha terra UMA mísera rádio, um jornal sequer, que não seja da direita conservadora.
Continuamos sem voz no espectro público do rádio e da TV. O coronelismo midiático se manteve intacto. O Pilar da Ditadura continua incólume.
O cartel da mídia, ao meu ver, principal agente do golpe que vemos se concretizar neste momento, será o grande vitorioso, para infelicidade do povo brasileiro.
Continuo na luta, sem baixar a cabeça, à espera de que esse erro deplorável seja um dia corrigido.

Tata

Tá loco, eu parei de ler outros blogs pois o ar estava contaminado com negatividade
e analises bobas e fraquinhas. Não sei o que esta acontecendo com a blogosfera.
Agora começou a previsão do futuro sombrio. Mais terrorismo do que a mídia nativa.

    Dimas J Trindade

    Realista na análise, utopico na ação. Sempre.

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