Jessé Souza: Classe média como tropa de choque dos ricos

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JESSE-SOUZA-SOCIOLOGO

Sugestão do Tiago Tambelli, no Facebook

Jessé Souza é autor, dentre outros, de A ralé brasileira: quem é e como viveOs batalhadores brasileiros: Nova classe média ou nova classe trabalhadora?

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FrancoAtirador

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Revisitando a História do Brasil:

A Primeira Vez aconteceu como Tragédia.

Mas quantas vezes se repetirá como Farsa?

São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005
Folha de S.Paulo

PLANO COLLOR: 15 ANOS DEPOIS

Ex-presidente relembra elaboração
e lançamento do Plano Collor
e diz que seu governo acabou
com a saída de Zélia

Há 15 anos, o país passava pela mais traumática hecatombe econômica desde o “encilhamento”, no alvorecer da República.

No primeiro dia de governo, o presidente Fernando Collor decretava o bloqueio de todos os depósitos que excedessem NCz$ 50 mil (cruzados novos), da conta corrente à poupança.
Foi além: impôs um IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras) de 15% sobre todos os ativos não-financeiros, como ouro e ações.

Nos meses que antecederam sua posse na Presidência da República, Collor havia conversado com inúmeros economistas sobre a maneira de debelar o processo inflacionário, que caminhava para uma hiperinflação.
De todos ouvia o alerta de que nada conseguiria se não conseguisse “reduzir a liqüidez”, o excesso de dinheiro na economia, que produzia uma espiral de preços.

As lembranças jorram na entrevista telefônica de mais de uma hora com o ex-presidente, concedida no domingo passado.
Derrotado nas últimas eleições para o governo de Alagoas, Collor dirige as Organizações Arnon de Mello.
Passa grande parte do tempo em Maceió,
mas vem freqüentemente a São Paulo.

Decisão do bloqueio

A decisão do bloqueio de cruzados foi tomada em uma reunião
na casa do ex-ministro Mário Henrique Simonsen, presentes Collor, Simonsen

e os economistas Daniel Dantas e André Lara Rezende, recorda-se ele.

A conversa sempre esbarrava na questão da liqüidez.

André era mais falante, Dantas, mais quieto, Simonsen observava.

Lá pelas tantas, Lara Rezende foi ao ponto:

“Presidente, sem conter drasticamente a liqüidez, não haverá como resolver esse problema!”.

Dantas reagiu: “André, o que você está sugerindo é politicamente inviável”.

Mais tímido que Dantas, embora mais loquaz naquelas circunstâncias, Lara Rezende concordou, mas sustentou que, tecnicamente, era o único caminho.

E pediu socorro a Simonsen. “Concorda, professor?”

Simonsen concordou, ressalvando os riscos políticos.

“Foi aí que me dei conta da inevitabilidade do choque na liqüidez”, recorda-se Collor, “mas ainda sem ter muito nítido em que consistiria.”

Na reunião, também não se entrou em detalhes.

Collor aproveitou para saber de Dantas qual o comportamento do mercado diante de medidas mais drásticas.

Dantas foi incisivo: “Presidente, o que o governo pensar em fazer o Mercado vai se antecipar. Nossa luta no Mercado é permanentemente contra o governo, é prever o movimento do governo e fazer antes”.

“Esse trecho da conversa deixou claro que, para derrubar o mercado, teria que se fazer algo que nem o mercado imaginasse que pudesse ser feito”, afirma Collor.

Quando se pensou no presidente do Banco Central, também não teve dúvidas: teria que ser alguém do próprio mercado, para poder enfrentá-lo.

Nos dias seguintes, a questão do “choque de liqüidez” ganhou corpo nas discussões internas, das quais participavam Collor, Zélia Cardoso de Mello, Antonio Kandir e Luiz Eduardo Assis.

E a idéia já era vitoriosa quando começaram as negociações com o PSDB para integrar o governo.

Collor procurou o então presidente do partido, senador André Franco Montoro.

As conversas prosperaram e foram reservados dois ministérios para o PSDB, o da Relações Exteriores, para o senador Fernando Henrique Cardoso, e o da Fazenda, para o deputado federal José Serra.

A indicação de Serra foi recebida com entusiasmo por Zélia.

Era seu conhecido e, segundo ela, o único dos economistas tucanos que aceitaria a idéia do choque, por inevitável.

O Ministério da Fazenda foi dotado de uma superestrutura.

De um lado, para evitar qualquer melindre de Serra pelo fato de pegar o barco andando.

De outro, porque haveria a necessidade de uma gerência severíssima no dia seguinte ao bloqueio.

“Quando Montoro telefonou, pediu desculpas e informou que a resistência do senador Mário Covas impediria o acordo. Ficamos com a broxa na mão”, recorda-se Collor.

Sua equipe era claramente insuficiente.

“Dava desespero ver o pouco que éramos”, disse ele.

Mas as pontes haviam sido queimadas e não haveria como recuar.

Chamou Zélia, então, e pediu-lhe que assumisse o recém-constituído Ministério da Economia, com sua estrutura reforçada.
Até então, o cargo reservado para ela era o de uma espécie de auditora, trabalhando na assessoria pessoal de Collor.

O passo seguinte foi a escolha do presidente do Banco Central.

Zélia sugeriu o nome de Ibrahim Éris, que foi prontamente acolhido pela equipe e sancionado por Collor.

Choque de liquidez
Ibrahim também acreditava que não havia saída fora do “choque de liqüidez”.

Mas o que significaria, na prática, esse “choque de liqüidez”?

Na hora do detalhamento é que se escancarou a bocarra do bloqueio de cruzados.

Meses antes da posse de Collor, tivera início um forte movimento de fuga de capitais rumo à caderneta de poupança.

Éris mostrou que o bloqueio teria que atingir a, até então, mais segura aplicação brasileira: a poupança.

Nos dias seguintes, houve forte movimento de transferência dos recursos da poupança para as contas correntes.

Não havia como deixá-las de fora.

As circunstâncias obrigavam um ‘estupro jurídico’.

Tomou-se a decisão, então, de estender o bloqueio às contas correntes, permitindo apenas um saldo máximo de NCz$ 50 mil na conta de cada um.

A decisão foi tomada 72 horas antes da posse.

Nem houve tempo de preparar o anúncio, e aí ocorreu o primeiro desastre:
o de comunicação.

Má comunicação
No final de semana, Collor saiu meio escondido do Palácio, em um helicóptero, e foi ter com o presidente José Sarney, no sítio São José do Pericumã.

Lá, pediu que o presidente, que saía, decretasse feriado bancário de 72 horas, a fim de lhe dar tempo de acalmar os mercados.
Sarney concordou sem perguntar o que pretendia fazer.

Na sexta, dia do anúncio do bloqueio, houve uma reunião prévia no Palácio do Planalto, presentes Zélia, Ibrahim, Kandir, alguns funcionários de segundo escalão, com 12 jornalistas da área econômica.

Foi um festival de confusões.

Alguns dos jornalistas saíram com a impressão de que, dali por diante, o governo confiscaria qualquer ganho futuro que superasse os NCz$ 50 mil mensais.

A própria Zélia tinha dificuldades imensas de explicar aspectos técnicos do plano, como o vetor para a inflação.

Os jornalistas saíram aturdidos, os de televisão começaram a transmitir sua perplexidade ao vivo.

Horas depois, começou a coletiva de imprensa, no salão do Ministério da Fazenda.

Foi outro horror.

Por seu estilo claro e professoral, Kandir foi o incumbido de explicar o plano e responder às perguntas aos jornalistas.

Todos estavam extremamente nervosos.

As explicações prosseguiram no período da tarde com outros assessores. Especialmente o economista Eduardo Teixeira, que se agregara ao grupo, mostrava-se muito tenso.

Quando os jornalistas levantavam casos hipotéticos
-idosos com problemas de saúde, precisando sacar o dinheiro,
e casos do gênero-, as respostas vinham carregadas de agressividade,
como se os dramas apresentados fossem irrelevantes perto do futuro do país.

Era puro nervosismo.

Mas, para a opinião pública, passou a impressão de supina arrogância.

Meses seguintes
Os meses seguintes foram dedicados, inicialmente, a administrar a liqüidez, permitindo a abertura de torneirinhas que irrigassem a economia.

Foi feito um duríssimo trabalho de ajuste fiscal, já que o déficit chegava a 10% do PIB, e deu-se início a um amplo processo de modernização institucional, com grandes desastres, como o da reforma administrativa.

A esse problema se somou um imprevisto, a demora em renegociar a moratória da dívida externa.
Esperava-se uma adesão rápida dos credores; as negociações levaram dois anos.

Foram completados com a ajuda do então presidente dos Estados Unidos, George Bush [I], e seu secretário do Tesouro, Nicholas Brady.

Graças à pressão de ambos, cessou a resistência dos irmãos Hart, do Texas, grandes investidores em títulos da dívida brasileira e que empreendiam feroz resistência na Justiça americana contra o plano.

O trabalho de Pedro Malan, negociador da dívida, foi relevante para completar o ciclo.
Mesmo assim, o acordo demorou além da conta, ampliando os efeitos negativos do bloqueio.

O governo Collor terminou antes do início da campanha do impeachment.

Foi quando a imprensa flagrou Zélia dançando o bolero “Besame Mucho” de rosto colado com o ministro da Justiça, Bernardo Cabral.

Crise deflagrada, Collor convocou ambos ao seu gabinete e espinafrou-os.

Falou de sua irresponsabilidade para com o país, para com o projeto de mudanças.

Zélia saiu do governo, levou sua turma e a energia de Collor.

Ele ficou como Sansão sem a cabeleira.

Zélia
A relação entre ambos só é explicável pela química emocional. Em um depoimento que colhi de Collor em 1994 e que não divulguei porque ele decidiu se lançar candidato à Presidência, ele próprio admitia que Zélia não compartilhava de suas idéias sobre o novo papel do Estado.

A idéia dela era transformar o BNDES em um imenso IRI (Instituto de Reconstrução Italiano) para participar do capital das empresas nacionais.

Foi a experiência de Collor com a burocracia pública, como executivo das Organizações Collor, como deputado e prefeito de Maceió que o convenceu de que o caminho seria a desburocratização e a redefinição do papel do Estado.

O que tinha Zélia, então, para se tornar o agente catalisador das ações de Collor, se não era grande intelectual nem sequer uma economista média e era uma gestora sofrível?

Collor explica que ela era muito segura nas decisões e, com sua equipe, contaminava-o com o entusiasmo jovem de quem queria mudar o país.

Collor é enfático ao afirmar que seu governo terminou com a saída de Zélia.

A nomeação de Marcílio Marques Moreira visou apenas acalmar os ‘Mercados’.

Estilo conservador, embaixador em Washington, negociador da dívida, conhecido da banca internacional, Marcílio deu início à visão financista da economia.

Dali até o impeachment, no final de 1992, Collor limitou-se a assistir impassível, dia após dia, o esgarçamento de seu governo.

Anos depois do impeachment, Lafayette Coutinho, ex-presidente do Banco do Brasil [no Governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB)], contou que negociou o apoio a Collor pessoalmente com Orestes Quércia e o governador paulista, Luiz Antonio Fleury.

Foi redigido um documento com as demandas de ambos, que Lafayette levou a Collor.

Semanas depois entrou no gabinete de Collor e o envelope permanecia ali, fechado.

O governo Collor entrou para a história pelo bloqueio dos cruzados, pelos esquemas PC Farias, Leopoldo Collor e Pedro Paulo Leoni,
pelas alianças com Wagner Canhedo, da Vasp,
com os irmãos Martinez, da rede CNT de televisão,
pela campanha do impeachment,
pela arrogância de uma equipe imatura
e pelo deslumbramento de seu séquito alagoano.

[…]
No final do governo, seu ministro Hélio Jaguaribe

pediu-lhe que ouvisse as propostas de seu genro, André Lara Rezende,

de um programa de estabilização.

Collor ouviu-o sozinho, sem a presença de Marcílio.

Lara Rezende apresentou-lhe um esboço do futuro Plano Real.
Dizia-lhe que as mudanças operadas nos últimos anos
na economia tornavam o plano viável.
Collor entusiasmou-se.
Mas seu tempo político já havia se esgotado.

(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1603200532.htm)
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Salet Rocha

É histórica a posição conservadora da classe média.Nos últimos dias de democracia no país, em 1964, a classe média coordenou-se e saiu às ruas nas principais cidades do país com palavras de ordem e faixas defendendo seus interesses. A maior e famosa faixa trazia : ” Com Deus,família e propriedade “, demonstrando o desejo de controlar os movimentos populares, os estudantes, professores, operários, sindicatos que desenvolviam lutas reivindicatórias em todo Brasil.Essas lutas se atendidas poderiam reduzir suas chances de chegar ao poder, ver suas ambições de ganhos financeiros e sociais usurpados. No entanto, as lutas que ocorriam eram por igualdade de direitos.

Cláudio

Muito interessante a entrevista. É exatamente isso o que é a classe média [brasileira]: tropa de choque dos endinheirados. Já no finalzinho da entrevista ele diz que “a falta de solidariedade social é o grande problema do Brasil e não a corrupção”, o eterno discurso fajuto da abominável classe média que está no poder em diversos pontos da estrutura organizacional brasileira.

Dilma, coração valente, força brasileira, garra desta gente.
Dilma, coração valente, nada nos segura pra seguir em frente
O que tá bom, vai continuar
O que não tá, a gente vai melhorar (2x)
Coração valente!
Com Dilma, a verdade vai vencer a mentira assim como a esperança já venceu o medo (em 2002 e 2006) e o amor já venceu o ódio (em 2010). ****:D:D . . . . ‘Tá chegando o Dia D: Dia De votar bem, para o Brasil continuar melhorando!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D . . . . Vote consciente e de forma unitária para o seu/nosso partido ter mais força política, com maioria segura. . . . . ****:L:L:D:D . . . . Lei de Mídias Já!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. ****:D:D … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …:L:L:D:D

Pedro dias

Adorei a entrevista.

ricardo

Corrupção como problema brasileiro? Só mesmo uma classe média “tola” para acreditar numa mentira dessas. Afinal, que relação pode haver entre a estrutura do capitalismo brasileiro e o comportamento das elites estatais junto às grandes empresas?

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