Thiago Novaes: A pressão para evitar o sistema aberto no rádio digital

Tempo de leitura: 4 min

Rádio Digital Mundial e a Comunicação Social no século XXI

por Thiago Novaes*, no Coletivo Digital, sugerido pelo Emerson Luis

“A tarefa da radiodifusão, como tudo, não se esgota ao transmitir informações. Além disso, tem que organizar a maneira de pedir informações, isto é, converter os informes dos governantes em resposta às perguntas dos governados. A radiodifusão tem que tornar possível o intercâmbio. Apenas ela pode organizar, em conjunto, as falas entre os ramos do comércio e os consumidores sobre a normalização dos artigos de consumo, os debates sobre altas de preço do pão, as disputas municipais. Se consideram que isso é utópico, eu lhes peço que reflitam sobre o porquê de ser utópico.
 Mas, seja o que for que o rádio trate de fazer, seu empenho deverá consistir em fazer frente àquela inconseqüência em que incorrem, tão ridiculamente, quase todas as instituições públicas.” (Teoria do Rádio, Bertold Brecht)

Faz mais de dois anos, um grupo de pesquisadores vem desenvolvendo pesquisa com o objetivo de subsidiar o governo brasileiro, radiodifusores e ouvintes sobre as possibilidades sócio-técnicas que o padrão DRM de rádio digital pode oferecer para a comunicação social. Vários documentos foram produzidos neste período, todos publicados na Internet [1][2][3], [4], [5], apontando para a imensa superioridade técnica do DRM.

Trata-se, resumidamente (DRM para imprensa), de um padrão aberto, regulamentado pela ITU, que funciona em todas as faixas de frequência, que possui o mesmo codec de áudio do Sistema Brasileiro de TV Digital, otimiza o uso do espectro, funciona em baixas potências e consome muito menos energia.

Pensado para ser um padrão global de interesse público, o DRM é o favorito de emissoras educativas e estatais de vários países, e aos poucos vai conquistando novos mercados, combinando desenvolvimento econômico ao social.

Essas características bastariam para eleger o DRM o padrão de rádio digital a ser adotado no país, como já o fizeram a Índia e a Rússia.

Porém, muito mais ainda é possível!

As transmissões digitais de rádio, assim como de tv, não se limitam ao transporte de sinais de áudio ou vídeo, mas se voltam mesmo para emissão de dados, fazendo das plataformas digitais que se utilizam da propagação eletromagnética terrestre e também Ionoférica, meios de comunicação de alta capacidade de fluxo de dados: no caso da TV Digital, estamos falando transmissões de taxas até 19MB/s, ou seja, capazes de viabilizar a transmissão de um filme duas horas de alta-definição em aproximadamente 25 minutos.

Mas o que esses dados querem dizer?

Quando se fala em Internet, serviços gratuitos como Facebook, Blogspot,  Gmail, Youtube, etc., geralmente se esquece que toda esta comunicação e acesso tão importantes ao cotidiano das sociedades pós-industriais, tudo isso depende de uma infra-estrutura que está fora do controle dos usuários, tais como as fibras óticas que garantem, com segurança, que cirurgias sejam realizadas à distância, ou como o endereçamento DNS, ainda concentrado em poucos países e grupos.

Com o Rádio Digital Mundial, pode-se não apenas transmitir áudios com qualidade de cd para o nosso e outros continentes, mas também arquivos, disponibilizando novos serviços, modificando radicalmente conceitos estabelecidos na era analógica, já que mesmo o audiovisual pode também ser transmitido via rádio digital, como no caso do serviço Diveemo, que consiste da transmissão de vídeo via rádio.

Se você leu este post até aqui e deu uma passeada pelos links, já pode imaginar, então, porque os monopólios da comunicação estão trabalhando para evitar ao máximo que o padrão DRM seja o escolhido pelo governo brasuca.

Ao invés do DRM, muitos empresários da comunicação preferem o padrão HD Rádio, propriedade da Ibiquity, padrão este que apesar de ter sido aprovado pela ITU, tem seu codec de áudio como uma “caixa-preta”, é segredo industrial da Ibiquity, funciona mal na faixa do AM, não atende às Ondas Curtas, não funciona bem em baixas potências, consome muito mais energia que seu concorrente DRM, além de não otimizar o uso do espectro.

Como estratégia para deslegitimar o DRM, proliferaram recentemente declarações dúbias, inclusive de membros do governo, realizando uma espécie de trocadilho, como a afirmação de Genildo Lins, de que “os testes com rádio digital não foram bons“.

O secretário de comunicação eletrônica do governo se refere, na verdade, apenas ao padrão que mantém os mesmos emissores de alta-potência, o HD, já que o DRM, além de funcionar em alta-potência, atende às baixas-potências, sendo o único padrão que funciona em todas as faixas de freqüências.

A proposta de adiamento da decisão sobre o padrão de rádio digital vem acompanhada de uma estratégia de se realizar a migração das rádios AM (na verdade, das emissoras AM em Ondas Médias) para o VHF, acabando com a faixa AM, visto que o HD Rádio teve desempenho insatisfatório na faixa do AM. Se o HD não funciona para as AM, acabemos com o AM, propõem as emissoras comerciais!

Paralelas à escolha do padrão, pesquisas vêm sendo realizadas no sentido de se aumentarem as possibilidades de comunicação utilizando o espectro, como proposto pela técnica FHSS, ou atentas à necessidade de Espectro Livre, como descreveu David Weinberg, autor também de “O Mito da Interferêcia no Espectro de Rádio“.

Juridicamente, vale à pena lembrar das recentes iniciativas dos governos da Argentina e Equador que, amparados em suas Constituições, promoveram a divisão do espectro em três, visando assegurar a complementariedade dos serviços privado, públicos e estatal de radiodifusão.

Se bem sucedida, esta política poderia ampliar enormemente o acesso do cidadão não apenas ao consumo plural de conteúdo, mas viabilizar a livre e diversa expressão das pessoas, através doEspectro Livre, sintonizando as possibilidade digitais com o Art XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ratificado no Art 13 do Pacto de San Jose da Costa Rica e presente na Carta Magna brasileira, em seu Art 5o.

Esperamos que este breve artigo sirva de referência para que cidadãos e cidadãs do Brasil, da América Latina e do mundo passem a tomar parte na definição do padrão tecnológico de rádio digital que vigorará em nossas sociedades nas próximas décadas.

Nosso interesse não é mais que promover o debate público, em defesa do interesse público, mas a força dos interesses privados parece novamente tentar se sobrepor ao que é melhor para todos. Contamos com você nesta luta!

*Thiago Novaes é Pesquisador em Telecomunicações, membro do Coletivo Rádio Muda – muda.radiolivre.org – e consultor do http://www.drm-brasil.org/.


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Comentários

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ARIOVALDO LOBRITO

SIMPLES , O HD RADIO AQUI NO BRASIL ÉRA UMA LICENÇA PARA A TELL-HD , CUJO DONO ÉRA OU É O ALEXANDRE CHAMBINHO , DETIDO NA LAVA JATO , O DIRETOR DA TELL-HD ERA O ENG RONALD BARBOSA , TAMBEM DIRETOR DA ABERT , JÁ NA SEQUENCIA O EX MINISTRO PAULO BERNARDO PUBLICAVA O DECRETO DA MIGRAÇÃO DO AM PARA FM , VEJAM TANTA COINCIDÊNCIA , O HD RADIO NÃO FUNCIONA BEM EM AM OU ONDA MEDIA E ONDA CURTA , SÓ FUNCIONA EM FM , DAI A MIGRAÇÃO , DETALHE OS RADIODIFUSORES NÃO FORAM INFORMADOS QUE A MIGRAÇÃO SERÁ SIMPLESMENTE PARA VENDER O HD RADIO AQUI NO BRASIL , ASSIM CRIANDO UMA SITUAÇÃO CONSTRANGEDORA , POIS QUEREM O HD RADIO NAS EMISSORAS FM COMERCIAIS , E O DRM PARA AS COMUNITÁRIAS , EDUCATIVAS E AS DE ONDA MEDIA QUE SOBREVIVEREM , POR OUTRO LADO O OUVINTE TERIA DE TER 2 RECEPTORES UM HD-RADIO E OUTRO DRM , SE A INVESTIGAÇÃO FOR FEITA MUITA FARINHA VAI VOAR PELO VENTILADOR , , QUEM VIVER VERÁ . ARI ..

João Damasceno.

Uma curiosidade: o que significa “dividir o espectro em três”? Significa que teríamos algo tipo o iboc no FM e o DRM operando no AM (AM = OM, OC e OT) é isso?? Daí se eu quero ouvir FM eu compro um rádio que só funcionará se possuir o chip iboc. Se eu quiser ouvir onda média, ou ondas curtas e tropicais, então eu compro outro rádio, esse com o chip DRM? É assim? Se for assim, não vejo grandes problemas nem na migração do AM para o FM e nem no FM operando com o iboc. Ou seja, compro meu rádio OC com DRM e não encherei os ouvidos com a bosta da programação hoje existente no AM e no FM.

    Lucio Haeser

    Não, João. Dividir em três significa destinar um terço do espectro às rádios comerciais, um terço às rádios estatais e um terço às rádios públicas (universitárias e comunitárias, basicamente). Foi o que fez a Argentina. Abraço.

Sandro Alex e o Rádio Digital no Brasil | Políticas Culturais de Comunicação Digital

[…] já comentado em outro post, “A pressão para evitar o sistema aberto de Rádio Digital“, parece-nos que a estratégia para tentar legitimar o HD Radio no Brasil começa pela […]

Flavio

Olá a todos,
Ainda não entendi porque o padrão DAB+ não foi citado nos testes.
Existe uma alternativa para transmitir nesse padrão, e é “simples”
http://opendigitalradio.org/Main_Page
Teste:
https://www.youtube.com/watch?v=S988mRwMyb8

Equipamentos mínimos para fazer um simples teste:
USRP B100
Computador com CPU 3GHZ

Roberto Vitor

SOU 100% A FAVOR A TECNOLOGIA DRM! E A MELHOR TECNOLOGIA DE RADIO DIGITAL E TRABALHA EM TODOS ESPECTRO DE FREQUENCIA DA RADIODIFUSAO, E O IBOC NEM SERVE PARA NEM PRA ENGRAXAR O SAPATO DOS TECNICOS DA DRM,O IBOC COBRAR ROYATES E AM ESSA TECNOLOGIA TOSCA DEIXAR A DESEJAR!

carlos alberto martins

Estou com uma duvida, por que o sinal de áudio daquelas emissoras na extinta banda sw, não existem mais ? emissoras que antes poderiam ser sintonizadas na frequência sw de radio do mexico algumas da Alemanha , frança e estados unidos praticamente sumiram ou ainda existem só que mais fracas.

    João Damasceno.

    Carlos, boa noite. Ainda existem transmissões em ondas curtas, seja aqui no Brasil, seja no exterior, sendo possível ouvi-las aqui no Brasil. De fato muitas emissoras de ondas curtas fecharam devido a baixa audiência, motivada, em parte, pelo uso de rádio emissoras virtuais, ou seja, Internet, seja pela dificuldade de se adquirir bons receptores para sintonizar adequadamente as OC. Mas repito, tem ainda muita coisa pra ouvir nas OC sim. Com uma boa antena Long Wire, é cercerteza de uma excelente captação estações diversas. Bem, pois tudo de bom e viva o DRM…!!!

FrancoAtirador

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HOMENAGEM AO GÊNIO CIENTÍFICO BRASILEIRO

LUIZ FERNANDO GOMES SOARES e GUIDO LEMOS

Engenheiros da computação que desenvolveram o GINGA (http://www.ginga.org.br/pt-br), plataforma que gerencia as funções interativas da TV digital no Brasil e deverá ser adotada por outros países do mundo.
É um produto nacional, desenvolvido em plataforma aberta, com disponibilização de softwares livre de direito autoral, o que permite uma produção mais barata e colaborativa.
O GINGA foi desenvolvido pelo Laboratório TeleMídia da PUC-Rio em parceria com o LAVID Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Além disso, conta com a colaboração de mais de dez mil pessoas trabalhando em rede para seu desenvolvimento contínuo.
Já foi adotado como padrão pelo Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTD) e em mais 10 países, além de ser a tecnologia adotada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT).

“Não criamos o GINGA pra ser um monopólio do Brasil,
mas sim pra universalizar o conhecimento”
(Luiz Fernando Gomes Soares e Guido Lemos)

(http://www.youtube.com/watch?v=6V34IM4SY1Y)

http://www.drm-brasil.org/pt-br/content/o-r%C3%A1dio-brasileiro-completa-90-anos-e-o-drm-brasil-apresenta-o-drmb-o-drm-brasileiro

Thiago Novaes

Conselho nega o uso do DAB para o serviço público
http://digitalradioinsider.blogspot.in/2013/01/council-objects-to-dab.html

Council objects to DAB for public service

In a Swedish government consultation the Public Service Council has objected to a commission proposal to support the public service company – Sveriges Radio (SR) – to go DAB with state funding.

The council says that the FM radio is a world standard while DAB is a marginal technology used in a limited number of countries mainly in the richest part of Western Europe. (…)

Cláudio Pereira

Das falácias e das respostas a elas.

“Caro Cláudio, lamento dizer isto mas “nojeira” é a sua ignorância no assunto:” Sua opinião, não concordo, só lamento.

1 – “1. a forma de funcionamento dos dois sistemas é completamente diferente;” Não é. Você mente. Descaradamente. O conceito é o mesmo. E, atualmente, os dois sistemas se “igualaram” tanto que é difícil saber qual é pior. E os dois “estragam” o som do AM ou do FM analógico e causam interferência entre emissoras – e até da emissora nela mesma. Não esconda os testes internacionais, não seja cafajeste.

1- “2. 3 fabricantes de transmissores do Brasil já estão produzindo transmissores em DRM, entre em contato e pergunte diretamente se pagaram alguma licença (BT, Digicast e Teletronix);” Não pagaram porque são experimentais. Estão utilizando excitadores DRM imnportados. Vi, pessoalmente, na SET do ano passado. Mente você.

2 – “3. os sistemas são híbridos porque esta é a real necessidade do rádio. Não tem como trabalhar com um sistema puramente digital em um país com 9500 emissoras de rádio, nunca aconteceria a transição;” De onde tirou isso? O ISDB-T, para TV, não é híbrido e a transição está sendo feita em nenhum problema. A tecnologia atual (atual significando mais de dez anos atrás) já permite que essa “transição” passe despercebida. E, QUALQUER que seja o sistema de rádio digital a ser adotado, ele só será recebido por receptores NOVOS, fabricados APÓS a escolha do sistema. E nessas 9500 emissoras devem estar incluídas as comunitárias. Que irão desaparecer, não conseguirão arcar com os custos de instalação dessa tecnologia híbrida, analógica-digital.

3 – “4. os testes foram ótimos – o DRM atingiu 70% da área de cobertura do analógico utilizando 4% da potência.” Foram tão ruis que o MINICOM não aprovou os testes nem do HD-RADIO nem do DRM e postergou a decisão sobre que sistema adotar.

4 – “5. o DRM é aberto e pode ser transformado no sistema brasileiro.” O mesmo diz, atualmente a Ibiquity do Brasil. Assim como diz que o HD-RADIO pode (e pode, está na proposta original) ser puramente digital e funcionar em qualquer faixa (esta última afirmação NÃO está na proposta original da Ibiquity para o HD-RADIO). Acreditar em quem?

4 – “5…..Partir para um desenvolvimento nacional “do zero” seria uma sandice. Toda a indústria brasileira de radiodifusão está a favor do DRM por que já visualizou isto.” De novo, de onde tirou isso? A quase totalidade dos donos de emissoras não tem a menor ideia nem de como funciona um ou outro sistema. E é só a indústria que escolhe um padrão? Viramos ditadores? Isso é ser “aberto”? Mais: não é partir do “zero”: O ISDB-Tsb existe, um sistema de rádio digital puro, funciona no Japão e o Brasil tem parceria com o governo japonês no ISDB, cerne de todo o conceito. Mais ainda: Em 2004 (lá se vão oito anos), em um seminário da ABERT, questionado pelo Secretário do Ministério das Comunicações sobre qual pensava deveria ser o sistema de rádio digital escolhido pelo Brasil, respondi: um desenvolvido aqui, levando em consideração as características do país e do rádio aqui praticado. Se associações de emissoras e fabricantes ficaram brigando entre HD-RADIO e DRM, culpa de vocês, idiotice de vocês, que conseguiram atrasar em pelo menos 12 anos a implantação do rádio digital no Brasil e, com isso, muito provavelmente, perderam uma geração inteira que não sabe mais o que é rádio. Agradeçam ao Major Edwin Armstrong a invenção do FM análogo, agradeçam ao fabricantes de celulares “xing-ling” a incorporação de receptores de FM nesses celulares – lembre-se, estulto, até pouco tempo o iPHONE não tinha receptor de FM – agradeçam às emissoras que transmitem esportes e notícias terem migrado para o FM e à verdadeira paixão que o brasileiro nutre pelo futebol a audiência que o rádio ainda tem em boa faixa da população. Música, meu caro, os jovens ouvem em arquivos de MP3 ou “stream”.

5 – “6. voce como radialista deveria saber que a única chance do rádio se desenvolver no Brasil, aumentando sua remuneração e conhecimento é através da digitalização. Só assim, nós profissionais do meio, poderemos crescer profissionalmente, valorizar nosso trabalho e aumentar nosso conhecimento.” Eu digo isso desde 2000. Novamente, a briga intestina, o “jabá” que deve ter corrido firme na tentativa de imposição do HD-RADIO dos EUA aqui (colonizados que somos….) e que pode estar correndo na tentativa de impor o DRM (colonizados que somos…) atrasou, volto a repetir, por 16 ou infinitos anos a adoção COM SUCESSO do rádio digital no Brasil. Se HD-RADIO, se DRM, não vai funcionar. Os testes, repetidas vezes, mostraram isso. Se ainda em dúvida a respeito, vá para o Instituto Mackenzie e pergunte ao brilhante Doutor Gunnar o que ele acha dessas duas tranqueiras (que, sabiamente, o Helio Costa optou por não escolher).

6 – “7. e para finalizar: o HD é monopolista, um sistema proprietário de uma única empresa, a Ibiquity. Quem é o dono do DRM? Não tem. É um sistema aberto e livre, divulgado por um consórcio que é sustentado por mais de 100 organizações.” Sim, as mesmas organizações que sustentam o HD-RADIO. Estão todas lá. Ou você acha que o capitalismo, o neo-capitalismo, tem moral e joga para perder.

7 – “Portanto caro Cláudio, estude mais e escreva com mais conhecimento e menos emoção.” Eu não. Já estudei demais, já me emocionei demais, estou em rádio há muito tempo para poder, baseado na história de como a radiodifusão (que é algo bem diferente de “rádio”), seja como meio de transmissão, seja como conteúdo transmitido, se formou e se transformou (participei ativamente na formação e transformação da radiodifusão brasileira) para ter plena consciência de que ela é a mais bela das artes, a mais eficiente e segura de maneira de difusão ponto/multiponto mas que, devido à incompetência com que é gerida, está destinada ao fracasso por aqui. Tanto que estou me dedicando mesmo é a cortar músicas em policarbonato, mono, análogo, para os DJs tocarem mixagens personalizadas nas baladas da vida, em aparelhos de última geração conhecidos como “turntables”, também conhecidos como toca-discos, uma das mais recentes “novidades” em “pureza e punch” em som (R$ 150,00 um Lp, relançamento, na FNAC ou similares. Adoro esse capitalismo selvagem.) Já fiz meu trabalho em rádio. Todos os meus deveres de casa. Vocês ficaram “brigando no recreio da escola”. Deu no que deu, dará no que dará. E eu não voltarei ao assunto. Nem para incluir o avanço muito bem sucedido do rádio DAB e DAB+ em muitos países ao redor do mundo (DAB esse, também puramente digital) Quem quiser saber mais, que vá ler a trilogia do Erick Barknouw ou o “Empire of the air” do Tom Lewis. Parafraseando o Lula, não sou Armstrong, não vou me suicidar, me jogando de um prédio, porque o Sarnoff, para prejuízo de todo o rádio e para dar frente à TV, detonou o FM em 1945. Fuiz.

    Rafael Diniz

    Vamos lá Cláudio, vou responder uma-a-uma, mas fica claro para todos que estamos participando do Conselho Consultivo do Rádio Digital que você realmente não está envolvido na discussão e tem um conhecimento bastante superficial de ambos os padrões, tanto tecnicamente quando relacionado à licenciamento. Você somente reproduz os lugares comuns relacionados ao Rádio Digital, muitas vezes reproduzido pela Abert, por exemplo.

    1 – Essa é uma questão complexa, se estivermos falando da modulação dos dois padrões, ambos usam OFDM, assim como o ISDB-Tb, celular 4G, etc.. Nesse ponto são iguais, no entanto existe muito mais características além disso, por exemplo como você modula suas portadoras (QAM4, QAM64, …), distância entre elas, flexibilidade de configurações, códigos de correção de erro, além dos serviços em si, como o codec de áudio, que no DRM é o conhecido AAC da TV Digital, padrão MPEG-4, e no HD Radio é o HDC, um codec que é segredo industrial. Estragam o AM ou FM? Isso depende do afastamentos do sinal digital do analógico e da potencia do sinal digital. Na última reunião do Conselho sugeri colocarmos o sinal DRM digital em outra banda (canais 5 e 6), dessa forma o problema da interferência do analógico no digital simplesmente deixa de existir. Outra coisa, você provavelmente não leu os relatórios dos testes, pois se tivesse lido teria visto que o problema da interferência do digital no analógico não foi uma questão problemática. Com relação à interferência entre emissoras, tudo depende de um bom planejamento do espectro, coisa que o DRM por ocupar menor banda e ter independência de transmissão com relação ao sinal analógico, é muito melhor que o HD Radio.

    1 – Você está errado denovo, desculpe-me. Essas empresas brasileiras quando venderem um transmissor DRM o valor dos royalties está embutido no valor do ContentServer OEM, que no caso das empresas que citamos é a Digidia, diferente do HD Radio que você paga uma licença para desenvolver um produto HD. Já existem desenvolvimentos no Brasil de ContentServers DRM nacionais também, pela Avantel e SDR Telecom, por exemplo.

    2 – O DRM é uma tecnologia aberta e pensanda para ter baixos custos, não é a toa que a AMARC – Associação Mundial de Rádios Comunitárias apóia o DRM. Com relação ao simulcast em canal adjacente, isso não é uma questão fechada. Se você fosse às reuniões do Conselho seria muito bom pois esses seus pré-conceitos iriam por água abaixo.

    3 – O Genildo falou isso da boca para fora, quem leu os testes, participou das medições e está participando da discussão sabe muito bem que não foi isso que aconteceu… O governo talvez faça mais testes para deixar os dois sistemas com parâmetros _exatamente_ iguais nos testes. Mas sabemos que existe interesse político aí… e só os mais ingênuos acreditam em tudo que é dito…

    4 – Primeiro, o Vice-presidente do HD Radio, o sr. Struble afirmou na reunião do Conselho que o codec do HD é segredo industrial. Nunca foram feitos testes com o HD Radio no seu modo “full-digital” na faixa do VHF, de acordo com o próprio Ronald Barbosa, afirmação dita na 4a reunião do Conselho. O DRM é aberto, e isso é um fato, e ele não tem o modo híbrido, o DRM sempre é “full-digital” sendo seu sinal independente do analógico. Acreditar em quem? Que tal nos documentos oficiais da ITU, da ETSI e NRSC? Você já os leu?

    4 – O DRM funciona muito bem e usa o estado da arte de modulação digital e codecs de áudio. Se quiser propor algo melhor, proponha.

    5 – O Dr. Gunnar só testou o HD Radio, que de fato é um padrão muito ruim. Você leu o resultado dos testes? Já falou com o Dr. Flávio Ferreira Lima? Por favor fale com engenheiros que já trabalharam com o DRM.

    6 – Bom, o DRM é um Consórcio, aberto com filiação aberta. Os royalties são publicados e cobrados de forma isonômica por uma empresa especializada chamada Via Licensing. O HD não tem os royalties publicados e cobra valores diferentes para diferentes mercados e empresas. Pelo falo de possuir segredos industriais, certas tecnologias do HD só podem ser compradas através da Ibiquity/TellHD. Isso se chama monopólio. Com o DRM, várias empresas e institutos de pesquisa dominam 100% da tecnlogia.

    7 – O DAB é um sistema desenvolvido nos 80’s e 90’s que mesmo na Europa não decolou, além de utilizar um esquema de transmissão em multiplex na qual as emissoras são transmitidas todos pelo mesmo transmissor. O Canadá e Portugal, por exemplo, desistiram do DAB. Existem países como a França que está indo para uma solução DAB + DRM, visto que o DAB não atende rádios de baixa potência e regiões pouco povoadas. O DRM é um sistema 100% digital, que independende do analógico.

    Vejo que o sr. quer contribuir mas tem informações sobre o assunto provenientes de fontes não confiáveis. Sugiro participar do Conselho Consultivo do Rádio Digital, que é aberto, e da lista de discussões do DRM-Brasil, onde poderemos tirar suas dúvidas a respeito do DRM.

    Atenciosamente,
    Rafael Diniz
    Presidente DRM-Brasil

    FrancoAtirador

    .
    .
    Prezado Rafael Diniz.

    Li algumas críticas suas ao ISDB-Tsb, no post: (http://arturoilha.com.br/isdb-tsb-radio-digital-em-convergencia-com-tv-digital/).

    Você poderia discorrer mais sobre o assunto, especialmente no que se refere aos seguintes pontos:

    1) O ISDB-Tsb não atende a alguns pontos da portaria que estabelece o SBRD (otimização do espectro, funcionar nas bandas de radiodifusão, etc);

    2) O ISDB-Tsb não daria certo no Brasil por um simples ponto:
    a necessidade das rádios se agruparem em multiplex centralizado e compartilhado;

    3) O custo para se ter um multiplex ISDB-Tsb é muito superior ao DRM;

    4) O ISDB-Tsb inviabilizaria as emissoras de baixa potência, como rádios comunitárias (25W), porque essas rádios jamais terão chance de entrar num multiplex DAB tocado pela iniciativa privada ou pelo Estado;

    5) Os receptores One-Seg só recebem o segmento central do ISDB-Tsb, não
    seria possível usar os receptores One-Seg já existentes para receber um “13-segmentos” ou “3-segmentos” do ISDB-Tsb;

    6) Usar SFN (single-frequency network = rede de frequência única) é difícil e caro, mas para as emissoras que precisem usar essa configuração de transmissão, tanto o DRM quanto o HD Radio também permitem configuração em SFN;

    7) Pode-se colocar o Ginga em qualquer padrão de rádio digital,
    não só no ISDB-Tsb. É só uma questão de normatização.
    .
    .
    Operador de rede para transmissão (Multiplex Service):

Urbanos

Em relação à maioria do que existe no Brasil, o da Madame Curie era menos danoso…

Eurico

Para um governo que foi tão rápido em tentar (foi rejeitado pela outra parte) contratar um projeto de educação norteamericano (Salman Khan), menosprezando as centenas de iniciativas totalmente livres que já temos em solo nacional, não seria de se estranhar que mais uma vez capitule diante da força do dinheiro e das falcatruas do setor privado nacional desnacionalizado. Se a Dilma acabar com a pobreza extrema no Brasil, acabará com o único motivo que ainda me leva a apoiá-la.

    Bruno Leite

    Boa!

Cláudio Pereira

Como radialista, técnico, fico impressionado ao ler um artigo desses, onde se procura demonstrar que existem enormes diferenças entre o HD-RADIO e o DRM. Os dois sistemas são péssimos. O DRM, que de livre só tem que as emissoras não precisam pagar uma licença para utilizá-lo (os fabricantes pagam licenças, sim), começou como um sistema puramente digital para transmissão em Ondas Curtas e acabou se tornando um clone do HD-RADIO americano, híbrido (HD vem de Hybrid Digital, quer dizer, digital e análogo juntos) e tem todos os problemas que o HD-RADIO apresenta. Todos. Por isso, tantos os testes do HD-RADIO como do DRM foram tão ruins. Todas as multinacionais que fabricam equipamentos de HD-RADIO também fabricam de DRM. É a mesma nojeira, ambos caros e pouco eficientes de instalar. O que deveria ser perseguido e conquistado é um sistema BRASILEIRO de rádio digital. Mesmo que com um país parceiro internacional. Coisa que o Brasil fez muito bem com o Japão, desenvolvendo, conjuntamente, o ISDB-T, padrão nipo/brasileiro de TV digital – e que já está exportado e em funcionamento na maioria dos países da América do Sul. E EXISTE o ISDB-Tsb, que é o padrão JAPONÊS de rádio digital. Perfeitamente adaptável para o Brasil e, com certeza, digno do mesmo tipo de parceria. Esse sim é um sistema puramente digital, de baixo custo de instalação, grande eficiência, excelente custo benefício. Em suma, nada pior do que ver uma tecnologia monopolista e de baixa qualidade, como é o HD-RADIO, dos EUA, sendo desqualificado para que se defenda um sistema também monopolista e de baixa qualidade, caso do DRM, apenas uma tentativa de resposta europeia aos EUA, em detrimento da busca de um sistema de rádio digital que leve em consideração as reais necessidades do Brasil e traga para o país as vantagens que uma tecnologia puramente digital, com desenvolvimento e fabricação nacionais, podem significar.

    Miranda

    Otimo contraponto Claudio. Importante esse tipo de resposta para a gente ampliar o conhecimento de detalhes tecnicos e termos base para opinar.

    Marcelo Goedert

    Caro Cláudio, lamento dizer isto mas “nojeira” é a sua ignorância no assunto:
    1. a forma de funcionamento dos dois sistemas é completamente diferente;
    2. 3 fabricantes de transmissores do Brasil já estão produzindo transmissores em DRM, entre em contato e pergunte diretamente se pagaram alguma licença (BT, Digicast e Teletronix);
    3. os sistemas são híbridos porque esta é a real necessidade do rádio. Não tem como trabalhar com um sistema puramente digital em um país com 9500 emissoras de rádio, nunca aconteceria a transição;
    4. os testes foram ótimos – o DRM atingiu 70% da área de cobertura do analógico utilizando 4% da potência
    5. o DRM é aberto e pode ser transformado no sistema brasileiro. Partir para um desenvolvimento nacional “do zero” seria uma sandice. Toda a indústria brasileira de radiodifusão está a favor do DRM por que já visualizou isto.
    6. voce como radialista deveria saber que a única chance do rádio se desenvolver no Brasil, aumentando sua remuneração e conhecimento é através da digitalização. Só assim, nós profissionais do meio, poderemos crescer profissionalmente, valorizar nosso trabalho e aumentar nosso conhecimento.
    7. e para finalizar: o HD é monopolista, um sistema proprietário de uma única empresa, a Ibiquity. Quem é o dono do DRM? Não tem. É um sistema aberto e livre, divulgado por um consórcio que é sustentado por mais de 100 organizações.
    Portanto caro Cláudio, estude mais e escreva com mais conhecimento e menos emoção.
    Marcelo Goedert – Representante do Consórcio DRM no Brasil

Willian

O capitalismo é fantástico. Num outro sistema econômico, coisas como estas nunca apareceriam. Pra quê?, diriam os planificadores da economia.

renato

Apenas palavras!
Em Jornalismo.
O confio demais nas palavras que só o rádio consegue
produzir, torna as palavras mais verdadeiras, mais suaves
ao ouvido, mesmo que sejam enfáticas.
Necessita inteligência para pronuncia-las e demonstrar o
sentimento embutido na notícia. Tem que ser um ser Humano
a falar. E se elas forem falsas, mais fácil será de identifica-las
Não estarão escondidas por detrás, de sorrisos maliciosos ou olhares
estupefatos, ou rusgas no rosto.Apenas a voz, clara e limpa.
Se não forem, não serão ouvidos!
Por isto, adoro a Voz do Brasil.
Parabéns a quem faz Rádio neste país.

J Souza

Tudo feito muito “silenciosamente”, para que os intermediários, donos do capital, continuem lucrando muito, enquanto os verdadeiros produtores de conteúdo, no caso os artistas e os jornalistas, continuem sendo explorados.

Patrick

Onde a gente consegue adquirir um aparelho receptor para as transmissões teste da BBC como as mostradas no sítio da DRM-Brasil?

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