Emir Sader: Riqueza sem limite dos agentes de jogadores falirá clubes

Tempo de leitura: 3 min

Dunga e Gilmar Rinaldi . Foto; Rafael Ribeiro CBF

Dunga e Gilmar atuaram como agentes de fotos. Foto: Renato Ribeiro/CBF

Lei Pelé: o neoliberalismo no futebol

O neoliberalismo chegou ao futebol através da chamada Lei Pelé. Que pregava a profissionalização do futebol, contra o que chamava de ditadura dos clubes.

por Emir Sader, em seu blog, sugestão de Renato Brandão

Republico este artigo escrito há alguns anos e publicado originalmente na Carta Maior, porque o considero – infelizmente, 7 e mais vezes infelizmente – absolutamente atual.

Espero que não tenha que publicá-lo 7 vezes mais, não tenha que publicá-lo nunca mais.

Multiplicam-se as reclamações de que o dinheiro passou a mandar no futebol, que os clubes estão falidos, que os jogadores já não têm apego aos clubes, mudam às vezes durante o campeonato, passando para o rival, se contratam meninos ainda para jogar no exterior, uma parte deles fica abandonado, submetidos a todo tipo de irregularidade.

Mas o que aconteceu, o que está na raiz de tudo isso? O futebol – assim como todos os esportes – não é imune às imensas transformações econômicas, sociais e éticas que as nossas sociedades sofrerem e ainda sofrem. No Brasil, o neoliberalismo chegou ao futebol através da chamada Lei Pelé. Que pregava a “profissionalização” do futebol, contra a ditadura dos clubes, que tinham os jogadores atrelados ao clube como se se tratasse de uma relação feudal, pré-capitalista.

Intensificou-se dura campanha contra os “cartolas”, com acusações – todas provavelmente reais -, de corrupção, concentração de poder, arbitrariedades, etc. Porém, de forma similar ao que se fazia na campanha neoliberal contra o Estado, não era para democratizar aos clubes, ou ao Estado, mas para favorecer o mercado.

A profissionalização foi isto. Supostamente para libertar os jogadores do domínio dos clubes, jogou-os nas mãos dos empresários privados. Não por acaso se deu durante a década de 90, em pleno governo FHC, que preconizou todo o tempo a centralidade do mercado, os defeitos do Estado, a necessidade de mercantilizar tudo, de transformar a sociedade em um lugar em que tudo se compra, tudo se vende, tudo é mercadoria.

Os jogadores foram transformados em simples mercadorias, nas mãos dos empresários, que reinam soberanos, assim como o mercado e as grandes empresas fazem no conjunto da sociedade. Enquanto os clubes, da mesma forma que o Estado, ao invés de serem democratizados, são sucateados. Interessa aos empresários privados que os clubes sejam fracos, estejam falidos, serão mais frágeis ainda diante do poder do seu dinheiro. Assim como ao chamado mercado interessa que o Estado seja mínimo, seja fraco, para que ceda cada vez mais a seus interesses.

Os clubes podem ser democratizados – de que o exemplo da democracia corintiana é claro. O jogo dos empresários não é democratizável, nem passível de ser controlado socialmente, vale quem paga mais, que tem mais dinheiro. Assim como o Estado pode ser democratizado – e as políticas de orçamento participativo são o melhor exemplo disso.

Com o reino do mercado, não há Estado, não há democracia, não há interesses coletivos. Triunfa o mercado e seu principio maior – o do dinheiro. Com o reino dos empresários privados, não há clubes, há times, que ocasionalmente são montados para disputar um campeonato, enquanto os empresários não vendem os jogadores. Os campeonatos servem apenas como vitrine para exibir as mercadorias dos empresários.

Em um tempo em que tantas identidades entraram em crise, nem sequer os clubes de futebol conseguem resistir, diante da privatização que a lei Pelé significou, fazendo da camisa dos jogadores um lugar em que mal cabe – quando cabe – o distintivo, de tal forma tudo é comercializado. Ou se fortalecem os clubes, democratizando-os, destacando sua dimensão publica e não de empresas privadas a serviço da comercialização dos jogadores, ou a quebra generalizada que atinge o mercado capitalista não poupará os clubes. Que irão à falência, diante do enriquecimento ilimitado dos empresários privados.

PS do Viomundo: A ESPN denunciou que tanto Gilmar Rinaldi quanto o Dunga foram agentes de jogadores.

Gilmar agenciou Adriano ‘Imperador’, o ex-jogador Washington (ex-Atlético-PR e Fluminense), além dos ainda em atividade Fábio Santos e Danilo (Corinthians), Fábio Simplício (São Paulo e Roma). Ao assumir o cargo de coordenador-geral de seleções da CBF, disse que na noite anterior havia se afastado dos jogadores. Negou qualquer conflito de interesse por causa de sua atividade anterior.

Já Dunga, novo treinador da seleção brasileira, atuou como agente a venda do meia Ederson, em 2004, do RS Futebol Clube para o grupo Image Promotion Company (IPC). Mas ele negou. Afirmou “não ter participação alguma na venda dos direitos sobre o vínculo do referido jogador”. Porém, documentos apresentados pelo repórter Lúcio de Castro provam o contrário.

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Comentários

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Marcos K

Não tenho pena dos clubes. Os dirigentes, que deveriam ser os maiores interessados no saneamento financeiro e no bem-estar dos clubes, são os primeiros a boicotar qualquer coisa que se faça em benefício destes mesmos clubes. Cada um pensa por si e a curtíssimo prazo e o resto que se dane. É cada um por si e Deus contra todos. Essa é a cara do nosso futebol.

marcosomag

O problema do excessivo poder dos agentes sobre os atletas e suas consequências trágicas para o futebol brasileiro podem ser assim resumidas: o clube é quem forma o jogador como atleta e, em alguns casos, como cidadão (o SPFC, dá suporte para que os mais pobres frequentem a escola e exige boas notas para que o jovem jogador permaneça no clube). O clube têm os “direitos federativos” (vínculo a uma Federação estadual) sobre o atleta. Sem ser “federado”, o atleta não pode disputar competições oficiais. Só que o atleta promissor sempre está vinculado a um ou vários agentes e “investidores” que são aqueles que detém os “direitos econômicos” (poder de negociar os “direitos federativos” do atleta no período de vigência de um contrato).
O que ocorre usualmente é que o clube não obtém o retorno financeiro pelo que gastou na formação do jovem jogador pois os “direitos econômicos” estão com os agentes e “investidores”. Resultado: não existe interesse dos clubes em descobrir e formar talentos. O nível técnico do futebol brasileiro tende então, a cair cada vez mais.

FrancoAtirador

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09/02/2012 – 10:22 Rio de Janeiro e São Paulo
LANCENET!

Como Ronaldo e Ronaldinho gastam e investem dinheiro

Em comum, ambos recorreram ao mercado imobiliário para aplicar o dinheiro.
Ronaldo tem imóveis até em outros países.
Ronaldinho, por sua vez, concentra propriedades em Porto Alegre,
onde nasceu e vivem, ainda, seu irmão/empresário, Assis…

Por Bruno Braga e Rodrigo Vessoni

RONALDO NO MUNDO DOS NEGÓCIOS

IMÓVEIS
Além de possuir imóveis para uso pessoal em várias cidades, como Rio de Janeiro, Madrid e Paris, e uma ilha em Angra dos Reis, Ronaldo é dono do edifício onde funciona o Campus Taquara da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.

BALADAS
Ronaldo já teve seu próprio estabelecimento, a boate R9, no Rio de Janeiro. Neste momento, ajuda a divulgar a casa noturna paulistana Royal, de propriedade de um dos seus sócios na 9ine. Diversas festas do mundo do futebol são feitas lá.

ACADEMIAS
Instalada em uma área de 3,6 mil metros quadrados no Rio de Janeiro, a clínica Fisio R-9 foi criada em 2002. Ele ainda tem participação na rede de academias A! Body Tech.

PUBLICIDADE
A última aposta de Ronaldo é a empresa de marketing esportivo 9ine, lançada em 2010. A empresa atua na venda e na promoção de eventos e cuidar da administração da carreira de atletas. Ronaldo tem 45% de participação – restante divide-se entre o grupo WPP (45%) e o empresário Marcus Buaiz (10%). O lutador de MMA Anderson Silva é um dos seus agenciados.

RONALDINHO NO MUNDO DOS NEGÓCIOS

IMÓVEIS
Jogador e seu irmão/empresário, Assis, são proprietários de vários imóveis em Porto Alegre. Uma das últimas aquisições aconteceu no ano passado. Os irmãos compraram algumas salas em um prédio comercial de luxo na capital gaúcha que será inaugurado em breve. A família também tem um escritório na cidade.

BALADA
Ronaldinho é proprietário de uma casa de shows em Porto Alegre. O local fica em frente ao condomínio onde o craque mora em Porto Alegre. O terreno desse condomínio, inclusive, foi comprado por Assis. Lá foram construídas três casas.

MÚSICA
Ronaldinho, no ano passado, lançou um bloco de Carnaval que saiu na Barra da Tijuca chamado “Samba, Amor e Paixão”. O craque, no fim de 2011, gravou um clipe com o grupo “Samba Pra Gente”, parceiro do jogador na criação do bloco.

MIMOS
O craque tem predileção por joias. Durante as férias, o atacante foi clicado usando vários cordões e anéis de ouro. O atacante chegou a gastar R$ 180 mil na compra dos adereços.

(http://www.lancenet.com.br/minuto/Ronaldo-Ronaldinho-gastam-fortunas_0_642535974.html#ixzz38WZfdHp9)
(http://migre.me/kDzmR)
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Urbano

A principal mercadoria do neoliberalismo são exatamente os políticos que carregam a sua bandeira. No futebol não poderia ser diferente.

Fernando

CBF deu um pé na bunda da Globo ao recontratar o Dunga.

Agora volto a torcer pela seleção!!

    Lukas

    Marin contra a Globo? rs

Nelson

E pensar que ainda tem uma pá de gente que briga, “se pauleia” até a morte por, dizem, amor a seus clubes.

Deveriam pensar 100 vezes antes de entrarem em uma peleia por este ou aquele clube.

Nelson

O texto é claro, límpido, plenamente inteligível.

A relação que Emir Sader faz entre a questão do Estado e o futebol, nestes tempos neoliberais, é perfeita, irretocável.

Amigo. Quando o lucro torna-se a prioridade primeira – não raras vezes, a única -, paixão clubística só pode virar coisa de otário.

Rui Azevedo

Ué, mas não era a Globo a culpada pelos fracassos do futebol brasileiro!

Francisco

É por essas e outras que futebol eu não vejo: jogo!

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