Saúde mental: Profissionais, pacientes e familiares protestam contra o risco de centro de referência fechar em SP

Tempo de leitura: 5 min

Setúbal e Uip

José Luiz Egydio Setúbal, provedor da Santa Casa, e David Uip, secretário da Saúde Estadual de São Paulo, resolverão o impasse?

por Conceição Lemes

Quando se pergunta aos profissionais de saúde, pacientes, familiares o que acham do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM), na Vila Mariana, na zona Sul da cidade de São Paulo, a resposta vem geralmente acompanhada de boas referências.

Atende 100% SUS.

Segue a linha da reforma psiquiátrica, buscando a reabilitação psico-social dos pacientes com transtornos mentais em vez de deixá-los mofar nos hospitais, segregados da sociedade.

É um centro de formação de profissionais da área de saúde mental de uma das principais faculdades de Medicina do País, a da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Atualmente, possui 43 leitos de internação e 60 de hospital dia. Realiza mensalmente 10 mil consultas ambulatoriais. Por ano, atende 12 mil pacientes em seu pronto-socorro, que é referência no atendimento de emergência psiquiátrica.

Tem um centro de autismo com 200 crianças matriculadas, ambulatórios especializados em psiquiatria forense, LGBTQIA, obesidade, primeiro episódio psicótico, idosos, criança, álcool e outras drogas, entre outros.

Na quinta-feira passada (13/10), os seus funcionários receberam uma péssima notícia da diretoria da instituição. A superintendência da Irmandade Santa Casa de Misericórdia  pretende devolver o CAISM- Vila Mariana à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.

A Santa Casa é que administra o atendimento da instituição e os recursos repassados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir a assistência dos pacientes. O prédio pertence à Secretaria Estadual da Saúde. Uma parceria que existe desde 1998.

“Pelo que soubemos a Santa Casa pretende devolver o prédio à Secretaria da Saúde”, conta o psiquiatra Elie Leal de Barros Calfat, coordenador do Núcleo de Psiquiatria Geral de Adultos.

Na prática, significaria não mais participar da gestão do CAISM-Vila Mariana.

O que pode aconteceria depois, já que os funcionários são contratados da Santa Casa?

“O nosso maior temor é que haja interrupção dos serviços”, diz Calfat.

Em nota, via assessoria de imprensa, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo “informa que não procede, de maneira nenhuma, que o Centro de Atenção à Saúde Mental (Caism) de Vila Mariana será fechado. Os pacientes da unidade permanecem com o atendimento normalizado”.

Aí, não haveria o risco, pergunta esta repórter, de o CAISM passar a ser administrado por alguma instituição que se pauta mais pela linha manicomial?

“A decisão de a superintendência romper a parceria tem a ver com a grave crise financeira que a Santa Casa atravessa”, explica Calfat.

Prontamente, funcionários, pacientes e familiares se uniram para reverter a situação.

Nesta segunda-feira (17/10), às 11h, realizam uma manifestação na própria Santa Casa, à Rua Cesário Mota, contra a ruptura da parceria.

Na sexta-feira, começaram a circular nas redes sociais um abaixo-assinado (na íntegra, abaixo), que será entregue ao governo do Estado de São Paulo, muito provavelmente ao secretário estadual de Saúde, dr. David Uip.

Nele , profissionais, pacientes e familiares pedem o apoio da população para impedir o fechamento do CAISM-Vila Mariana.

Segue o abaixo-assinado. Eu, Conceição Lemes, já assinei. Recomendo que façam o mesmo. É só clicar aqui. 

Caism  2

Unidos pelo Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental – CAISM Vila Mariana

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO

Tivemos conhecimento da definição por parte da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, de interromper os serviços prestados junto ao Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) da Vila Mariana, nós, funcionários, pacientes e familiares do CAISM, apresentamos os seguintes esclarecimentos:

O CAISM foi inaugurado em 30 de outubro de 1998, fruto da parceria entre a Irmandade e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, cabendo a Irmandade a administração e o funcionamento do hospital.

O serviço do CAISM se caracteriza pelo atendimento aos usuários em quatro níveis de atenção:

• Ambulatório

• Hospital-dia

• Internação

• Emergência Psiquiátrica

As especialidades cobertas estão assim distribuídas:

• Psiquiatria Geral e Emergências,Infantil e Forense

• Unidade de Idosos, de Álcool e Drogas

• Psicoterapia

• Autismo

O trabalho do CAISM objetiva a Reabilitação Psicossocial do usuário, favorecendo o estabelecimento de habilidades sociais perdidas ou então não desenvolvidas devido o transtorno mental.

Atualmente o CAISM conta com 43 leitos de internação, 60 leitos de Hospital- Dia. Além das atividades assistenciais a que se propõe, com um volume de aproximadamente 10.000 consultas ambulatoriais mensais e um atendimento superior a 11.000 pacientes por ano no Pronto-Socorro, também é reconhecidamente um equipamento de saúde voltado à formação e aprimoramento de profissionais na área da saúde mental.

Dentro do CAISM está inserida a Unidade de Referência em Autismo, única no Estado de São Paulo, que é um serviço de excelência, sendo não só assistencial como multiplicador de conhecimentos.

O Pronto-Socorro Psiquiátrico é referência no atendimento de emergência, de todas as regiões de São Paulo, embora seja responsável pelos atendimentos da região central da Capital, sendo que os dois únicos Prontos Socorros Psiquiátricos da cidade de São Paulo de portas abertas são o CAISM e Mandaqui. Somos ainda retaguarda de emergência para outros serviços como:

-Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) Adulto, AD Sé, Itapeva, AD Vila Mariana, Jabaquara, Ceci, Complexo Prates, Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas (CRATOD), Amparo Maternal, Unidades Básicas de Saúde, Caps da Região Sudeste da Prefeitura e Centro de Referência e Tratamento/AIDS Vila Mariana.

Para as diversas áreas de pós graduação e graduação em medicina, fonoaudiologia, enfermagem e psicologia, servindo como campo de estágio na área de saúde mental. Somos destaque em Residência Médica em Psiquiatria, e nos seus quase 20 anos de existência, formamos mais de uma geração de excelentes profissionais, alguns destes com sólidas carreiras acadêmicas, bem como a formação de pesquisadores.

O CAISM é a principal sede do programa de residência médica, atualmente com 61 residentes, o que permite classificá-lo como o maior do Estado de São Paulo, sendo a sede do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.

Recentemente foi inaugurado o Ambulatório de Psiquiatria Forense para atendimento psiquiátrico à população carcerária do Estado de São Paulo, e firmado convênio com o Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (IMESC), como um dos únicos estágios em psiquiatria forense. Também foi inaugurada a Enfermaria para pacientes autistas, e o ambulatório de Generalidades (AGE) com atendimento à população à população LGBTQIA.

Outros aspectos de extrema relevância são as pesquisas na área de neuromodulação, autismo, transtornos alimentares, primeiro episódio psicótico e obesidade, entre outras e que tem apoio e patrocínio de agências de fomento como FAPESP, CAPES/CNPQ, com cerca de oitenta artigos científicos publicados em revistas renomadas nos últimos dois anos.

O CAISM também é sede do Centro de Estudo e Pesquisa do Departamento de Saúde Mental da Santa de São Paulo (CEPESAM), referência na organização de cursos, seminários e atividades cientifica-acadêmicas em psiquiatria. Além de todas as atividades citadas somos referência para a Associação Brasileira de Psiquiatria e neste ano mais de 60 psiquiatras realizaram a prova prática de título.

Tais motivos fazem do CAISM uma instituição de vanguarda que muito contribuiu para o desenvolvimento da Psiquiatria paulista e brasileira.

Pelas razões expostas, é fundamental o apoio da população em geral e dos órgãos de comunicação, para que não se permita o fechamento do CAISM Vila Mariana.

14/10/2016

Funcionários,pacientes e familiares do CAISM Vila Mariana

Para apoiar o abaixo-assinado, clique aqui. 

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Comentários

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FrancoAtirador

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Guerra de Quadrilhas na Campanha Eleitoral em Porto Alegre

faz o 1º Cadáver do 2º Turno: Suicidado a Facadas no Pescoço.

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https://twitter.com/GalimbertiFran/status/788074854872383488
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marcos

Conceição, excelente reportagem. Parece que sofremos uma “epidemia de retrocesso” no Brasil. A luta contra o “mosquito anacronicus” continua.

Abraço

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