Rede de Justiça e Paz denuncia: Lógica cruel do governo é incapaz de sentir remorso com a dor de milhões

Tempo de leitura: 3 min

Mensagem da Rede Brasileira de Justiça e Paz denuncia lógica cruel no Brasil

do site da CNBB

Ao final do Encontro Nacional ente as Comissões Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), realizado em Brasília (DF), de 10 a 12 de novembro, foi divulgada mensagem pública na qual denuncia “lógica cruel, incapaz de sentir qualquer remorso com a dor de milhões” em curso no Brasil.

De acordo com o texto, tais ações no âmbito do Poder Público são constantemente tratadas como responsabilidade fiscal, “verdadeira adoração ao mercado e desprezo pelos pobres, mulheres, negros, jovens, desempregados e indígenas”.

As comissões demonstraram a firmeza de que “esse quadro atual de grandes perdas e de ameaças a direitos, não abala a nossa fé na democracia pois o golpe que atingiu o nosso país não é invencível. A força da militância dos movimentos populares, irá demonstrar, mais cedo do que se imagina, como em outros momentos da história, que as tiranias sempre sucumbem à irresistível vontade popular”.

Confira a mensagem na íntegra:

Mensagem pública aprovada pelas Comissões Justiça e Paz da CNBB e a Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação da CRB, que formam a Rede Brasileira Justiça e Paz, reunidas em Brasília, de 10 a 12 de Novembro de 2017

Misericórdia e fidelidade se encontram, justiça e paz se abraçam (Salmo 85, 11)

A realidade brasileira expõe uma nação à deriva, sem rumo, entregue à voracidade do mercado financeiro nacional e internacional.

Há quem sustente que esta situação revela algo premeditado e com objetivo claro: aprofundar o modelo de país voltado para fora como fonte de matérias primas oferecidas às metrópoles de plantão.

Tal anomalia tem uma funcionalidade, pois legitima a adoção de políticas que, num quadro de normalidade, jamais seriam aceitas.

Ao explorar o vocábulo crise, implicitamente induz à admissão de que o Estado Democrático de Direito ainda subsiste e não estaríamos caindo em outra realidade, um novo formato de Estado, voltado à multiplicação de lucros e ampliação do controle penal dos “indesejáveis”, em negação de valores essenciais à própria humanidade.

É dentro desta perspectiva, que se explica a interminável necessidade de buscar a desconstrução dos instrumentos de governança e inclusão social, que desde 1930 deram sentido à nacionalidade brasileira, apesar dos inúmeros limites e percalços que não podem ser olvidados.

Há poucos meses foi decretado o fim da CLT, medida que acaba de entrar em vigor, ousadia que nem o arbítrio de 1964 foi capaz de propor.

O atual Presidente da República comporta-se sem cerimônia e desprovido da “liturgia do cargo” para enterrar as denúncias que pesam contra ele e seus mais próximos auxiliares.

Para tanto, faz uso indevido de nomeações, verbas e distribui privilégios que o mau manejo da máquina pública proporciona, em escandalosa cooptação de parlamentares e parte majoritária da mídia empresarial.

O discurso oficial apregoa que teríamos entrado num lento, porém virtuoso processo de retomada do emprego, da renda e da atividade econômica.

Tal aceno, choca-se com a sensação real de instabilidade institucional, pobreza crescente e enorme desemprego.

É preciso lembrar que as medidas de “contenção de despesas” destinadas à área social acoplam-se à permanente drenagem desses recursos desviados para o infindável pagamento de inaceitáveis juros da dívida pública.

Essa lógica cruel, incapaz de sentir qualquer remorso com a dor de milhões, é constantemente tratada como responsabilidade fiscal, verdadeira adoração ao mercado e desprezo pelos pobres, mulheres, negros, jovens, desempregados e indígenas.

Tal quadro desolador se completa com a hipertrofia do judiciário, nem sempre distante das paixões políticas presentes na sociedade.

Aliás, muitos se perguntam se ele não estaria em algum grau partidarizado e comprometido com o modelo econômico neoliberal que se quer impor ao Brasil. Afinal, atribui-se a um dos ministros do STF a inaceitável expressão “a Constituição não cabe no orçamento”.

No campo da sociedade civil está presente forte e difundida oposição à implementação desse modelo, entretanto sem a força necessária às mobilizações, em parte fragilizadas pelo risco do desemprego que coloca os movimentos dos trabalhadores na defensiva, em parte, pela ausência de uma proposta de luta clara, exequível e unificada.

A esperança que anima a nossa militância tem mantido acesos movimentos, redes e mobilizações. Por isso, nossa resistência tem sido capaz de impor o recuo do governo em questões como a da Renca, da insidiosa portaria que legitimava o trabalho escravo, bem como da cada vez mais improvável Reforma da Previdência.

Esse quadro atual de grandes perdas e de ameaças a direitos, não abala a nossa fé na democracia pois o golpe que atingiu o nosso país não é invencível.

A força da militância dos movimentos populares, irá demonstrar, mais cedo do que se imagina, como em outros momentos da história, que as tiranias sempre sucumbem à irresistível vontade popular.

Carlos Alves Moura 
Secretário Executivo
Comissão Brasileira Justiça e Paz

Ir. Maria Inês Vieira Ribeiro 
Presidente
CRB Nacional – Conferência dos Religiosos do Brasil

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Comentários

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Rodrigo

Então esses bispos e outros religiosos querem falar da “dor de milhões”? Por que não mandam uma cartinha pro Vaticano exigindo a retirada das passagens homofóbicas da Bíblia? Só no Brasil devem ser uns 20 milhões de homossexuais sofrendo suas consequências. Por que também não mudam aquela parte do “ninguém vem ao pai, senão por mim” (João 14:6)? Já basta de missionários cristãos destruindo as culturas indígenas e evangélicos destruindo centros de cultura africana. Fingem querer consolar a miséria, mas dependem dela pra ter emprego (ao mesmo tempo em que almoçam bife com suco de laranja natural). Bando de hipócritas, é o que são.

Eugênio Viola

Em sintonia com o pontificado do Papa Francisco (de Assis), a CNBB – de forma clara e contundente-, anuncia e denuncia (como os profetas) a aflição pela qual nosso povo. É cada vez maior os que são lançados às periferias existenciais, sem dó nem piedade. A CNBB resgata assim a memória da luta de tantos bispos brasileiros que nunca se calaram diante das injustiças e em defesa da dignidade humana. E um dos expoentes dessa forte perseverança foi Dom Hélder Câmara, cuja trajetória e vida podem ser conhecidas nesse documentário.
https://www.youtube.com/watch?v=bvURWRz7jlE
Abraços

Julio Silveira

É, mas não podemos ignorar que essa gente também recebe conforto “cristão” das diversas tendencias organizacionais religiosas, reacionarias. Mas as que se escondem dentro das religiões usando o Cristo para fazerem politica seletiva, cortezã.
Aquelas parentes das que fizeram a inquisição e promoveram as missas em prol do nazismo.
E o Brasil colonia tem muitos deles, camuflados, egressos da elite, que fizeram os votos de Constantino.

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