Político faminto pelo Planalto, Doria é desmentido duas vezes em sua marquetagem parisiense

Tempo de leitura: 4 min

Encontro casual transformado em “reunião”

Agenda do prefeito é negada por assessoria de primeiro-ministro

Programa de Doria previa almoço com Édouard Philippe, mas gabinete do francês diz que ele não estava nem em Paris

Andrei Netto, correspondente, e Pedro Venceslau, enviado especial, O Estado de S.Paulo

Na rápida passagem de João Doria por Paris, a agenda oficial do prefeito anunciou que ele teria um almoço reservado no sábado com o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, que não estava na cidade.

A informação sobre o encontro bilateral foi enviada aos jornalistas brasileiros antes de chegada de Doria na cidade e confirmada na noite de sexta-feira, mas em nenhum momento constou da agenda oficial do líder francês.

Ao Estado, a direção de comunicação do primeiro-ministro informou que Philippe já tinha agendado previamente uma viagem a cidade de La Havre, no interior da França, e que o encontro nem sequer chegou a ser programado.

Segundo a assessoria de Doria, o que houve foi um desencontro. O almoço entre o prefeito e o primeiro-ministro teria sido articulado por canais não oficiais e adiado em cima da hora.

O interlocutor entre as duas partes foi o economista Jaques Attali. Considerado o ideólogo do presidente Emannuel Macron, Attali tem bom trânsito no primeiro escalão da política francesa.

Ele foi o organizador do Global Positive Fórum, evento que reuniu líderes de vários países em Paris no fim semana. Doria foi o único político latino-americano presente.

Attali disse que a próxima edição do evento, em 2019, será em São Paulo. O economista promoveu uma rápida conversa entre o prefeito de São Paulo e Macron durante um coquetel na sede do governo francês após o encerramento do Fórum. Doria e o presidente conversaram rapidamente.

Em um vídeo gravado pela assessoria do prefeito e publicado nas redes sociais, apenas tucano falou, em francês. Segundo Doria, durante a conversa, Macron “prontamente” aceitou participar da próxima edição do Global Positive Fórum no Brasil.

A curiosa paixão

Mathias de Alencastro, na Folha

Talvez venha a ser lembrada como uma das primeiras jogadas de mestre das eleições de 2018: o prefeito João Doria encontrou o presidente Emmanuel Macron, paradigma para aspirantes a portadores da renovação política do mundo inteiro.

O encontro teve valor meramente simbólico. No Palácio do Eliseu, Doria era apenas mais um convidado de uma recepção. Conhecido por se afastar dos que tentam se beneficiar da sua aura, Macron evitou qualquer tentativa de instrumentalização durante a breve confraternização, que as redes sociais do prefeito qualificaram de “reunião”. O Palácio do Eliseu utilizou outros termos para descrever o acontecimento. “Ele foi saudado pelo presidente”, segundo Barbara Frugier, do serviço de comunicação do Eliseu.

O advento de Emmanuel Macron é um terremoto dificilmente repetível, provocado por um contexto especifico —o naufrágio da presidência de François Hollande— e por contingências inéditas —o colapso da candidatura do seu rival de centro-direita, François Fillon. Complementando o xadrez de circunstâncias favoráveis, a chegada da candidata de extrema-direita Marine Le Pen ao segundo turno consolidou a vitória de Macron.

Agora, Macron tem de governar para um eleitorado que, em boa parte, o elegeu como um mal menor. A maioria absoluta de deputados no parlamento do partido de Macron agrava a situação. O presidente tem de travar a batalha pelas reformas diretamente com a oposição que se manifesta nas ruas. Durante os seus primeiros cem dias de mandato, a sua popularidade mergulhou de 62% para 37%.

Curiosa, portanto, a insistência de Doria em tentar se colar num presidente impopular e, sobretudo, defensor de um programa diametralmente oposto ao seu. Entre as suas principais iniciativas, consta a estatização temporária de um estaleiro, um plano de investimento público de 50 bilhões de euros, além de uma lei que institui multas a empresas que não pratiquem a igualdade salarial entre os gêneros. Em termos de visão de Estado, Doria está para Macron como Margaret Thatcher estava para Tony Blair.

A comunicação é outro elemento no qual Doria diverge de Macron. O presidente francês adotou uma atitude que ele próprio define como “Jupiteriana”: uma presença pública rara e ritualizada. Doria está mais próximo de Nicolas Sarkozy, idealizador da “hiperpresidência”, que consistia em ocupar freneticamente todo o espaço midiático. Da sua parte, Macron resumiu a estratégia de Sarkozy a “dar golpes de queixo solitários”.

Mas existe, com efeito, um ponto onde as trajetórias de Doria e Macron podem se tornar similares. Para se lançar como candidato em 2018, Doria terá de fazer com Geraldo Alckmin o que Macron fez com François Hollande: atraiçoar o seu padrinho político às vésperas da disputa presidencial.

Enquanto organizava a sua própria campanha, Macron participava nas reuniões do pré-candidato Hollande. Essa conspiração, calculista e objetiva, suscitou admiração da própria vítima. “Fui traído com método”, sentenciou o ex-presidente francês. Para chegar à presidência, Doria terá de se inspirar no melhor e no pior de Macron. Mas, para dar certo, terá de ser com método.

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Comentários

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Luiz Carlos P. Oliveira

Esse sujeito é uma farsa total. A única coisa que sabe fazer é demagogia e falar mentiras. Falta de caráter!

    RONALD

    Aliás, a direita é, no “conjunto da obra”, uma imensa FARSA !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

RONALD

Esse espantalho de botox, fake de prefeito, não aprende. Já levou ovada em Salvador e agora ficou com a mão estendida no ar na França. Ponto cego total !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    leonardo-pe

    e do jeito como vai,será nosso presidente no ano que vem. DESGRAÇA POUCA É BOBAGEM.

    RONALD

    Salve Leonardo, acho que nem isso ele consegue. Acho que ele vai só pilhar o municício de SP mesmo.

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