Não vai sair na Globo: O que está por trás do mito da “Petrobras quebrada”

Tempo de leitura: 8 min

O Mito da “Petrobras quebrada”

por Cláudio Oliveira e Felipe Coutinho*

do portal da Associação dos Engenheiros da Petrobras

A citação “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade” é atribuída à Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha Nazista. Já “A verdade é filha do tempo, e não da autoridade” teria sido dita por Galileu Galilei, físico, matemático, astrônomo e filosofo italiano que viveu entre ou séculos 16 e 17 e foi personalidade fundamental na revolução cientifica.

No Brasil de hoje vemos as autoridades do governo federal, da Petrobras e seus porta vozes da grande mídia repetirem mentiras sobre a Petrobras. Mas elas não se sustentam e o tempo revela que são falsas. Neste artigo vamos ajudar o tempo no seu trabalho de revelar o mito sobre a “quebra da Petrobras”.

O endividamento da Petrobras tem sido uma das principais justificativas oficiais para a privatização fatiada da estatal, com alienação de mais de US$ 34 bilhões até 2021. A corrupção revelada pela Lava Jato e que vitimou a Petrobras é usada para construir o senso comum e convencer a opinião pública de que não há alternativa.

“Alavancagem financeira” ou simplesmente “alavancagem” é o uso de endividamento (recursos de terceiros) para viabilizar o lucro e a geração de caixa das empresas no futuro. A indústria do petróleo se caracteriza por projetos de longa maturação, o investimento leva cerca de 10 anos para começar a gerar caixa.

Decisões tomadas hoje serão percebidas daqui a uma década. Ou ainda, decisões tomadas há 10 anos atrás são percebidas hoje.

Quando o portfólio de projetos de uma empresa de petróleo permite o aumento da produção, e da receita, a dívida é benigna e facilmente gerenciável. A Petrobras tem dívida maior do que suas concorrentes multinacionais porque descobriu o pré-sal e dispõe do mercado brasileiro que além de grande tem potencial para crescer.

Nosso consumo per capita de energia é moderado, muito inferior ao dos países desenvolvidos. As multinacionais de capital privado têm reservas e mercados declinantes, não tem perspectiva de crescer e usam o endividamento para pagar dividendos, ou recomprar suas ações para valorizá-las e assim atender aos acionistas.

A realidade da Petrobras é muito melhor, por isso seus ativos, reservas e mercado são alvo da cobiça internacional que foi revelada pelo Wikileaks.

Indústrias básicas como siderurgia, papel e celulose, mineração etc., levam de três a quatro anos para implantação de um projeto. Para atender esta situação os agentes financeiros criaram linhas de crédito com carência de até quatro anos, ou seja, o tomador do empréstimo durante os primeiros quatro anos paga somente os juros sobre o valor da dívida, a amortização só começa a ocorrer após o quarto ano, quando o projeto entra em operação e começa a gerar lucro e caixa.

Caso venham a ocorrer atrasos na implantação do projeto a empresa tomadora do empréstimo deverá procurar “rolar” a dívida até que o projeto entre em atividade. Ou seja, a empresa refinancia a dívida até que o projeto comece a gerar caixa para iniciar as amortizações.

Na indústria do petróleo, no entanto, a maturação dos projetos dura em torno de dez anos. Significa dizer que, iniciado um projeto o retorno em lucros e geração de caixa só começa a ocorrer depois desse prazo.

Como não existem linhas de crédito com dez anos de carência, este tipo de indústria, em tese, precisa “rolar” ou refinanciar suas dívidas até a entrada em operação dos projetos.

A dívida da Petrobras evoluiu conforme mostrado na tabela abaixo:

(Observação: apresentamos a dívida da Petrobras em US$ tendo em vista que 80% do endividamento da empresa é em moeda estrangeira, principalmente US$, portanto é a melhor moeda para retratá-la)

Com a descoberta do pré-sal (2005) a Petrobras planeja o seu desenvolvimento e produção. Entre 2010 e 2014 a empresa investiu mais de US$ 200 bilhões (média superior a US$ 40 bilhões ano), notadamente no pré-sal, e esta é a principal origem da dívida da empresa.

Neste período (2010/2014) adotaram-se políticas de conteúdo local para o desenvolvimento da indústria naval e de petróleo, treinamento e geração de empregos. Montante proporcional de impostos foram gerados para a União os Estados e os Municípios.

Segundo a Associação Brasileira de Engenharia Industrial (ABEIN) para cada US$ 1000 investidos pela Petrobras, são gerados cerca de US$ 650 em investimentos de outros setores, o que demonstra a importância dos investimentos da Petrobras para o país.

No final de 2014, ainda no governo Dilma, com o surgimento da Operação Lava Jato e tornados públicos os problemas de corrupção contra a Petrobras, todo o processo de investimentos foi freado subitamente.

Com a evolução cambial em 2015, quando o dólar subiu de R$ 2,66 (Dez/2014) para R$ 3,95 (Dez/2015), a dívida da empresa em reais subiu de R$ 351 bilhões para R$ 492 bilhões. Aproveitando-se desta situação parte da mídia criou o mito de que a Petrobras teria uma dívida impagável, a maior dívida entre todas as grandes petroleiras.

Primeiro é preciso lembrar que as grandes reservas de petróleo do mundo pertencem aos Estados Nacionais, cujas estatais não precisam revelar o nível de seus endividamentos. As disponibilidades de financiamento são articuladas estrategicamente com a política monetária, a administração da reserva e da balança comercial nacionais.

A comparação feita pelo cartel da mídia empresarial corporativa é com a chamadas “majors”, Chevron, Exxon, BP, Shell e Total, que são empresas em severa decadência de produção, reservas e geração de caixa. A dívida delas é inferior à da Petrobras porque elas não têm bons projetos para investir. Se tivessem acesso a províncias como a do pré-sal, suas dívidas seriam compatíveis e até maiores do que a dívida da Petrobras.

Um parâmetro didático para entender a capacidade de endividamento é simular um empréstimo imobiliário. Se você informar que dispõe de uma renda bruta anual de R$ 100 mil, o sistema dirá que você pode obter um empréstimo superior a R$ 200 mil. Sem nenhuma dificuldade. No caso da Petrobras, o empréstimo ainda possibilita o aumento da produção e da renda anual, diferente do seu caso como assalariado, o que torna ainda mais fácil a administração da dívida.

Vamos comparar a receita da Petrobras com sua dívida, em reais:

Verificamos que a dívida da Petrobras só foi superior à receita em 2015 em função da forte elevação cambial e em 2016 devido a uma estranha queda de receita ainda não bem explicada pela empresa, e que será motivo de análise em próximos artigos.

De qualquer forma, é evidente que a capacidade de gerar receita é compatível com o endividamento. Por isso não faltam recursos quando a Petrobras acessa os mercados de crédito nacional e internacional.

Evidentemente pode existir concentração de amortização da dívida em alguns exercícios. Para a Petrobras as amortizações da dívida estão dispostas da seguinte
forma:

Nota-se que existe alguma concentração de amortizações em 2019 e 2020, mas nada preocupante pois existe tempo para a empresa se preparar através da rolagem de dívidas e/ou assumindo novos empréstimos, além amortização a partir da pujante geração de caixa. Para isto serve a diretoria financeira.

Sendo que os investimentos no pré-sal foram feitos a partir de 2010 (vide tabela 1), e a maturação dos projetos na área de petróleo levam dez anos, é de se esperar que a partir de 2020 o retorno dos investimentos comece a aparecer.

O quadro de Usos e Fontes do PNG 2017/2021 mostra isto:

A geração operacional de caixa (US$ 158 bilhões) no período, representa uma média anual superior a US$ 30 bilhões por ano.

Olhando a geração operacional dos últimos exercícios nós temos o seguinte:

A geração operacional tem girado em torno de US$ 26 bilhões. Como o “Usos e Fontes” do PNG 2017/2021 indica uma média de geração anual em torno de US$ 30 bilhões, podemos estimar que na ponta (2020/2021) a geração estará em torno de US$ 35 bilhões, gerando um excedente significativo para a amortização da dívida.

Ocorre que a atual administração da Petrobras quer reduzir a dívida o mais rápido possível, mesmo fora do tempo adequado para isto. Antecipou de 2020 para 2018 a meta de redução da alavancagem, medida pela razão entre a dívida liquida e a geração de caixa, em 2,5. Sem a antecipação da meta não seria necessário privatizar os US$ 19,5 bilhões em ativos até 2021. A antecipação da meta foi a forma encontrada para justificar o massivo desinvestimento, a toque de caixa.

Analisando a Tabela 1, verificamos que em 2015, ainda no governo Dilma, a dívida foi desnecessariamente reduzida em US$ 10 bilhões. Em 2016 além de uma redução da dívida em US$ 8 bilhões, por pressão do governo a Petrobras adiantou R$ 20 bilhões (US$ 6 bilhões) para o BNDES aliviar seu caixa. Em função disto ocorreu uma forte redução de importantes investimentos em 2015 e 2016.

Ainda mais, baseado nesta pretensa necessidade de redução de dívida, em 2016 foram vendidos ativos no valor de US$ 13 bilhões, dos quais apenas US$ 2 bilhões entraram em caixa.

E notem que contradição, neste período todo a companhia manteve valores altíssimos em caixa sem utilização. Ainda assim a alavancagem se reduziu drasticamente de 5,11 para 3,54, entre o 4º trimestre de 2015 e o de 2016.

Para se ter uma ideia do absurdo, mostramos abaixo o saldo de caixa da Petrobras comparado com o da Exxon, maior petroleira americana cujo faturamento anual é mais que o dobro da Petrobras.

Voltando ao “Usos e Fontes” do PNG 2017/2021, verificamos que se a Petrobras tiver um caixa no mesmo nível da Exxon, a venda de ativos prevista (US$ 19,5 bilhões) não é necessária, basta utilizar o caixa existente, mesmo se insistindo com a antecipação desnecessária da redução da alavancagem.

Finalizando é bom lembrar que o diretor financeiro Ivan Monteiro, em entrevista coletiva no último mês de janeiro, informou aos jornalistas que “independentemente de venda de ativos ou de captação de novos recursos, a empresa já dispõe dos recursos para cumprir seus compromissos nos próximos 2,5 anos”.

Na divulgação dos resultados de 2016, via teleconferência, o mesmo diretor foi perguntado se a meta de alavancagem 2,5 fosse atingida antes do tempo previsto, se a venda de ativos poderia ser reduzida. O diretor Ivan Monteiro responde que não, que seria mantida, o que ajuda a revelar que venda de ativos não diz respeito a necessidade financeira.

O mito da “Petrobras quebrada” está sendo revelado, outros mitos serão criados para justificar a privatização da estatal e a alienação do petróleo, em favor de poucos, das multinacionais do petróleo, dos bancos e de seus lacaios.

Brasileiros conscientes e patriotas precisam se organizar para defender o maior patrimônio nacional: o petróleo do pré-sal e a Petrobras.

* Cláudio Oliveira é economista aposentado da Petrobras e Felipe Coutinho é engenheiro químico e presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

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RONALD

O careca dos infernos do parente está com os dias contados, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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