Paulo Fonteles Filho denuncia a própria “morte”

Tempo de leitura: 3 min

Circulam no Pará boatos sobre a morte de Paulo Fonteles Filho

Ontem, 5 de maio, circulou pelas redes sociais que teriam me assassinado em um bar, junto à minha mulher, em Belém.

por  Paulo Fonteles Filho,  via Vermelho, dica  de Urariano Mota e Alípio Freire

A coisa foi tão contundente que jornalistas, amigos, foram até a casa de minha mãe, no bairro do Telégrafo, confirmar se eu havia mesmo sido morto. Houve ligações para o Ciop e até o Secretário de Segurança Pública do Pará, Luís Fernandes, fora acordado de madrugada para confirmar o ocorrido.

E a notícia parece que continua circulando. O Vítor Haôr, jornalista marabaense acaba de me ligar neste momento, às 13:42, perguntando se a macabra notícia era verdadeira. Falei com ele e disse que estava bem, e vivíssimo da silva.

Na alta madrugada, quando dormia candidamente ao lado de minha mulher, irmãos e primos quase derrubaram a porta de meu apartamento e ao me avistarem, sonolento, disseram que eu tinha morrido. Quase morri mesmo, de susto.

O ocorrido poderia render boas gargalhadas, no futuro, se tal acontecimento não fosse de tanto mau-gosto e se a repercussão não tivesse chegado a tão longe: amigos em Macapá e até na distante Porto Alegre já estavam velando-nos.

Acontece que toda essa “papagaiada” tem endereço certo: continuar intimidando-nos.

Não apenas a mim, mas, sobretudo, o trabalho desenvolvido para desnudar os acontecimentos violentos praticados pelas forças de repressão da ditadura militar no combate ao movimento guerrilheiro do Araguaia.

Ontem, no dia de minha “morte”, passei toda a manhã e parte da tarde testemunhando num processo interno da Abin-PA.

Tal processo versa, dentre outras coisas, sobre possíveis ocultações de cadáveres de desaparecidos políticos e destruição de documentos da ditadura por servidores da Abin-PA. Tais servidores, Magno José Borges e Armando Souza Dias, são ex-militares, foram do Doi-Codi e atuaram na repressão à Guerrilha do Araguaia. Nos autos do processo quatro servidores da agência confirmam que ambos foram do famigerado Doi-Codi.

Um ex-mateiro daqueles sertões disse-me, à quinze dias atrás, que um tal de Capitão Magno, esse o nome verdadeiro, era quem cortava cabeças e mãos e estas eram enviadas à Belém, nos idos dos anos 70. Cabe dizer que Magno José Borges atualmente é vice-superintendente da Abin-Pa.

Essas denúncias não são novas.

Em 2001, como Vereador de Belém, fui a tribuna da Câmara Municipal tratar do assunto.

Em 2008, o “Diário do Pará”, através do jornalista Ismael Machado fez longa reportagem sobre o caso. Neste mesmo ano, representei ao Ministério Público Federal sobre a questão da Abin-Pa. Está tudo postado em meu blog sobre a chamada “A luta entre o velho e o novo na Abin”, em fevereiro deste ano de 2011.

Lá no Sul do Pará, em São Domingos do Araguaia, meus companheiros também foram acordados com a minha “morte”. Fico sabendo, através de contato telefônico, que no último sábado, 30 de Abril, houve uma reunião de ex-soldados que estão abrindo o que sabem sobre a guerrilha com o representante da direção nacional do PC do B, como eu, no Grupo de Trabalho Tocantins, Sezostrys Alves da Costa em Marabá. E que no dia da reunião, uma caminhonete de vidro fumê, novamente, andou rondando a casa deste companheiro em atitude suspeita.

Sezostrys diz, ainda, que mais pessoas estariam recebendo telefonemas anônimos.

O fato é que mais de dez pessoas estão sob ameaças das viúvas da ditadura militar.

Acontece que desde junho do ano passado temos denunciado a questão.

Tais ameaças já foram informadas ao Ministério da Defesa, ao Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, através da Comissão de Mortos e Desaparecidos e à Policia Federal. Isso sem falar que a própria OAB nacional, onde fizemos reunião semana passada, também informada sobre tais acontecimentos.

A imprensa paraense e nacional já tratou de repercutir o assunto e o PCdoB já fez até nota pedindo providências.

O problema é que até agora nada aconteceu para apurar as coisas, nada, absolutamente nada.

O que causa espécie é que estamos participando de uma investigação federal, no estado democrático de direito, “por dentro” das instituições republicanas e as mesmas instituições, que dizem defender radicalmente à abertura dos arquivos e o achamento dos despojos de desaparecidos políticos, nada fazem para proteger-nos e, por fim, desbaratar os últimos bastiões da repressão política do país.

Se alguma coisa nos acontecer a responsabilidade deve ser, também, imputada à manifesta letargia com que o aparato estatal brasileiro têm tratado as denúncias, que há muito temos feito, sobre as ameaças aos trabalhos de descortinar nossos anos-de-chumbo.


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Comentários

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jose antonio ribeiro marinho

geraldo alkmim é um nazista camuflado,com um discurso de fariseu, engana o pobre alienado por futebol, carnaval,forró e cachaça. ficando a máquina do estado nas mãos das grandes empreiteiras para saqueares os cofres públicos.pobre povo alienado, fácil presa nas mãos de políticos como paulo maluf, josé sarney,jarbas vaSCONCELOS, ACM JUNIOR E OUTROS

Bonifa

O problema brasileiro não é que o Brasil seja menos "macho" ou menos corajoso que a Argentina. O problema do Braisl é que é um país muito mais importante que a Argentina. É um país chave, e os países dominantes sempre souberam disso. Então, desarticular o imenso investimento feito no Brasil dos anos cinquenta até o fim do seculo XX pelos países dominadores no Brasil, em toda a vida institucional do país, usando todos os meios imagináveis, demanda um bom tempo e sempre corre o risco de uma recaída.

Mario josé Bonfin

Este pessoal se acham acima da lei. Mas, convenhamos com Ministro do STF como o Gilmar o que fazer?

João

Será que as autoridades em Brasília vão esperar que algo mais grave (como a morte anunciada) aconteça para fazerem algo?

gilberto silva

Ta esquisito isso….acho que a Dilma vai ter que entrar na questão.

Francisco Santos

Cara, que país é esse? Que estado democrático de direito é esse em que se ameaça quem busca as verdades históricas e fica tudo por isso mesmo? É por essas e outras que o professor Comparato diz que a democracia brasileira é uma farsa. Temos que gritar aos quatro cantos denunciando quem ameaça, quem tortura, quem mata, seja esse alguem policial, deputado ou seja lá quem for.

JotaCe

Caro Leonardo,

Você parece esquecer em que país esses fatos estão acontecendo e como o atual governo tem se comportado. Como smpre, silencia bravamente…Abraços

JotaCe

jõao

Aqui na capital de SP o governo tucano quer passar o TRATOR por cima das cabeças dos pobres, além de destruir a Serra da Cantareira a ultima floresta nativa do planeta com essa obra esdrúxula do ROUBOANEL Mario Covas do Paulo Preto…

São mais de 30 mil familias ameaçadas de perder seus imóveis. O governo em nome do DERSA quer pagar apenas R$ 5.000.00 reais como pé na bunda da população. Se defensoria pública vem atropelando os mais pobres enfiando goela abaixo o que chamamos de progresso involuntário.

Estamos sem voz e precisando de ajuda da mídia para expor o que estão fazendo com a população sem voz, tudo na calada..
Gostaria que publicassem o discurso da Sonia moradora do Pico do Jaraguá e dá um irritado discurso atirando para todo lado a sua indignação e desespero……..Dona Sonia diz estar ha mais de 8 anos com tudo que tinha a dizer engasgado, enroscado de mágo e de indignação pelo desprezo dos governantes de São Paulo para com o povo pobre que o elegeu. http://www.youtube.com/watch?v=rw14LEtl7G4&fe

Pafúncio Brasileiro

Azenha,
Para estas ameaças e intimidações a OAB não existe !
Cadê a posição do Ministério da "Defesa" sobre estas questões ?

    Archibaldo S Braga

    Pafúncio, na minha modesta opinião a atual oab(minúsculas mesmo) só serve para fazer politicagem. principalmente em pról da tucanalhada! Que saudades da velha OAB! Braga.

Gerson Carneiro

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas” – Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

helena catin

Letargia do governo brasileiro? Não posso crer!!

LuisCPPrudente

O ex-deputado Paulo Fonteles morreu assassinado a mando do latifúndio escravocrata e assassino no dia 11 de julho de 1987. Será que Paulo Fonteles Filho não está sendo ameaçado por pessoas ligadas também aos latifundiários do Pará?

Que tal fazermos uma relação deste fato, latifundiários escravocratas e assassinos do Pará com a reforma do Código Florestal, apresentado pelo nobre comunista Aldo Rebelo do PCdoB, que beneficia o latifúndio assassino e escravocrata (que se autodenomina grande produtor do agronegócio)!!!!!!!!

Quer dizer que o deputado Aldo Rebelo quer que o seu relatório seja aprovado e, se aprovado, vai beneficiar especialmente o latifúndio assassino e escravocrata!!!!

    Bonifa

    É não, caro amigo. Leia o relatório, pondere o mesmo em relação à realidade e verá que não é bem isso. Há falhas, mas são pouquissimas. Quando a denúncia vem do PIG, desconfie. Os ruralistas estão dispostos a negociar e isso é excelente. Mas não é (o problema) apenas eles. Os pobres, os ribeirinhos, também estão envolvidos. É melhor fazer uma lei viável, sem concessões gritantes, que voltar à estaca zero por mais algumas décadas..

Leonardo Câmara

Parece-nos óbvio que os suspeitos devem ser suspensos se suas atividades oficiais e, confirmadas as denúncias, ter sua prisão preventiva decretada.

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