No Rio, a campanha para mudar o nome do Engenhão

Tempo de leitura: 4 min

Troca de nome do Engenhão para Estádio João Saldanha mobiliza o futebol do Rio

Por Maurício Thuswohl, da Rede Brasil Atual

Publicado em 14/08/2012, 09:00, Última atualização às 10:02

Rio de Janeiro – Desde a divulgação, há um mês, do documento da Suprema Corte da Suíça que comprova que o ex-presidente da Fifa, João Havelange, e o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, receberam propina da empresa suíça de marketing esportivo ISL para facilitar a aquisição de direitos de transmissão de partidas, um novo movimento político ganha força no Rio de Janeiro. Consequência da denúncia de que Havelange teria recebido indevidamente 1,5 milhão de francos suíços, nasceu e já tem muitos adeptos a ideia de trocar o nome do Estádio Olímpico João Havelange – o popular Engenhão – para Estádio João Saldanha.

O movimento se iniciou quando o Núcleo de Estudos e Projetos de Esporte e Cidadania, colegiado que debate e elabora políticas para o esporte há quatro décadas, lançou um abaixo-assinado na internet para pedir à prefeitura do Rio de Janeiro a troca do nome do estádio, que é administrado pelo Botafogo em regime de concessão. Em pouco tempo, a mobilização em torno do nome de Saldanha ganhou a adesão de jornalistas, políticos, advogados e botafoguenses ilustres. Apesar de nenhuma pesquisa ter sido ainda realizada, percebe-se nas ruas do Rio que também a torcida alvinegra apoia em peso a ideia da troca.

Profundo conhecedor da história do Botafogo e escritor de quatro livros sobre o clube da Estrela Solitária, Roberto Porto se diz favorável à ideia porque Saldanha, segundo ele, é um símbolo do Botafogo: “Desde o momento em que chegou ao Rio de Janeiro, vindo do Rio Grande do Sul, ele foi um homem sempre ligado ao Botafogo. Ele chegou a jogar algumas vezes pelo clube, mas realmente não era um jogador de futebol. Depois, ele se ligou ao clube de todas as maneiras possíveis e imagináveis, transformou-se em dirigente, foi técnico do time campeão estadual em 1957, reabilitando o Botafogo, que não era campeão estadual desde 1948. Foi sempre um defensor do Botafogo em todos os níveis”, diz.

Porto, companheiro de redação de Saldanha em “uma equipe gloriosa” no Jornal do Brasil na década de 1970, que contava ainda com outros renomados jornalistas botafoguenses, como Sandro Moreyra e Oldemário Touguinhó, ressalta que a ligação do “João sem Medo” com o Botafogo transcende as quatro linhas: “Como jornalista, o João cobriu as coisas ocorridas com o Botafogo e sempre escreveu defendendo o clube nos assuntos polêmicos. Nunca tentou esconder o fato de que era botafoguense. Nunca tentou disfarçar sua simpatia pelo clube que torcia – coisa que muitos jornalistas fazem hoje em dia e faziam também no passado. Era um homem extremado em relação ao Botafogo. A troca do nome do Engenhão seria uma homenagem fantástica a um dos maiores nomes da história do clube”, opina.

Sobrinho de Saldanha e integrante do Núcleo de Estudos e Projetos de Esporte e Cidadania, o historiador Raul Milliet Filho avalia que o nome do tio, que também foi técnico da Seleção Brasileira, é bem aceito também pelas outras torcidas do Rio de Janeiro e do país: “O nome de João Saldanha é supraclube. Ele teve grandes ideais em relação ao futebol, como a defesa da ética e do futebol-arte e o combate ao excesso de mercantilização”, disse, em entrevista ao jornal Lance!.

‘De todas as torcidas’

Autor da biografia “João Saldanha: Sobre Nuvens de Fantasia”, o jornalista João Máximo, mais um que trabalhou ao lado de Saldanha no JB, também concorda com a mudança, mas faz uma ressalva: “Seria bem legal o Engenhão um dia vir a se chamar Estádio João Saldanha. Nenhum outro mereceria mais dar seu nome ao estádio do Botafogo. Por outro lado, acho que essa justa homenagem poderia acontecer mais para frente, em um momento oportuno, pois não é muito humano esse caráter de punição em relação ao João Havelange que o movimento pela troca adquiriu. Ele é um homem de mais de 90 anos e que atravessa dificuldades de saúde”, diz.

Outro biógrafo, autor de “João Saldanha – Uma Vida em Jogo” e co-autor – ao lado de Beto Macedo – do elogiado filme documentário “João”, o jornalista André Iki Siqueira se vale do Twitter para apoiar o movimento pela troca do nome do Engenhão: “Quero ler a manchete: o Engenhão trocou de João. Seria um justo acerto de contas da história”, escreveu. Siqueira, que é torcedor do Vasco, também acha que Saldanha agrada a todas as torcidas: “O Engenhão não é só do Botafogo, é do Rio e de todas as torcidas. João Saldanha era Botafogo e de todas as torcidas”.

Repúdio a Havelange

A força do movimento pela criação do Estádio João Saldanha cresce aliada a um sentimento de repúdio ao ex-presidente da Fifa: “O futebol, que é um dos pilares da nação brasileira, não pode ter em um dos seus maiores símbolos o nome de alguém que não tem mais credibilidade”, diz Raul Milliet Filho. Por sua vez, André Iki Siqueira é irônico: “Se for para deixar o nome do Havelange no Engenhão, poderiam também batizar um estádio de Demóstenes Torres e outro de Paulo Maluf”.

Roberto Porto lembra que Saldanha “não gostava de Havelange” e conta uma história curiosa: “Chamar o Engenhão de João Havelange é um absurdo, pois ele sempre se declarou torcedor do Fluminense. O Havelange nunca teve nada a ver com o Botafogo, apesar de ter jogado pólo aquático no antigo Clube de Regatas Botafogo (que se fundiu ao Botafogo Futebol Clube em 1942, dando origem ao atual Botafogo de Futebol e Regatas), já que o Fluminense não tinha na época esportes aquáticos. Mas o João [Saldanha] dizia que o Havelange detestava o Botafogo. Quando se fundiram os dois Botafogos, o João, que era da diretoria do clube de futebol, foi voto vencido. Sempre polêmico, ele dizia que era contra porque o Clube de Regatas Botafogo estava repleto de tricolores, entre eles Havelange”.

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Comentários

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alexandre

temos que mudar tambem o nome do mineirão, tirar o nome do golpista magalhães pinto e
colocar nome de mineiro ilustre ; sugiro estadio Marilia de Dirceu, em homenagem a
Claudio Manoel da Costa(Dirceu) um dos escritores classicistas-inconfidentes.
Chega de homenagem a bandidos.

José Luiz

Imaginem o Usain Bolt correndo em um estádio de um dirigente condenado

Ronald

Dá para mudar o local do Estádio também?

Charles

Como faço para assinar?

FrancoAtirador

.
.
Nunca me soou bem o fato de darem nome de pessoas falecidas às ruas, praças, escolas, estádios, ginásios…
muito menos de pessoas vivas ou, pior, ‘vivarachas’ (Estádio João Havelange) e ‘morticidas’ (Ginásio Presidente Médici ou Avenida Castelo Branco).

Sempre me perguntei por que não deixam as ruas e demais espaços públicos com os nomes populares que adquiriram no decorrer do tempo.

É certo que isso faz parte da tradição portuguesa que foi exacerbada aqui no Brasil.

Mas querem nome mais belo e significativo do que “Praça do Sol”?

Como disse o Bonifa, “não sabemos se o estádio está à altura do grande João Saldanha”.
Então deixem os estádios de futebol com os nomes populares que têm: Engenhão, Mineirão, Maracanã, Morumbi, Pacaembu, Arruda, Ilha do Retiro, Boca-do-Jacaré, Serra Dourada, Beira-Rio… me ajudem…
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Nomes de Ruas

Por Armando Coelho Borges*, no Blog do Armando

Certo estava o poeta Manuel Bandeira quando evocava os nomes das ruas da sua infância no Recife – rua do Sol, rua da Aurora – temendo que tivessem mudado para ‘Dr. Fulano de Tal’.

A tradição lusa de dar nomes prosaicos às vias urbanas revelou-se mais poética e funcional do que as câmaras municipais de vereadores conseguem imaginar.

Ao virar estuário de homenagens ‘legislativas’ perderam-se o humor e as metáforas dos nomes, pois os legisladores municipais, com raríssima exceção, fizeram das ruas verdadeiros cadastros de pessoas físicas.

Homenagens forçadas X tradição

Não que as pessoas não mereçam ser homenageadas. Claro que merecem, mas será que virar nome de rua é a forma mais adequada de prestá-la? Positivamente, não.

Em Porto Alegre, quando fiz uma pesquisa, havia 100 logradouros com homenagens a algum Dr., 37 para engenheiros, 46 para professores, 44 generais, 36 coronéis, 12 almirantes, 6 capitães, 3 comandantes.
O número de padres também era expressivo: 23.
E a nobreza, com toda a maré republicana, ainda emplacava 17 barões e uma baronesa.

Lembro-me mais de nomes de Porto Alegre.
Pouco resta das antigas orientações, como rua da Margem e Caminho Novo.
É raro encontrar a rua da Fonte, rua Águas Mortas, travessa da Saúde, parque dos Nativos, rua das Caravelas, avenida Cascatinha, rua das Acácias, rua Volta da Cobra, rua Cova da Onça, rua Nabos a Doze (!), rua Arco-da-Velha, rua das Emboscadas, travessa da Caridade, rua dos Prazeres. Que tal?

E alguns becos, talvez por serem sem saída, conseguiram escapar das homenagens impostas, conservando ainda seus nomes tradicionais: o beco do Cacete, beco Boqueirão, beco do Sebo, beco do Cego, beco Chapéu de Sol, beco do David e até beco Sem Nome. Na certa, os vereadores não se animaram a chamar um beco para homenagear a genitora do doutor famoso, seria impróprio, no mínimo, como um autêntico cul-de-sac.

Em São Paulo: nomes esquisitos

Para encontrar um nome poético, busque (http://danbrazil.com/o-nome-da rua) que merece ser visitado, se você gosta do tema como eu.

O pesquisador Daniel Brazil sabe bem apresentar os nomes e escreve muito bem. Vale a pena consultar o site.

Para aguçar a curiosidade vejam esses: Coração Maternal, rua Fósforo, Irmãos Índios, Amor Cigano, Murmúrios da Tarde, Último Desejo – e por aí segue.

*Armando Coelho Borges, gaúcho que está em São Paulo desde 1978, é especialista em culinária e estudioso de enologia.

http://portalalone.terra.com.br/blogs_interna/blog-do-armando-223

    Péricles

    Em Belém o estádio é o Mangueirão. Pode também ser chamado de Estádio Olímpico do Pará. O homenageado atual é o jornalista Edgard Proença. Às vezes um nome como esse pode ser uma defesa contra alguns outros menos desejados. Inicialmente o Mangueirão, planejado no governo da Redentora, fora batizado de Coronel Alacid Nunes. Menos mal então que seja Edgard Proença um dos pioneiros do rádio no Brasil. Mas o nome quem dá mesmo é o povo. Façam o que fizerem o Maracanã vai continuar Maracanã, assim como o Mangueirão e os demais citados em seu ótimo comentário. Grande contribuição ao debate saindo da linha do sim ou não a quem quer que seja. Um abraço.

anselmo faria

Vamos todos de João Saldanha!

Adilson

Vamos conseguir a mudança de nome; é uma questão de honra, literalmente

João Saldanha foi um ilustríssimo Botafoguense e um homem de trajetória de vida admirável, que peitou a Ditadura e o que mais viu pela frente..

Eterno João Sem Medo.

Maria Izabel L Silva

Onde é que eu assino. Justiça seja feita.

razumikhin

Aproveita e muda também o nome do Instituto Lula.

    Aline C Pavia

    Do Instituto Fernando Henrique também.

Fabio Passos

Seria uma justa homenagem ao João Saldanha.

joão havelange é xingamento!

Francisco

Sou totalmente a favor da mudança de nome. Havelange nunca prestou serviços que não envolvessem interesses pessoais. Mas só uma pergunta: tem que ser João Saldanha porque o estádio é do Botafogo? Argumento inválido, pois o estádio não é do Botafogo. É da prefeitura do Rio. Seu uso foi concedido ao Botafogo por 20 anos. Concedido, e não doado, é bom que fiquem muito claro. Jornalista por jornalista, Nelson Rodrigues é outro nome brilhante da crônica esportiva brasileira. Qual o critério para ser um ou outro? A concessão em favor do Botafogo?

Gerson Carneiro

A Bahia tem a obrigação de se mobilizar e devolver o nome “02 de Julho” ao aeroporto internacional de Salvador.

O atual nome é tão ridículo quando o nome que se discute neste post para o Engenhão.

Tomara que o Botafogo consiga a mudança de nome e que essa reivindicaão entre em moda.

    Vianna

    Um ótimo pixo que tinha lá na Luiz Viana Filho no ano passado:

    “É 2 de julho por..!”

    (com sotaque baiano fica impagável!!!)

Gersier

Não é só o Engenhão não.
Temos que banir das ruas e avenidas brasileiras os nomes dos que deram o golpe de 64 e dos que contribuiram com a ditadura que levou o Brasil a décadas de atraso.

Gerson Pompeu

João Saldanha, grande botafoguense!

LUIZ EDUARDO MICHELAZZO

Apoio firmimente a troca de nome do Engenhão para o socialista JOÃO SALDANHA, o homem que peitou a ditadura no Brasil.

Érico

Algumas sugestões :Zico, Nunes, Junior, Rondinelli, Mozer, Adilio ou Andrade…

    Marcelo Bretas

    Se vocês não querem eles por perto,apesar de tudo que fizeram. O que nós botafoguenses temos com isso? O nome é João Saldanha e tem o meu voto.

    Marcelo

Willian

Eu voto em Maringuelão!

    M. S. Romares

    É voce, ustra? Esse guri ainda vai trabalho..

flavio

apoiado.
temos que riscar de nossas vidas os havelanges e ric. teixeiras.

ejedelmal

João A Ver Longe

Leonardo Câmara

Mas esse estádio recebeu esse nome muito antes de ser arrendado ao Botafogo, não é isso?

Creio que o ponto fundamental é largar este sectarismo bobo de lado e focar na questão de trocar o nome de uma pessoa indigna pelo de outra respaldado pela sociedade e ligada ao futebol do Rio e nacional.

O nome de Saldanha tem meu apoio.

Bonifa

Não sabemos se o estádio está à altura do grande João Saldanha.

    Adilson

    Bravo!

    Rafael

    Concordo. O saudoso João Saldanha merece um estádio de primeira linha, o que não é o caso do Engenhão.

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