Márcio Meira sugere que internautas militem em defesa dos Xavante de Marãiwatsédé

Tempo de leitura: 4 min

Crianças Xavante de Marãiwatsédé (foto do Facebook)

por Luiz Carlos Azenha

O antropólogo Márcio Meira, ex-presidente da Funai, atribui à militância digital o fato de que um grande número de brasileiros ficou conhecendo mais de perto e passou a se preocupar com a situação dramática dos Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul.

Porém, ele diz que uma situação tão dramática quanto a dos Guarani é a dos Xavante de Marãiwatsédé, em Mato Grosso, que vivem em terra homologada como indígena mas que foi invadida e desmatada por latifundiários.

A CartaCapital fez uma das raras reportagens sobre o conflito.

Trechos:

A disputa por este território expõe a dificuldade do governo em controlar os conflitos fundiários na Amazônia. Os pequenos posseiros, tradicionais inimigos dos índios na região, deram lugares aos grandes ruralistas – que se negam a deixar o território. A pressão externa tem provocado divisões internas dos Xavantes, que colocam em risco a vida das principais lideranças. “Nós vamos conseguir, tenho certeza”, diz o advogado dos fazendeiros, Luiz Alfredo Abreu, irmão da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), uma das principais líderes dos agropecuaristas no Congresso Nacional. “Eu não tenho medo. Eu quero a terra. Eu morro pela terra”, rebate o cacique Damião Paridzané.

A diáspora de Marãiwatsédé é decorrente da expulsão dos índios da região em 1966, e um dos problemas mais constrangedores do indigenismo no Brasil. Os Xavante foram levados em aviões da FAB para um outro território Xavante localizado 400 quilômetros ao sul, um aldeamento organizado por uma missão católica. Nos primeiros quinze dias, uma epidemia de sarampo matou 150 índios, e os sobreviventes fugiram para outras áreas Xavante, vivendo em uma espécie de exílio interno no País.

Após ser adquirido por uma empresa colonizadora paulista, de Ariosto da Riva, o território Marãiwatsédé passou para as mãos do Grupo Ometto e se transformou no latifúndio Suiá-Missu, com 1,8 milhão de hectares. Depois foi adquirido pela Liquigás e, em seguida, passou para as mãos da empresa italiana Agip Petrolli.

Nessa sucessão jurídica de posse, o esbulho dos Xavante passou em silêncio. Foi na Eco-92 que a situação mudou. O encontro internacional serviu para dar visibilidade, e a Agip foi constrangida, na Itália, por seus atos contrários aos direitos indígenas no Brasil. A sede da empresa decidiu devolver as terras aos índios, mas, no Brasil, o latifúndio foi invadido. Os posseiros e os fazendeiros que hoje ocupam ilegalmente a área chegaram durante esse período.

Aqui, a página em defesa dos Xavante  de Marãiwatsédé no Facebook.

Márcio Meira destaca os vários avanços realizados pelo Brasil no reconhecimento dos direitos dos indígenas desde a Constituição de 1988. Lembra que o país é reconhecido internacionalmente pela sua política de proteção dos indígenas isolados.

Destaca que o Brasil tem uma Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas, criado pelo governo Dilma.

Não é, portanto, um pessimista. Cita o último Censo, que apontou novo aumento no número de indígenas brasileiros, cerca de 900 mil.

Isso tudo convive com situações dramáticas, como a dos Guarani em Mato Grosso do Sul e a dos Xavante em Mato Grosso.

Na entrevista, o ex-presidente da Funai também comentou um artigo e uma carta de leitor publicados no jornal O Estado de S. Paulo (segundo Márcio, representativos “da ultradireita”). No artigo, Insensatez, o autor se refere à decisão da Advocacia Geral da União de suspender os efeitos de uma portaria, a 303, considerada prejudicial aos indígenas.

“Forças conservadoras, especialmente ligadas ao agronegócio, não conseguem compreender que o Brasil não pode conviver com esse tipo de situação”, afirmou o ex-presidente da Funai quanto aos casos dos Guarani e dos Xavante e de outras violações dos direitos indígenas.

Num trecho de entrevista publicado anteriormente, Márcio tinha feito referência a uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo sobre a percepção que a população em geral tem dos indígenas, que revelou alguns dados perturbadores, como este:

Uma visão mais extrema e exterminadora sobre os indígenas é observado em uma pequena parcela da população brasileira, 3% concorda totalmente que “índio bom é índio morto” e 2% concorda parcialmente com esta afirmação.

É opinião minoritária, mas a ignorância sobre a importância cultural dos indígenas talvez não seja.

Contei ao ex-presidente da Funai uma experiência que tive quando gravava um documentário numa escola da TI Raposa-Serra do Sol, em Roraima, em 2008, antes da decisão do STF que confirmou a demarcação em área contínua. Foi um dos momentos mais marcantes em meus 40 anos como repórter.

Era numa escola que recebia a visita de jovens estudantes de distintas etnias. Cada um falava seu próprio idioma. Tinham em comum o português ou improvisavam uma espécie de língua franca. Fiquei ouvindo a conversa dos adolescentes e achei aquilo lindo: além da música criada pelo som das palavras — só algumas das quais eu conseguia entender (quando encaixavam uma ou mais palavras em português) — caiu a ficha de forma concreta sobre a imensa riqueza cultural representada pela cena.

Márcio, depois de lembrar que existem 300 línguas indígenas no Brasil, muitas delas ameaçadas, concluiu: “Cada língua dessa aí há um conhecimento por trás dela. Do meio ambiente, da floresta, dos recursos naturais, da estética”.

E mais: “Essas pessoas que tem esse preconceito não conseguem se olhar no espelho. Se olhassem no espelho de verdade, com honestidade, iam ver os índios lá, no espelho, na sua cara, nos seus costumes”.

*****

O terceiro trecho da entrevista começa com a situação dramática dos Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul:

Built-in Microphone_recording 47

O segundo trecho está aqui:

Built-in Microphone_recording 47 1

O primeiro trecho está aqui:

MarcioPesquisa

Para assistir a todo o documentário, que foi finalista do Prêmio Esso de Telejornalismo, clique aqui.


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Comentários

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Roberval

Caro Azenha,

E as barbáries dos ruralistas não param por aí.

Recentemente a Polícia Federal no Acre investigou o envolvimento do vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura – CNA, senhor ASSUERO VERONEZ, e outro pecuarista de nome Adálio Cordeiro Araújo, numa rede de pedofilia. Vejam matérias no blogs abaixo:

http://altino.blogspot.com.br/2012/11/caso-assuero-veronez.html

Blog da Amazonia.

Seria importante dar visibilidade para essas matérias reproduzindo-as em seu blog e de outros jornalistas compromissados com as boas causas sociais.

agradeço

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strupicio

“Governo” é apenas um tipo de síndico do condomínio dos ricos…eleições, democracia, congresso é apenas um reality show dos mais capengas e grotescos onde um bando de mequetrefes e piriguetes (politicos) aceitam fazer o papel ridículo de “representantes do povo” para a plateia de basbaques continuar se iludindo…e la nave vá

Mardones Ferreira

Impossível não falar da falta de comprometimento do ‘esqueçam-o-que-escrevi’ com a causa indígena, fato, que por si só, já o colocaria como um dos piores presidentes que já tivemos.

E também da quase completa inaptidão do PT no lidar com a questão. Aliado do agronegócio no plano federal, o partido viu-se impedido de agir a favor dos índios. Resta a vergonha colossal. Mais uma.

É esse o Brasil que se dirige ao mundo como detentor de uma nova visão do mundo no discurso. Porém, com uma prática, no mínimo, conservadora.

Marãiwatsédé – nossas terras estão invadidas | PIG

[…] http://www.viomundo.com.br/denuncias/marcio-meira-sugere-que-internautas-militem-em-defesa-dos-xavan… Gostar disso:GosteiSeja o primeiro a gostar disso. Esse post foi publicado em DENÚNCIA e marcado Marãiwatsédé. Guardar link permanente. ← Febre amarela – uma epidemia midiática, por Cláudia Malinverni […]

cristiano

Coloca aí as fotos das crianças do posto da mata que são 800.
Coloca aí que não são posseiros, pois todos tem escritura em cartório.
Coloca aí que a AGIP não doou e sim vendeu a escritura aos produtores.
Coloca aí que a terra Xavante não é lá, e sim onde hj há um assentamento do INCRA, por isso querem tanto o posto da mata.
Coloca aí que o CACIQUE DAMIÃO é funcionário da FUNAI.
Coloca aí que o laudo feito é FALSO, pois a ANTROPOLOGA nem lá foi.

    renato

    É isto aí Cristiano!
    Meta o cacete!
    Quem fere ou deixa ferir indio..
    Tem que ir pro Inferno!
    Minha Presidente ter que ver isto de perto…
    Senadores e deputados, daqui um tempo nós vamos votar novamente.
    Mas não esperem até lá…… Façam algo decente perante a Humanidade.
    Se estes caras morrerem, nós estamos ferrados..
    Estes caras deveriam ser treinados para ser SOLDADOS do meio ambiente.
    dEVERIAM INTEGRAR O pAIS COMO VERDADEIROS CIDADÕES QUE O SÃO.
    utopia????? Penso que não!
    Indio trata de Indio, uma nação dentro da nossa nação.

    Rubens

    Boa Cristiano,

    Alguem tem que trazer as verdades desses bandidos que utilizam dos indios para atender vontades de ONGs que so pretendem frear desenvolvimento do pais!

    Rubens

    A propriedade dessa terra é legitima dos produtores. FUNAI BANDIDA!!!

Francisco

Há fortes suspeitas de que pelo menos duas nações indigenas inteiras tenham sido exterminadas durante o regime militar, em virtude dos “contratos de risco” com multinacionais.

É crime de genocidio. Aquele tipo de crime contra a humanidade que faz toda a população do planeta terra odiar e banir, legalmente, os movimentos nazistas.

Ninguém jamais será processado por, numa matéria de jornal, definir um nazista como “porco”. No Brasil, corre-se o risco de ser processado e/ou parar na cadeia.

No Brasil, um juiz do STF classificou o regime militar genocida de “mal necessário”.

Sem nossa Nuremberg (e a Comissão de Verdade parece que não será ela), milicias, grupos de exterminio, tortura, Pinheirinhos e genocidios continuarão a acontecer.

“Tortura é uma coisa que acontece com o tipo de gente que é presa, não me diz respeito”, esse raciocinio mudaria bastante se o brasileiro médio soubesse quantas pessoas são presas por engano no Brasil…

O que mais me impressiona é o volume de igrejas cristãs nesse tipo de debate. Zero.

Só aparecem para converter indigenas, cumprir a sua cota, ir para o seu céu e largar na terra mais um indigena confuso e atordoado. Um suicida em potencial.

Etnocidio ainda não dá cadeia. Pudera, genocidio também não.

    Luiz Carlos Azenha

    Nosso próximo passo é entrevistar alguém da Comissão da Verdade a respeito. abs

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