Lumi Zúnica: Toledo pode ser preso acusado de embolsar U$ 20 mi através da sogra

Tempo de leitura: 4 min

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ODEBRECHT: EX PRESIDENTE PERUANO PODERÁ SER PRESO NAS PRÓXIMAS HORAS

por Lumi Zúnica*

Fiscais anti-corrupção, integrantes de unidades de combate ao crime organizado, membros do Ministério Público e da Policia Nacional do Peru cumpriram na manhã deste domingo (05/02/2017) uma ordem de busca e apreensão na residência do ex-presidente peruano Alejandro Toledo.

As autoridades procuravam indícios de que o ex-presidente aceitou suborno de 20 milhões de dólares da Odebrecht para facilitar licitações das obras de construção dos trechos 2, 3 e 4 da estrada Interoceânica, que liga o Brasil ao Peru.

Na mansão localizada no luxuoso bairro de La Molina foram apreendidos diversos objetos, dentre os quais um cofre que precisou ser retirado de uma das paredes do banheiro principal da mansão mediante o uso de marretas e talhadeiras.

Também foram recolhidos extratos de contas bancarias, vídeos, bilhetes, dólares numa quantia não divulgada e peças de ouro.

POSSÍVEL PRISÃO

O fiscal Hamilton de Castro, da Primera Fiscalía Supraprovincial Anticorrupción, encarregado das investigações que envolvem construtoras brasileiras no marco da Operação Lava Jato, comandou a operação.

As portas do imóvel não precisaram ser arrombadas pela polícia, já que um funcionário do ex-presidente permitiu o acesso das autoridades, que permaneceram na residência durante nove horas.

Segundo divulgado por meios de comunicação locais, Hamilton de Castro deverá solicitar ordem de prisão contra Toledo nas próximas horas.

As acusações constam na delação premiada assinada entre o Ministério Público do Peru e o mais alto executivo da Odebrecht no país, Jorge Barata.

NEGOCIANDO A PROPINA

A negociação entre Toledo e a Odebrecht, segundo a polícia, teve início durante a XVIII Reunião de Chefes de Estado e de Governo do Mecanismo Permanente de Consulta e Concertação Política –Grupo do Rio, realizada entre os dias 3 e 5 de novembro de 2004.

O intermediário das negociações, segundo Barata, era Avraham “Avi” Dan On, chefe da segurança pessoal de Toledo.

Ao menos dois outros encontros aconteceram em 2004.

Um no palácio de governo do Peru durante um evento social no qual o chefe de segurança do presidente e Barata conversaram sobre favorecimentos nas licitações da Transoceânica.

O outro foi na suíte presidencial do Hotel Marriot, no Rio de Janeiro, com a presença do então presidente Toledo, do operador Josef Maiman e dos executivos Gideon Weinstein e Sabi Saylan, ambos funcionários de Maiman.

No encontro foram solicitados U$ 35 milhões para Toledo favorecer a construtora com a concessão das obras da Interoceânica.

O dinheiro teria que ser depositado em contas das empresas de Maimam e na conta da offshore Ecoteva Consulting Group, criada na Costa Rica pela sogra de Toledo, Eva Fernenbug.

Em junho de 2005 os trechos 2, 3 e 4 foram outorgados a consórcios internacionais: Odebrecht, Graña y Montero, JJC, Ingenieros Civiles e Contratistas Generales ganharam o trecho 2, que liga Urcos a Inambari e o trecho 3 ligando Inambari a Iñapari, na divisa entre Peru e Brasil; Andrade Gutierrez, Camargo Correa, Queiroz Galvão, Upac, Super Concreto e Málaga Hermanos ganharam o trecho 4, na rota Inambari–Azángaro.

Porém, algumas das bases da licitação que deveriam ser modificadas por Toledo, conforme acordado no esquema, se mantiveram inalteradas, levando o grupo a reduzir a propina para U$ 20 milhões.

As licitações foram assinadas sob os chamados “Convênios de Estabilidade Jurídica e Cambial” promovidos pela Lei de Investimentos Estrangeiros e controlados pela estatal peruana Proinversion.

Em maio de 2016, em matéria publicada neste mesmo blog, denunciei o mecanismo dos convênios como principal instrumento para a construção da rede de corrupção pela Odebrecht e outras empreiteiras brasileiras no Peru.

A denúncia parece se confirmar agora com as declarações de Jorge Barata e as ordens judiciais emitidas pela justiça peruana.

NO RASTRO DO DINHEIRO

Documentos apreendidos pelos fiscais anti-corrupção mostram que uma série de transferências foi realizada entre o Citibank de Londres e o Trend Bank Limited do Brasil pela offshore panamenha “Confiado Internacional” e as empresas Sirlon Dash Consulting Group, Milan Ecotech Consulting e Ecostate Consulting, todas envolvidas na investigação que os promotores realizam contra a empresa Ecoteva Consulting Group, offshore que teria sido criada pela sogra de Toledo, Eva Fernenbug, na Costa Rica.

Os valores movimentados pelas empresas chegam a quase 19 milhões de dólares, segundo a promotora Elizabeth Parco Mesía.

“UMA VERGONHA, TRAIÇÃO AO PERU”

Durante entrevista a uma rádio colombiana, o atual presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski declarou tratar-se de “uma traição ao povo peruano”.

Kuczinsky afirmou que Toledo deve se colocar à disposição da justiça e voltar ao Peru para responder às acusações.

TOLEDO SE DEFENDE

Alejandro Toledo, economista nascido em 1946 na cidade de Ancash, região andina peruana, governou o país entre julho de 2001 e julho de 2006.

No momento da busca e apreensão realizadas na sua residência, o ex-presidente e sua esposa, a francesa Eliane Chantal Karp Fernenbu, se encontravam de férias em Paris.

Segundo Toledo, o motivo da viagem ao Exterior foi também a assinatura de contrato para dar aulas na Universidade de Stanford, onde ele próprio estudou, mas parlamentares peruanos afirmam que não existe tal contratação.

Desde Paris, em entrevista a um jornal peruano, Toledo negou as acusações “de forma absoluta e completa”.

*É jornalista investigativo

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Jotage

Oras bolas, um amador.
Combine propina com empresas, americanas, francesas, finlandesas, e não vai dar nem inquérito.
Vejam São Paulo, com Alstom, Siemens, espanhóis, tudo devidamente arquivado. Só acharam os corruptores. Não havia corruptos.

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