Luís Francisco: Suspensão de acordos de leniência e mudança na CGU fazem parte do “acordão” para abafar Lava Jato

Tempo de leitura: 4 min

temer, renan, sarney e jucá

por Luís Francisco, especial para o Viomundo

No final de março, publiquei um texto no Viomundo, no qual disse que a divulgação do possível acordo de leniência iria acelerar o processo de golpe.

Na ocasião, alertei: a divulgação dessa informação fazia parte de uma provável operação para abafar as investigações que poderiam ser amplas e atingir os governos estaduais, especialmente o de São Paulo.

A divulgação de áudios das conversas de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, com o senador Romero Jucá (PMDB-RR) aponta justamente para uma conspiração golpista que visa paralisar as investigações em curso e fazer, o que denunciei como, um “acordo dos investigados na Lava Jato”.

Retomo esse texto para alertar os movimentos sociais e a esquerda de que as intenções para esse “acordo de investigados na Lava Jato” já foram materializadas.

O ponto de partida foi o usurpador Michel Temer — em nome de falsa austeridade –acabar com status da Controladoria Geral da União (CGU) como Ministério.

Os funcionários da CGU alertaram: a medida fragiliza a investigação de desvios tanto no governo federal como das transferências de recursos para os governos estaduais e municipais.

Não adiantou a advertência. A sociedade ainda não se deu conta da sua gravidade.

O objetivo da mudança seria interromper o acordo de leniência da Odebrecht, como aparecem em diálogos recentes?

A hipótese mais provável é a de que, ao tirar o status da CGU como ministério, se altere a lei do acordo de leniência — lei n° 12846/ 2013 –, especialmente para inviabilizar o acordo com a Odebrecht e outros em andamento.

A lei n° 12846, de 1 de agosto de 2013, determina as normas para acordos de leniência e confere papel estratégico à CGU, como mostra o seu artigo 8º:

“Art. 8º A instauração e o julgamento de processo administrativo para apuração da responsabilidade de pessoa jurídica cabem à autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que agirá de ofício ou mediante provocação, observados o contraditório e a ampla defesa.

§ 2o No âmbito do Poder Executivo federal, a Controladoria-Geral da União — CGU terá competência concorrente para instaurar processos administrativos de responsabilização de pessoas jurídicas ou para avocar os processos instaurados com fundamento nesta Lei, para exame de sua regularidade ou para corrigir-lhes o andamento”

Isso fica transparente em diversos diálogos divulgados nessa semana pela Folha de S. Paulo. Por exemplo, naquele entre Sérgio Machado e Romero Jucá, onde é dito que caiu a ficha do PSDB que seria atingido e se fala num pacto para “estancar a sangria”, representada pela Lava Jato.

Esses diálogos ocorreram em março de 2016, quando já deveria estar circulando informações de que o acordo de leniência da Odebrecht seria amplo.

Em 22 de março, a própria Odebrecht, em nota, confirmou a negociação do acordo.

Pois esse é o pano de fundo desses diálogos entre Jucá e Machado. Daí a necessidade de um pacto para paralisar as investigações.

Em outro diálogo gravado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), diz a Machado que a situação é “grave e vai complicar. Porque Andrade fazer [delação], Odebrecht, OAS.”

Os indícios são de que o governo Temer pretende alterar a lei do acordo de leniência com o intuito de ser seletivo nas denúncias e impedir que cheguem aos seus aliados.

Uma pista de que a verdadeira intenção é abafar as investigações é a indicação de Fabiano Silveira, novo ministro da Transparência e Controle, que foi feita pelo senador Romero Jucá. No primeiro diálogo divulgado, ele fala em barrar a Lava Jato.

Neste domingo, 29, o Fantástico mostrou gravação que reforça essa hipótese.

Em áudio gravado por Sérgio Machado, Fabiano Silveira aparece orientando o ex-presidente da Transpetro e Renan sobre “providências e ações” contra a Lava Jato. Eles tecem críticas à operação.

O pior é que todos os acordos de leniência com empresas citadas na Lava Jato e que são amplos e chegam aos governos estaduais, especialmente o de São Paulo, foram paralisados pelo governo Temer.

Aqui, basta lembrar, o que disse Sarney sobre a delação premiada da Odebrecht: “uma metralhadora ponto 100”, que, em tese, pelo seu alto poder de destruição poderia abalar a República.

Em matéria recente, a jornalista Cristina Lobo disse que o próprio Ministério Público viu nos grampos uma tentativa de fazer alterações na legislação com o intuito “de atenuar as regras para investigação” em três pontos. Destaco o terceiro: “mudar a lei sobre acordo de leniência de modo que, após tal acordo, cessem as investigações criminais”.

Na semana passada, atendendo a um questionamento feito pelo PDT, o ministro Luiz Roberto Barroso, do STF, deu cinco dias de prazo para Temer responder sobre as alterações nos ministérios.

Barroso poderia, pelo menos, devolver à CGU o status de Ministério. Com isso, impedir práticas do governo provisório para inviabilizar o poder de investigação da CGU e que podem abafar a Lava Jato.

Há muito aprendi que são os atos e não as palavras e o teatro da política que definem a atuação política de um governo.

Os brasileiros devem rejeitar este ataque às investigações, que podem chegar aos verdadeiros “chefes do petrolão”: Cunha e o PMDB.

E lembrar que, pela primeira vez, temos um governo comandado por um ficha suja, o que já deveria ter sido motivo suficiente para rejeitar este governo usurpador.

Para terminar, ouso dizer que os diálogos de Sérgio Machado com os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros e o ex-presidente José Sarney indicam que um “acordão” para melar o acordo de leniência com a Odebrecht e outras empresas já está em marcha.

No momento, o governo do usurpador Temer só está preparando uma lei para enterrar essas investigações. O cheiro de pizza está no ar.

Devemos reagir nas ruas para deter mais esta faceta perversa do golpe no Brasil.

Leia também:

Pimenta: O assunto do encontro Temer-Gilmar foi o “acordão, com o STF, com tudo”?


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Comentários

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André

Um esclarecimento, por favor: quem assina o artigo é o Procurador Luis Francisco de Souza?

Helenita

Você está certíssimo, Roberto L! Essa mentalidade de “Lavajato Intocável” só serve para fomentar uma cultura draconiana, policialiesca, reacionária, que irá pavimentar o caminho para uma candidatura desse odioso Sérgio Moro, pois ele próprio tem seu passado manchado por sua atuação no caso Banestado, e não é pouca coisa; daquele processo e agora desse “Lavanada” vê-se claramente que a direita mais entreguista, escravocrata e corrupta encontrou seu candidato apropriado.

Joel Figueiredo

Acredito que esta em marcha um golpe do golpe, o PSDB junto com a Mídia, STF, PGR, estão coordenando uma operação para extirpar do governo os ministros envolvidos na lava jato, deixando apenas o Temer a Frente, foi isto que o Gilmar foi combinar no sábado com o Presidente Interino, e trazendo o PSDB para o poder, eles estão preocupados com a cara e o cheiro do Golpe.

Bel

Lia agora a pouco que Temer não vai demitir o ministro. Não confiam que seja verdade os áudios do Fantástico? Até os amigos da Globo não obedecem mais à ditadura do PIG. Ou será que a ¨rebeldia¨ de Temer faz parte do pacto para acabar com a Lava Jato?

Julio Silveira

E alguém duvidava que os velhos capos não iriam operar mudanças para o resgate ao momento Brasil corrupto tranquilo. Os coxinhas que apoiaram a operação e acabaram virando trouxinhas são imbecis de sempre que fazem o atraso do Brasil, em todos os sentídos, a gerações. O problema é que apesar de serem os imbecís que têm promovido o atraso do país por transferência de DNA, eles são arrogantes demais para fazerem essa auto crítica e melhorarem.

Carlos Santos

Você está olhando a situação no sentido oposto ao real, seguindo a linha de desinformação traçada pela imprensa golpista.

O fato é o contrário: a Lava Jato foi usada como instrumento para chantagear o PMDB, levando-o a aderir ao golpe. Quem toca a Lava Jato é o PSDB, via Sergio Moro. Esses vazamentos servem para manter o PMDB sob controle.

    CLEIBSOM CARLOS

    Você está certo em quase tudo!! Erra apenas sobre a origem dos vazamentos: na verdade os vazamentos são causados pelo próprio PMDB para que a Lava Jato, sob pressão pelo conteúdo das gravações, investigue o PSDB…

    FrancoAtirador

    .
    .
    Concordo, Prezado Carlos Santos.
    .
    Há, Pelo Menos, 3 Objetivos
    nos Últimos Lances da OC-PPP
    (OLJ + Mídia Jabá + PSDB + GM):
    .
    1) Controlar o Michel Jaburu,
    com Achaques Permanentes,
    deixando-o como Decorativo.

    2) Pressionar Renan e o Senado,
    para manter os Votos no Impíxi
    e evitar o Retorno da Presidente.

    3) Preservar os Representantes
    do Mercado, na EkipEkonômika,
    para efetivar o Plano Ultraliberal.
    .
    Eles têm ainda 2 Cartas na Manga:

    1) O Mandado de Prisão do Lula
    que póde ser Decretada por Moro.

    2) O Processo no TSE, na mão do GM,
    para a Cassação da Chapa PT/PMDB.
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    A Maior Parte das Pessoas ainda não compreendeu,
    não aceita ou se recusa inconscientemente a aceitar
    que há um Processo de Golpe Institucional em curso,
    no País, onde não vigora mais o Estado Democrático,
    dada a Absoluta Insegurança Jurídica Instalada aqui,
    uma vez que, a qualquer momento, alguém póde ser
    preso, simplesmente por ter o nome exposto na Mídia.
    .
    .

    Roberto L.

    Azenha, é perigoso a esquerda entrar nessa “onda” de defesa da Vaza a Jato, estão fazendo o jogo da direita.

    A Vaza Jato não vai acabar com corrupção alguma no país, é só um instrumento da direita neoliberal golpista ligada aos EUA de impor um regime neoliberal linha dura no país. Renan, Sarney e cia perto disso viraram coisa menor (mal menor), dá pra aturar gente como eles numa República, mas o país sem democracia, que é o que o Moro quer junto com Janot, o retrocesso será brutal pro povo. Não embarquem nesse udenismo ridículo de parte da esquerda ignorando a natureza dessa operação. Nessa o Renan e cia acertaram, a Lava Jato tem que acabar ou ela acaba com o país, os corruptos só estão preocupados com o couro deles, mas alguns já têm ciência que os alvos não serão só eles e sim o povo e a democracia.

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