Luciano Martins Costa: Nossa “Mãos Limpas” e a cobertura seletiva

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Ilustração via Horatio Nelson, no Facebook: Gaspari sobre Francis na Folha, em 1997

Paulo Francis não morreu

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa

Os jornais do fim de semana registram o que pode vir a ser o ponto de inflexão das relações viciadas entre a política e os interesses privados no Brasil.

A prisão de 24 altos executivos, entre os quais quatro presidentes de grandes empresas e um ex-diretor da Petrobras, coloca nas mãos da Justiça o material necessário para aprofundar as investigações sobre a corrupção e passar a limpo o sistema de financiamento de campanhas eleitorais.

A última etapa da ação policial está sendo chamada de “Juízo Final”. Os jornais dizem que serão citados pelo menos 70 senadores e deputados. Também está publicado que todos os partidos, com exceção do PSOL, foram financiados pelas empreiteiras acusadas no escândalo.

O evento coloca o Brasil diante da possibilidade de levar à frente uma “Operação Mãos Limpas” como a que sacudiu as instituições italianas nos anos 1990.

O alto risco dessa operação reside no fato de que sua continuidade pode depender do empenho da imprensa em dividir com equilíbrio e de forma equânime as responsabilidades, sem omitir ou dissimular as culpas conforme a filiação partidária dos acusados. Deve-se lembrar também que o esquema descrito pelos jornais na segunda-feira (17/11) é uma cópia exata do “clube de fornecedores” revelado no escândalo do metrô de São Paulo.

Entre as muitas páginas publicadas desde sábado (15), apenas a Folha de S. Paulo dá espaço para os dois pontos que irão definir o alcance da ação policial.

Num deles, o colunista Luiz Fernando Viana critica a omissão da imprensa em buscar as origens do esquema de corrupção que envolve gestores públicos e fornecedores de produtos e serviços ao Estado.

O jornalista questiona: “Por que passamos a achar que nos cabe apenas noticiar os acontecimentos mais recentes, sonegando ao leitor informações que ampliariam sua capacidade de discernimento?”

No outro exemplo, o articulista Ricardo Melo observa, muito a propósito, que, em 1997, o jornalista Paulo Francis afirmou, em comentário no programa Manhattan Connection, que havia um esquema de roubalheira na Petrobras.

O então presidente da empresa, Joel Rennó, em vez de tomar alguma providência, abriu um processo de US$ 100 milhões contra Francis, lembra o articulista da Folha.
 
Um fantasma nas redações

Portanto, está definido o ponto mínimo de movimentação da imprensa diante do escândalo, sem o qual o noticiário deixa de merecer credibilidade: quais eram os fatos a que se referia o polêmico comentarista.

O jornalista Franz Paul Heilborn, que assinava sua coluna nos jornais e se apresentava na TV como Paulo Francis, morreu menos de um mês depois de ser informado por seus advogados de que não tinha como se defender no processo movido pela Petrobras na corte de Nova York.

Como havia acusado sem provas, baseado em fontes que não podia revelar, entrou em depressão e sofreu um estresse que causou sua morte por um ataque cardíaco, segundo revelou sua mulher, a jornalista e escritora Sonia Nolasco.

A lembrança de sua denúncia vem agora assombrar antigos dirigentes da empresa petroleira e colocar a imprensa brasileira diante de um dilema: se persistir em circunscrever o escândalo aos fatos recentes, datando o processo a partir do ano 2013, o noticiário ficará marcado pelo partidarismo e a manipulação.

Se for investigar as origens do escândalo, completando a pauta levantada por Paulo Francis há 17 anos, terá que reconhecer que a corrupção na Petrobras tem raízes mais profundas, e estará aberto o caminho para uma operação de larga escala contra a roubalheira.

O ponto de partida dessa pauta é sua afirmação de que, em 1997, diretores da Petrobras engordavam contas bancárias na Suíça com dinheiro de propinas obtidas na compra de equipamentos.

O escritor e colunista Carlos Heitor Cony já havia feito pelo menos duas referências (aqui e aqui) à sua história, em março e setembro deste ano, na própria Folha, mas nenhum jornal teve interesse em revisitar o passado.

Cony e outros jornalistas que trabalharam com Francis, como este observador, sabiam que ele não era um repórter investigativo, mas tinha fontes poderosas. Os fatos que agora vemos expostos nos jornais demonstram que sua denúncia tinha fundamento.

A revelação de que policiais federais do Paraná envolvidos na Operação Lava Jato atuavam como cabos eleitorais do PSDB cria para a instituição um dever de honra: levar o inquérito aos níveis de uma “Operação Mãos Limpas”, acabando com o vazamento seletivo de informações.

Os jornais não poderão seguir com seu joguinho de mostra-e-esconde. O fantasma de Paulo Francis vai assombrar as redações.

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Comentários

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WANDERLEY SANTOS FERRAZ

quando foi indentificado que o brasil erpoliticosa presidido por dois “GOVERNOS”, ficou bem claro que um, se tratava do PARALELO representado pelas empreiteiras. naquele momento uma ou outra materia sobre o assunto, será ter sido dênuncia “VAZIA”, houve investigação? foi levada dênuncia ao ministério púbico? para que houvesse prosseguimento e concluído processo com penalidades previstas em leis; por falta de disciplina, esta prática criminosa só fez crescer em proporções exorbitantes…foi detectada no governo collor, passou por itamar, 2 vezes FHC,(que tudo indica quem mais tirou “vantagem”, más a aparência de governo de governo limpo, não passou de um engano; chegava as dênuncias, e o brindeiro ENGAVETAVA!!!,A PRESIDENTA DILMA, tem a oportunidade de deixar a marca do seu governo na HISTÓRIA DO PAÍS, levando este casa às últimas consequências, que com certeza será um presente para o povo brasileiro. não importa a sigla partidária, seja; PT, PSDB, PMDB e os nanicos(partidos,funcionários públicos e empresários), chega de impunidade ou de tolerância com ladrões, a eles aplicam-se as leis, com a devida penalidade e confisco do BEM ROUBADO. não é admissível que uma cambada de politicos ratos estejam já fazendo ACORDO para mais um ENGAVETAMENTO, pois assim sendo, como vão agir os novos , funcionários públicos e empresários que venham a ocupar essas mesmas funções apriori. este acordão interessa aos politicos corruptos, como também ao PIG, não suporta a idéia de submentee ao MARCO DA REGULAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÕES DO BRASIL…MUDA MAIS BRASI… palavras da presidenta DILMA, “não vou deixar pedra sobre pedra”, essa gente obstinada ao erro..se colocam com proprietários do BRASIL, o momento está maduro para dá um BASTA NESTA BANDIDAGEM….MUDA MAIS BRASIL, COM DILMA.13 E A FORÇA DO POVO…

O Mar da Silva

Ainda bem que hoje tem os sujos e uma imensidão de seguidores que sabem que o PIG vai distorcer ao máximo as investigações em curso. Sem falar na atuação no mínimo suspeita do juiz Moro e dos 04 delegados altamente partidarizados que devem ser seguidos de perto pelos jornalistas da mídia independente.

Só assim a Lava Jato não será monopólio do PIG. Aliás, até o mundo mineral sabe que o Youssef operou no esquema do Banestado, aquele que movimentou mais de US$ 100 bilhões pelas contas CC-5 lá na década de 1990.

Por incrível que pareça, o juiz era o mesmo e o advogado do Youssef também. Não custa lembra que o advogado (Antônio Augusto Lopes Figueredo Bastos)ocupou cargo na Sanepar por indicação do tucano Richa. E seu filho, Bruno, ocupa cargo de confiança também.

Ou seja, se depender do sr Moro, dos delegados aecistas a Lava Jato terá o mesmo destino do caso Banestado.

Sem falar nos acordos entre as bancadas dos partidos envolvidos para deixar tudo como está.

Rodrigo

E não é que o Francis tinha razão?

Marat

Mãos limpas com o dedo médio sujo!

Mário SF Alves

“Cony e outros jornalistas que trabalharam com Francis, como este observador, sabiam que ele não era um repórter investigativo, mas tinha fontes poderosas. Os fatos que agora vemos expostos nos jornais demonstram que sua denúncia tinha fundamento.”

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Paulo Francis: uma denúncia histórica, um processo de cem milhões de dólares por calúnia e difamação e um enfarto fulminante.

Processado onde mesmo? Nos USA.

E por quê?

Ora, senhor jornalista, onde já se viu denunciar amigos/prepostos nossos e com isso prejudicar nossos interesses energéticos e estratégicos no Brazil? Ma nem que…

Ou você acha que a carga pesada contra o PT é só e somente só em razão de reacionarismo do PiG local?

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