Luana Tolentino: Quem sairá às ruas pelas vítimas da Nigéria?

Tempo de leitura: 4 min

Baga - Nigéria

Luana Tolentino: Eles não são Charlie

Desabafo de Luana Tolentino,  via e-mail

A França sangra. Essa é a frase que encontrei na capa da edição de sábado do jornal. Na semana que passou 17 pessoas foram vítimas do fundamentalismo islâmico. Dentre elas, os cartunistas do Charlie Hebdo. No domingo, pela TV, tento identificar um a um os líderes políticos a frente da marcha que levou mais de 2,7 milhões de franceses às ruas.

Enquanto isso, o sangue jorra na Nigéria, país que concentra a maior população negra do mundo.  Dois mil nigerianos perderam a vida. Em meio ao massacre, muitas mulheres e crianças. Assim como os jornalistas franceses, também foram vítimas do extremismo religioso. Mas não sei quem são. Não têm nome, não têm rostos, não existem. Não estampam a primeira página dos jornais, nem merecem um nota nos programas dominicais. Não suscitam sequer uma campanha nas redes sociais.

Eles não são Charlie. Parece natural que sejam mortos. Assim como são naturais os conflitos, os massacres e a dor na África, desde que alemães, belgas, ingleses, franceses e tantos outros iniciaram o processo de exploração dos territórios africanos.

Quem sairá às ruas em solidariedade às vítimas de Baga? Quem se insurgirá contra a violência do grupo Boko Aram? Angela Merkel, François Holland, Mahmoud Abbas ou Benjamin Netanyahu? Acho que nenhum.

O Papa Francisco? Quem sabe…

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Os massacres na Nigéria e o silêncio do Ocidente

do site da IHU Unisinos

Em meio à comoção gerada pelos atentados terroristas em Paris, na França, um arcebispo nigeriano acusou países ocidentais de ignorarem a ameaça representada pelo grupo extremista Boko Haram.

O Arcebispo da cidade de Jos, Ignatius Kaigama, ainda pediu que a mesma atenção dada aos atentados na França seja dada aos militantes que atuam com cada vez mais violência no nordeste do país africano.

Segundo ele, o mundo precisa agir de forma mais determinada para conter o avanço do Boko Haram na Nigéria.

No último fim de semana, 23 pessoas foram mortas por três mulheres-bomba, uma das quais tinha apenas 10 anos de idade.

A reportagem é publicada por BBC Brasil, 12-01-2015.

Outras centenas de mortes foram registradas na semana passada, segundo relatos, durante a captura pelo Boko Haram da cidade de Baga, no Estado de Borno, no nordeste do país.

Em entrevista ao programa Newsday, da BBC, o arcebispo nigeriano disse que o massacre em Baga é a prova de que o Exército do país não consegue conter o grupo extremista.

“É uma tragédia monumental. Deixou a todos na Nigéria muito tristes. Mas parece que estamos desamparados. Porque, se fossemos capazes de deter o Boko Haram, já o teríamos feito. Eles continuam a atacar, matar e a tomar territórios impunemente”, disse Kaigama.

Segundo ele, a luta contra o extremismo no país requer o mesmo apoio internacional e espírito de unidade que foi demonstrado após os ataques de militantes na França.

“Precisamos que este espírito se multiplique, não apenas quando isso ocorre na Europa, mas também na Nigéria, no Níger ou em Camarões.”

Mulheres-bomba

No domingo passado, duas mulheres-bomba mataram quatro pessoas e deixaram mais de 40 feridas na cidade de Potiskum.

Um dia antes, uma menina realizou outro ataque suicida em Maiduguri, a principal cidade do nordeste do país, matando ao menos 19 pessoas.

No último mês, mais de 30 pessoas foram mortas em ataques suicidas simultâneos na cidade de Jos, que tem cristãos e islâmicos em sua população.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, condenou os ataques do Boko Haram, que classificou como “atos depravados”.

Em junho, o Reino Unido disse que intensificaria sua ajuda ao país nas áreas militar e de educação, para conter o Boko Haram.

Essa ajuda também inclui treinamento das tropas do país, assim como vêm fazendo os Estados Unidos.

No entanto, a Nigéria criticou o governo americano por sua recusa de vender armas ao país alegando que as tropas nigerianas estavam cometendo abusos de direitos humanos. Uma iniciativa liderada pelo governo francês pediu que Nigéria, Níger, Camarões e Chade contribuíssem com 700 soldados cada para uma força internacional contra o Boko Haram, mas nenhum país implementou o plano.

Violência chocante

O Exército nigeriano informou que está tentando retomar a cidade de Baga, que está sob o controle de militantes, mas não deu detalhes da operação.

Também disse que, no último sábado, conseguiu impedir que o Boko Haram assumisse o controle de Damaturu, outra grande cidade do nordeste nigeriano.

Will Ross, correspondente da BBC News em Lagos, a principal cidade da Nigéria, diz que a violência no país não tem fim e é cada vez mais chocante, citando o uso de uma criança em um dos ataques do último fim de semana.

“As Forças Armadas nigerianas tiveram algumas vitórias, mas têm uma tarefa muito difícil, de proteger civis de homens-bomba e atiradores que estão espalhados por uma grande área no nordeste do país. Por isso, com frequência, são dominadas pelos militantes e falham em sua missão. As autoridades do país não gostam de ouvir isso, mas é verdade”, afirma Ross.

“O mundo está lentamente começando a manifestar indignação com a recente violência, mas, além disso, e de uma ajuda limitada, não parece haver vontade de se envolver mais profundamente no conflito.”

Leia também:

Andre Vltchek: Como o Ocidente está manufaturando o terrorismo islâmico


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Comentários

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andre gialluisi

essas postagens sinceramente ,alem de hipocritas são intolerantes.não aguento essas pessoas que se colocam como paladinas da justiça, as únicas com discernimento que ,na verdade são arrogantes,vaidosas . ora, primeiro que é de uma ignorancia comparar tragedias ,são seres humanos tanto um como milhares. ademais, para se exibirem ,criam monstros para terem o que combaterem,pois ha bastante noticiarios na midia sim mas como toda noticia, e em todas as épocas, não ha nomes em grandes tragedias…quem compara a dor não tem noção da dor

Gilvane Felipe

Por estes e por aqueles eu me revolto e me manifesto.
Nem só por uns, nem só por outros, por ambos, pela vida e pela liberdade, contra a intolerância onde quer que ela se mostre.

carlos moura

Tudo que, historicamente, a “grande mídia” repercute está diretamente ligado aos interesses econômicos de seus detentores, que são pouquíssimos grupos em todo lugar do mundo – no caso do Brasil, infelizmente, ela noticia apenas o que lhe convém, com o beneplácito dos governos (municipais, estaduais e federal), que sempre são o seu maior anunciante ou patrocinador. No nosso caso, não tenhamos ilusão: a postura assumida pela maioria dos veículos dessa mídia – de solidariedade ao Charlie Hebdo, só tem a ver com o interesse econômico, imperou o corporativismo dos empresários do meio jornalístico; nada ou pouco relacionado com a preocupação com a liberdade de expressão, que aos profissionais do Jornalismo é negada no âmbito interno das empresas. Afinal, no Brasil profissionais empregados dos “grandes veículos” têm seus direitos humanos e de livre expressão clevados em conta na relação capital-trabalho? Eu não constato isso.

Gerson

O mundo está com a boca fechada sem reagir sobre esses casos que estão sendo verifido em ultimas países Áfricanos principalmente na Nigéria, os corações dos africanos estão com lágrimas, Eu pergunto o que fizemos de errado que nos colocam nestas situações tão desumanas? Nascemos para sofrer? Os africanos já fizeram várias perguntas sem respostas. O presidente da Líbia ( Kadafi) foi assassinado pleno a sua função, segundo franceses e americanos que condenaram a forma que ele governava o país, foi assassinado mas todos os africanos sabem que morto dele foi por causa de petróleo que tem lá. Pessoas estão morrendo na Nigéria. Pessoas sempre dizem somos iguais, isso é verdade mas somos excluído pelos acham aqueles são mais importantes, Deus criou vidas não raças, escolhemos este nome(raça) só para deixar outrora pessoas inferior, estamos sem força mas isso não implica que a gente não entende questão políticos quando precisam de questão economicos, está é hora de América reagir pelo bem da humanidade sem interesse políticos mas pela justiça. Na verdade tem momentos que fico pensando será que somos esquecidos, tem coisas que acontecem na África parece que tudo esta normal, vejam questão de ebola maiorias não lembram se tem pessoas que estão morrendo, ninguém fala parece que tudo esta bem. Eu nunca esqueço nem esquecerei .

Claudio NFM Maschio Westphal

Ei luana sua postagem é show show

Claudio
blog:http://euinquiridor.blogspot.com.br/
Florianópolis – SC
Brasil
48 8441 8511

adolfo

Isto é uma vergonha!!…É por eles serem negros k ñ ha protestas??dps dizem n k ñ há racismo filhos da pu…

rosemeire de souza ribeiro

TRISTE MUITO TRISTE

Gerson Carneiro

Para quem insiste em negar a hipocrisia do grupelho de “líderes mundiais” em Paris, aqui está a prova.

Andre

Aterrado é um outro fato bem recente. Em 2011 o neonazi – e que se identificou como ‘cristão cultural’- norueguês Andrei Brevick matou 69 pessoas e deixou 66 feridos no campo da juventude do partido trabalhista norueguês. Foi o MAIOR ato de terrorismo recente no solo europeu. Vários governantes e entidades do mundo todo mandaram condolência e condenaram o ataque. Houveram marchas que reuniram mais de 200.000 pessoas em Oslo, capital da noruega. As marchas não foram abertas por um ‘bloco’ de governantes de vários países do mundo em frente contra o extremismo de direita. Na verdade se compareceram governantes as marchas foram poucos, provalvemente dos países nordicos (a notícia da BBC sobre a marcha na época não se refere a presença de nenhum governante de nenhum país).
E para quem acha que terrorista é só quem age em grupo, Brevinik declarou ter tido apoio de duas organizações ‘nacionalistas’.
Porque isso? porque Brevinik é loiro e de olhos azuis? porque é ‘cristão cultural’? porque Brevinik gritou enquanto atirava ‘vocês vão morrer hoje marxistas’? porque os países mais poderosos do mundo tem vergonha de combater a ascenção da extrema direita por sua cumplicidade e culpa no passado? Ou seria por seus interesses no presente( no ano passado os EUa, o Canadá e a Ucrânia votaram contra uma resolução da ONU condenando a apologia ao nazismo. A Europa se absteve, possivelmente por vergonha de votar contra!)?
O tratamento desigual a atos semelhantes só deixa entrever a serpente saindo do ninho.

André Martins

Parabéns Marlene, excelente comentário.

Lukas

Respondendo a sua pergunta: Ninguém, nem os progressistas, já que eles também estão ocupados relativizando os atos terroristas de Paris.

Marlene

No contexto da globalização, os sinos não dobram (dobrarão um dia?) pelas vítimas da Nogéria!

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