Vitória de Macri assanha a mídia argentina: La Nacion dá uma de Folha ditabranda e pede liberdade aos genocidas; trabalhadores repudiam editorial

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23/11/2015 – Copyleft

Extrema-direita argentina espera que Macri solte os genocidas

O segundo maior jornal argentino escreveu um editorial pedindo a soltura dos criminosos que torturaram e assassinaram militantes de esquerda nos anos 70

da Carta Maior, com Opera Mundi

O presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, afirmou durante sua campanha eleitoral que irá acabar com o “negócio” que se tornou a questão dos direitos humanos na Argentina. Na mesma linha do novo líder, o diário argentino La Nación, o segundo maior do país, publicou nesta segunda-feira (23/11) um editorial com críticas à prisão de militares acusados de crimes durante a ditadura militar que durou entre 1976 e 1983.

“Por estarem muito velhos para estar presos”, a medida representa uma “vergonha nacional” e os novos tempos são propícios para “terminar com as mentiras sobre os anos 1970”, diz o La Nación, em uma referência contra o julgamento dos militares.

O chamado resgate da memória realizado pela Argentina nos últimos anos é apontado por organismos de direitos humanos em toda a América Latina como importante para impedir que se repitam os fatos que resultaram no desaparecimento forçado e na morte de mais de 30 mil pessoas.

Não mais vingança

Editorial diário argentino La Nación, 23 de novembro de 2015

A senadora Norma Morandini escreveu dias atrás, neste mesmo jornal, que as causas de direitos humanos não podem ser defendidas com mentiras. Não se pode defender tampouco com novas violações aos direitos humanos, como está ocorrendo no país atualmente.

Um dia depois dos cidadãos elegerem um novo governo, devemos esperar que as ânsias de vingança sejam sepultadas de uma vez, para sempre.

Os trágicos acontecimento dos Anos 70 vêm sendo contados de forma deturpada por uma esquerda ideologicamente comprometida com os grupos terroristas que assassinavam com armas, bombas e uma articulação que não se diferencia em nada daqueles que provocaram o atentado de Paris, que comoveu o mundo há dez dias atrás. Aquela esquerda raivosa, de verdadeira configuração fascista – tanto antes quanto agora –, se apoderou do aparato propagandístico oficial desde o começo do governo dos Kirchner.

Se ocultou, assim, o que já não pode ser ocultado por mais tempo, para o bem da compreensão dos fatos por parte de uma sociedade cuja composição geracional vem mudando bastante nos últimos quarenta anos. Para a sociedade argentina dos Anos 70, não era necessário explicar que o aberrante terrorismo de Estado sucedeu o pânico social provocado pelas matanças indiscriminadas perpetradas por grupos treinados para uma guerra suja, os que o kirchnerismo qualifica de forma absurda, como uma “maravilhosa juventude”.

A sociedade isolou esses “jovens idealistas”, enquanto o terrorismo de Estado os trucidou com seu poder de fogo, com algumas exceções isoladas, apenas com a eficácia das operações militares, que tinham por objetivo aniquilar o inimigo, com uma moral que, no fundo, não se diferenciava da dos rebeldes que combatiam.

Chegou a hora de pôr as coisas no seu lugar. Debater que aqueles semearam a anarquia no país e destruíram vidas e propriedades não podem gozar mais de um reconhecimento histórico cuja gestação se fundou na necessidade prática dos Kirchner de contar, em 2003, com alguma bandeira de conteúdo emocional. Néstor o fez ao assumir o poder, com apenas 22% dos votos. Antes, deram muito menos importância ao assunto.

Há duas questões urgentes por resolver. Uma é o vergonhoso padecimento de condenados, processados e inclusive de suspeitos de terem cometido delitos durante os anos da repressão subversiva, e que se encontram em prisão, apesar de serem anciões. Já são mais de trezentos os condenados por direitos humanos que morreram na prisão, e isso constitui uma verdadeira vergonha nacional.

Dias atrás, tal situação se agravou devido a uma escandalosa decisão do Tribunal Oral de La Plata, que revogou a prisão domiciliar de vários militares de idade avançada, como os coronéis Carlos Saini e Oscar Bardelli, o capitão Carlos Robbio e o almirante Antonio Vañek. Parece uma burla que isso coincida com o privilégio domiciliário concedido recentemente, por um tribunal da província de Chaco, a um mafioso de 65 anos, condenado a 19 anos de prisão, por ter traficado mais de mil quilos de cocaína à Espanha.

Em segundo lugar, de modo paralelo, os atos de perseguição contra magistrados em atividade continua. Um deles foi o caso do juiz federal de Mar del Plata, Pedro Hooft, absolvido no ano passado após sete anos de acusações sobre supostos delitos contra a humanidade. A perversa montagem foi revelada por gravações apresentadas como prova, mas Hooft logo teve que enfrentar novos ataques. Também recentemente surgiu outro processo irregular montado contra o juiz Néstor Montezanti, de Bahía Blanca, em outra clara tentativa governista de desarticular a investigação de causas que envolvem a família presidencial.

O juiz federal Ricardo Lona, de Salta, também foi perseguido por mais de dez anos, quase sem elementos contra si, apenas referências mentirosas entregues por três militares condenados como autores das matanças produzidas no denominado Massacre de Palomitas. Hoje, ele se encontra em prisão preventiva, por supostas falhas na investigação da morte do ex-governador de Salta, Miguel Ragone, ocorrida em março de 1976. Se desconhece, porém, que o juiz Lona foi quem reuniu as provas que levaram à condenação dos autores do crime, segundo o reconhecido pela própria Corte Suprema de Justiça.

Por outra parte, a acusação contra ele carece de validade, pois a ação não se encontra em mãos dos promotores da causa, mas sim por outros designados pela questionada Procuradoria Geral da Nação, que carece de atribuições para perpetrar a ação. Com quase 80 anos e uma grave doença, Lona corre o risco de ser enviado à prisão, após os questionamentos a um informe médico que claramente desaconselha que ele seja enviado a um centro penitenciário.

A cultura da vergonha foi instalada pelos meios de difusão do Estado e pelas escolas habituadas a seguir as pautas históricas nada confiáveis do kirchnerismo. Ou seja, a mentira às quais a senadora Morandini se referia.

Os relatos de sujeitos que foram responsáveis por incendiar o país nos Anos 70, convencidos de que as armas de fogo e os explosivos, com suas sequelas de dor e morte, eram a via de acesso a uma sociedade melhor, não podem intimidar os políticos responsáveis, nem os juízes compenetrados em sua missão, de atuar em consonância com a verdade histórica e os princípios básicos do direito penal.

Sempre será indispensável construir a partir da verdade completa, apaziguar e não esgotar a busca, por todos os meios necessários, para que se cumpra o apelo do papa Francisco, de que todas as ferramentas da lei se ativem “para evitar qualquer tipo de vingança e curar as feridas”, embora “sem deixar de ver as cicatrizes”, como ele bem lembrou.

Tradução: Victor Farinelli

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A nota dos trabalhadores do La Nacion:

LOS TRABAJADORES DEL DIARIO LA NACION REPUDIAMOS AL EDITORIAL CONTRA LOS JUICIOS POR DELITOS DE LESA HUMANIDAD

Los trabajadores de La Nación S. A. le decimos NO al editorial que, con el título “No más venganza” se publicó hoy, lunes 23 de noviembre de 2015, en la página 32 del diario.

Quienes trabajamos en el diario La Nación, en las revistas que edita la empresa, en las versiones online de todos los productos periodísticos, entendemos que la vida democrática implica la convivencia de distintas ideas, proyectos e identidades políticas. Convivimos entre estas paredes trabajadores que expresamos esa diversidad y desde nuestras diferencias construimos un sentido común.

Desde esa diversidad rechazamos la lógica que pretende construir el editorial de hoy, que en nada nos representa al igualar a las víctimas del terrorismo de Estado y el accionar de la Justicia en busca de reparación en los casos de delitos de lesa humanidad con los castigos a presos comunes y con una “cultura de la venganza”.

Los trabajadores del diario La Nación decimos SI a la DEMOCRACIA, a la continuidad de los juicios por delitos de lesa humanidad y decimos NO al OLVIDO.

Por MEMORIA, VERDAD y JUSTICIA.

Trabajadores de La Nación S. A.
Comisiones Internas de Prensa y Gráficos.

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Wagner Iglecias: O significado da vitória de Macri


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Comentários

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Francisco

Me sinto ligeiramente constrangido por ter eleito por doze anos um poder de esquerda tão fraco e claudicante que a direita não precisou ganhar a eleição para ter tudo o que na Argentina é apenas uma tentativa “para ver se cola”.

Não punimos os ditadores,
Não punimos os genocídios de indígenas,
Não punimos os torturadores,
Não punimos os monopólios (nem nacionais e nem estrangeiros),
Não punimos os empresários que ganharam um BILHÃO para cada centena de desaparecidos e torturados,
Não punimos nem os traidores da nação, que a venderam.

Apenas punimos José Genuíno e a base eleitoral afrodescendente.

FrancoAtirador

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.
Curiosidade
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Os Jornalistas da Mídia Jabaculê do braZil
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apoiam o Editorial do Jornal La Nación?
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(https://twitter.com/alexsandraponce/status/668936688933163008)
.
.

Andre

Pelo que entendi, o La Nacion também seria contra o tribunal de Nuremberg, não?

Cláudio

:
.:.
: * * * * 19:13 * * * * .:. Ouvindo A Voz do Bra♥♥S♥♥il e postando:
.:.
♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
* * * * * * * * * * * * *
* * * *
.:.
Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 neles ! ! ! !
.:.
* * * *
* * * * * * * * * * * * *
♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

C.Paoliello

O WikiLeaks já havia revelado quem é Macri:

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/42360/wikileaks+durante+governo+cristina+macri+pediu+que+eua+fossem+mais+criticos+com+argentina.shtml

Será uma tragédia não só para a Argentina como para a América do Sul e América Latina. Macri vai simplesmente fazer da Argentina uma mera colônia dos EUA.

lulipe

Os argentinos perceberam que o bolivarianismo é um engodo de projeto para qualquer país, poderam sentir na pele, na inflação, nas contas públicas, no desemprego, na censura à imprensa, na quebradeira do país…Aqui, felizmente, os brasileiros já começam a perceber que o lulopetismo vai pelo mesmo caminho, com o agravante da corrupção institucionalizada que dificulta ainda mais a recuperação do país. Ainda bem que esse é um fenômeno que varre a América do Sul, o próximo será o Maduro, cujo governo já está “podre” e o próximo será o governo petista. Dias melhores virão!!!

    RONALD

    Lulipe, o que você está fazendo neste blog? vai ler a folha, Terra, oglobo, e outras misérias da direita, seu energúmeno.
    O bolivarianismo é o movimento mais autêntico de firmeza da soberania dos povos explorados pelo imperialismo americano, que está em declínio por sua arrogância e morticínio dos povos do mundo todo.
    A Argentina vai sofrer um bocado na mão deste presidente de direita e o patrimônio do povo argentino vai parar nas mãos das transnacionais, ficando o lixo, as dívidas com o povo.
    DEPRIMENTE !!!!!!

    Uba

    Lulipe você é só mais um analfabeto político, um ignorante.

    Caso um dia você se interessse de VERDADE por se instruir e ser culto, informe-se sobre o que foi o governo Menen na Argentina.

    Se você está preocupado com a quebradeira, naquele governo você encontrará todas as ações que quebraram a Argentina.

    A direita nunca fez um governo que preste, jamais fará, porque a direita odeia o povo, odeia o trabalhador, e governo sem povo e sem trabalhador não é governo.

    Luiz Gomes Moreira

    Te colocar levando choques eletricos num quartel ou sendo afogado em um rio, seu LULIPE de Mier..!
    Cretino é o que és, fascista apoiador de torturas e afogamentos. Diz isto na cara da mulher do sargento de Porto Alegre, safado!!

    PEDRO HOLANDA,

    Quanta imbecilidade, além da falta de informação.

    Mauricio Gomes

    Além de analfabeto político, o tal de lulipe também é analfabeto funcional (“poderam sentir na pele” é dose até para filhotes da ditadura).

    Nelson

    Quem escreveu este comentário para que você publicasse, Lulipe?

    A CIA, o NED, a NSA ou algum banco de cérebros (think tank) dos Estados Unidos?

abelardo

Taí, um belo soco na boca do estômago dos direitistas argentinos e brasileiros, que não sabem do pudor, da honra, da ética e da coragem com que os trabalhadores argentinos exercem suas profissões. Taí um belo soco na cara da grande mídia brasileira, golpista, partidária, imparcial e preconceituosa, que imaginou poder tirar proveito do editorial, antes de tomar essa bela porrada na cara. Taí um belo chute “nas partes baixas” dos fascistas brasileiros, que saíram do armário pensando que já haviam ganho um jogo que só encerra em 2018 e, o qual, terá uma nova prorrogação com duração de mais quatro anos, com a ajuda de brasileiros e brasileiras “de verdade”.

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