Hêider Pinto denuncia proposta de mudança na política de saúde mental: Mina de dinheiro para manicômios e clínicas privadas

Tempo de leitura: 4 min

Golpe duríssimo na saúde mental do Brasil

por Hêider Aurélio Pinto*, no Facebook

Todos sabiam que estava sendo preparado um duríssimo golpe na política de saúde mental do Brasil.

Ele foi dado e é pior do que poderia se imaginar.

Talvez essa seja a sua maior fragilidade: é uma política tão ruim, tão frágil e pouco defensável que pode nascer natimorta.

Um indício disso é a interpelação do Ministério Público Federal descrita na postagem.

O desmonte e inversão da política de saúde mental é uma tentativa de retorno aos 90 (Temer já fez a PNAB voltar aos anos 80, agora quer fazer igual com a saúde mental e usando métodos parecidos).

Pode ser sintetizada da seguinte forma: uma promessa enganadora que pretende ludibriar a população e que não passa de um modo de justificar o financiamento (caro e ineficaz) de manicômios, de ambulatórios “despachadores” de receita tarja preta e da mina de dinheiro, autoritarismos e atraso da maioria das chamadas “comunidades terapêuticas”: o interesse econômico, a péssima ciência e a negação da ciência de braços dados ante a possibilidade de rapinar os escassos recursos da sociedade e do Estado.

E para viabilizar o modelo no qual só os interesses privados de quem lucra com o sofrimento das pessoas será beneficiado, o desmonte da rede de saúde mental via desfinanciamento dos serviços existentes: se destrói o que tem para viabilizar o que tinha e que foi substituído porque era caro, não funcionava e não respeita os direitos humanos.

Fiquem atentos às manifestações que certamente sairão nos meios independentes (não esperem nada da grande mídia, sócia dos maiores grupos econômicos da saúde), protagonizada pelos movimentos relacionados à saúde mental, pesquisadores, profissionais de saúde, gestores do SUS e também pelo Ministério Público Federal que, ante o absurdo, já pede explicações da deletéria medida do Ministério da Saúde de Barros e Temer.

*Hêider Aurélio Pinto é médico sanitarista

Abaixo a manifestação da Procuradoria dos Direitos do Cidadão, do MPF

Imagem da PFDC

PFDC pede ao Ministério da Saúde informações sobre a proposta de alteração na política de Saúde Mental

PFDC

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão – órgão do Ministério Público Federal – pediu nesta quinta-feira (7) ao ministro da Saúde, Ricardo de Barros, informações sobre a efetiva implementação da política brasileira para o direito à saúde mental.

Durante a última reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), realizada em setembro deste ano, o Ministério da Saúde anunciou que pretende reestruturar as principais ações e serviços da área.

Entre as modificações propostas estaria a manutenção de leitos em hospitais psiquiátricos, a ampliação de recursos para comunidades terapêuticas e a limitação na oferta de serviços extra-hospitalares.

As medidas afrontam as diretrizes da política de desinstitucionalização psiquiátrica, prevista na Lei Nº 10.216/2001, além de violar as determinações legais em relação à atenção e ao cuidado de pessoas com transtorno mental estabelecidas também na Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência e na Lei Brasileira de Inclusão.

No ofício ao Ministério da Saúde, a Procuradoria dos Direitos do Cidadão pede que a pasta apresente as evidências e estudos que embasaram a proposta de alterações nessa política pública, inclusive encaminhando ao Ministério Público Federal a avaliação jurídica que orientou a proposta de mudança – considerando os impactos desse novo desenho na reinserção psicossocial das pessoas institucionalizadas, na ampliação das internações de longa permanência e na limitação da atenção multidisciplinar previstas na legislação brasileira.

Alcance de metas – A PFDC também solicita ao Ministério da Saúde que informe a situação atual e quais as ações realizadas e planejadas para alcançar cada uma das metas do Plano Nacional de Saúde na área da saúde mental.

Nesse sentido, questiona dados sobre a atual cobertura populacional dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) em cada estado do País, o número de Unidades de Acolhimento, o número de leitos de saúde mental em hospital geral, os municípios que receberam recursos para construção de CAPS e Serviços Residenciais Terapêuticos e as medidas realizadas pelo Ministério da Saúde nos dois últimos anos com vistas à desinstitucionalização dos pacientes mantidos em hospitais psiquiátricos credenciados no SUS e financiados com recursos federais.

Assessoria de Comunicação e Informação

Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC)

 


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Eugênio Viola

DEIXAI TODA ESPERANÇA, VÓS QUE ENTRAIS!
A Porta do Inferno (Canto III da Divina Comédia, de Dante Alighieri)
No final dos anos 70, o psiquiatra italiano Franco Basaglia ganhava projeção internacional ao propôr a reforma no sistema manicomial em Trieste. Sua experiência humanizadora chegava então ao Brasil junto aos ventos da redemocratização.
A dramática situação vivida por doentes mentais nos hospitais psiquiátricos – verdadeiros depósitos de seres humanos -, abandonados pela sociedade e pelas próprias famílias, ficou registrada no documentário de Helvécio Ratton “Em Nome da Razão”.
https://www.youtube.com/watch?v=zrSiNpMKcD0
Abraços

Julio Silveira

Com o que esse governo tem feito e mostrado certamente deve esperar a multiplicação da insanidade no país. Um povo que vive reprimido, espoliado e sem condições de resistir, tende a implodir mentalmente. Ainda mais sob disfarces produzidos e aceitos, feitos de fugas através da cumplicidade midiatica. Essa que vem minando a saude civica e cidadã do povo através da massificadora oferta de superfluos que os enriquecem enquanto os ajudam a encobrir as deficiencias humanas tornadas imorais em seu povo. Submetidos fisicamente e moralmente ainda que tenham a perfeita noção dessa contradição, o que tende a piorar as tendencias para as patologias psquiatricaa.

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