As falsas vítimas e as capas dos jornalões que apoiaram o golpe

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Folha e Estadão trataram ao mesmo tempo dos “dois lados”, em primeira página, no dia 15/12/2014. Por coincidência, ambos apoiaram o golpe de 1964

 Falsas vítimas

por Vladimir Safatle, na Folha, sugerido pelo Antônio David

16/12/2014 02h00

Depois de pressões vindas de vários setores da sociedade pelo reconhecimento dos excessos cometidos por ambos os lados, o governo alemão resolveu inaugurar um memorial aos oficiais da Gestapo mortos por militantes comunistas alemães.

“Devemos colocar o problema da ascensão do nazismo em seu contexto. Afinal, havia o medo da ameaça comunista, por pouco uma revolução comunista não eclodiu na Alemanha. Claro que ninguém apoia o nazismo, mas do outro lado não havia apenas santos”, disse a chanceler Angela Merkel na inauguração.

Não, esta não é uma notícia verdadeira. Mas, guardada as devidas proporções, alguns querem nos levar a um raciocínio parecido diante das exigências postas pelo relatório da Comissão Nacional da Verdade.

Depois de dois anos e meio de trabalho, a CNV mostrou como o país foi governado, durante vinte anos, por governos que implementaram uma política sistemática e consciente de medo, assassinato, tortura, estupro e ocultação de cadáveres, não apenas contra militantes comunistas, mas contra todos os que podiam se apresentar como ameaça à perpetuação do regime.

Durante vinte anos, o Brasil foi simplesmente um Estado ilegal governado por bandidos.

Diante disso, o mínimo que se poderia esperar era uma pressão nacional para que as Forças Armadas oferecessem à nação um mea-culpa, como foi feito em países como Argentina e Chile, entre tantos outros.

As Forças Armadas brasileiras devem decidir se querem ser uma instituição à altura das exigências de uma sociedade democrática ou um clube de defesa de torturadores, estupradores e assassinos.

Mas, como não poderia deixar de ser, levantam-se vozes para falar sobre “as vítimas do outro lado”.

Então, militares aparecem com listas de vítimas das ações de grupos de luta armada (para variar, listas falsas com pessoas ainda vivas), filhos de torturadores escrevem cartas indignadas contra o governo.

Pessoas que morreram por defender uma ditadura criminosa ou que são atualmente denunciadas por isso querem agora ser vistas como vítimas.

Mas vítimas do quê? Do direito de resistência contra a tirania? Os colaboracionistas franceses mortos pela resistência foram “vítimas”?

Como se não bastasse, há de se lembrar que todos os membros da luta armada que participaram de crimes de sangue NÃO foram anistiados (por favor, leiam novamente, “não foram anistiados”).

Eles ficaram na cadeia depois de 1979 e, por isso, pagaram suas penas. Os únicos que não pagaram nada foram os militares.

A Lei de Anistia, como aplicada no Brasil, é uma simples farsa imoral. Como é farsesca a ideia de, agora, dar voz àqueles que passaram à história brasileira eliminando as vozes dos descontentes.

Leia também:

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Comentários

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Cláudio

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************* Abaixo o PIG brasileiro — Partido da Imprensa Golpista no Brasil, na feliz definição do deputado Fernando Ferro; pig que é a míRdia que se acredita dona de mandato divino para governar.

Lei de Mídias Já!!!! **** … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. **** … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

O Mar da Silva

“As Forças Armadas brasileiras devem decidir se querem ser uma instituição à altura das exigências de uma sociedade democrática ou um clube de defesa de torturadores, estupradores e assassinos.”

Quem deve decidir isso é o governo, chefe das Forças Armadas.

maria nadiê rodrigues

Pra provar que não eram apenas militantes políticos os sofredores nas mãos dos criminosos militares, deixo aqui uma história verídica, contada por uma amiga nos anos 70 no RJ:

– Ela acabara de chegar dos EUA, após se divorciar do marido americano. Viva em Sorocaba, e estava a passeio no Rio.
Contou que jamais imaginou, lá nos EUA, o que se fazia aqui no Brasil.E logo que chegou, em Sorocaba, visitou sua maior amiga, que estava muito doente, depressiva, com medo de tudo e de todos. Pra contar o que lhe sucedera, as duas pegaram um carro e foram parar num local distante, ermo, longe das vistas de todos. Era apenas um moça jovem, e feliz, estudante universitária que iria narrar o que lhe sucedeu para ficar daquele jeito.
Pois bem, essa moça jovem, de volta da escola pra casa, sentada no banco de um ônibus, viu cair sobre suas pernas um panfleto, que ela decidiu ler sem saber que estaria sofrendo uma emboscada.
Nem terminou de ler o texto do panfleto, dois militares, que se encontravam no ônibus, obrigaram-na a se levantar e acompanhá-los. Levaram-na pra uma sala desconhecida, e lá a estupraram por diversas vezes em vários dias. Alegaram que ela era comunista por estar lendo aquele panfleto, que seria a prova de sua subversão. Dias depois, quando a garota já não tinha mais força pra nada, a levaram pra um matagal, e lá a deixaram como quem descarta um lixo.
A dedução lógica, partindo dessa história, é que no meio dos militares ávidos em prender e torturar subversivos, outros militares, se locupletando de seus postos, e sendo apenas uns psicopatas, agiam dessa forma: plantava uma mentira e dela tirava proveito. Se o superior quisesse prova, ele apresentaria o panfleto. Simples assim.

Mancini

Realmente, Conceição, Azenha; é muita falácia e não é de hoje que recebemos ‘e-mails’ de até amigos, ‘desorientados’ na extrema direita, com tipo de sandice iguais ao ‘post’ acima! http://refazenda2010.blogspot.com.br/

FrancoAtirador

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MÍDIA TERRORISTA ASSASSINA COMERCIÁRIO

E ATRIBUI CULPA AOS HERÓIS DA RESISTÊNCIA

(http://imgur.com/ADIXqp1)

http://www.blogdacidadania.com.br/wp-content/uploads/2014/12/manchetes-capa.jpg

Narr

Uma ditadura assassina não possui credenciais políticas nem morais para determinar com quais armas deverá ser combatida.

Mário SF Alves

“Elite contra elite.”

Que tese! Quanto esforço para tentar valer o imponderável.
____________________________
Sei. Se assim lhe parece, fazer o quê?

Ainda bem que aparência não é essência.

    Edgar Rocha

    Mário, seria bom considerar que elite, no sentido vulgar, é aquela que lidera ou que detém o controle (diferentemente do significado original, em que elite é aquela que toma a frente numa batalha, que combate primeiro). Ora, se o PT não puder ser considerado elite política do país, estando no governo a tanto tempo, quem seria? O uso do termo pela esquerda considera seu caráter histórico e contextual. Mas, não creio que seja completo. O que quero dizer é que, a luta contra a lei de anistia não ultrapassou o círculo dos que representam a leite política, seja de esquerda ou de direita. Não menosprezo a legitimidade dos que pedem por justiça, ao contrário, gostaria que esta fosse estendida para além da fronteira dos que detém o poder político em alguma esfera. Creio apenas uma vez, vi alguém mencionar a ação do Estado atual como permanência das antigas estruturas de repressão. Mas, vejo muito mais omissão, muito mais uma centralidade da luta entre estes agentes políticos que hoje são sim, a elite, seja ela de lado for. Virou uma briga pontual. Depois não adianta reclamar que o povo não se interessou ou não se mostrou solidário aos que reivindicam um ajuste com o passado. Como envolver a nação nesta questão, como aproveitar a oportunidade para resgatar o quanto a escuridão atingiu a todos indistintamente, como deixar clara a falácia de que no tempo da ditadura as coisas eram melhores? Perdeu-se esta oportunidade histórica. A imagem que fica é a de uma luta política, de cachorro grande, que não é da conta de ninguém, sobretudo dos que ainda estão com a espada na cabeça, sem pertencer a nenhum dos lados em questão. Talvez por isto, por não serem militância, não mereçam ser participantes deste processo. É uma questão de solidariedade, sobretudo. E, historicamente, quem vira elite no país, não costuma ser muito solidário com suas origens. Preferem ser pragmáticos.

FrancoAtirador

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É a “Tragédia Diária de Manipulação da Informação pelo Oligopólio de Comunicação”

a que se referiu o Professor e Jornalista Venício Lima, no Fórum21.

Só a Regulação Econômica da Mídia-Empresa salva o BraSil da Catástrofe.

(http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Democracia-da-midia-e-participacao-social-pautam-abertura-do-Forum21/4/32448)
(http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Dilma-percebeu-que-a-midia-interferiu-nas-eleicoes-diz-Laurindo-Leal-Filho/12/32447)
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Edgar Rocha

Se é pra olhar as coisas de lados diferentes, a questão deveria ser posta de outra forma. O que vemos hoje é a elite política atual (a parte da esquerda, atualmente no governo) exigindo, com todo o direito, a punição aos que se impuseram pela força de um regime totalitário contra as organizações de resistência – historicamente legitimadas e politicamente vitoriosas no presente – num contexto de luta por liberdade, abertura democrática e restauração das instituições representativas. Pedir punição aos mandatários e executores do Regime Ditatorial é, portanto, um uma questão de justiça internacional, antes de ser um direito dos que foram vitimados. O mundo precisa saber o que se passou, quem foram os responsáveis e o quanto o país está disposto a virar esta página.
Contudo, não nos esqueçamos que os que estão sendo hoje acusados dos crimes têm como provas contra si os registros sobre as barbaridades cometidas contra figuras-chave das organizações ideológicas. Na prática, reduziu-se a caça aos agentes da violência de Estado a uma ofensa centrada nos que hoje, gozam de condições para fazer tal cobrança, devido ao fato destes terem obtido o aval popular para governar o país. É pouco (o que não invalida a luta) e insuficiente para virar a página, como pretendem os que se empenham nesta empreitada. Tão insuficiente, que me atreveria a dizer que, num contexto político, tal questão fora reduzida a uma luta entre a elite política atual contra a elite vencida e condenada ao ostracismo ou às sombras da condição de eminência parda. Elite contra elite.

O que justificaria a crítica a unilateralidade das punições, contudo, seria o fato de que nenhuma das elites em questão preocupa-se em avaliar a extensão da violência institucional aos setores da sociedade quem, nem naquele momento (durante a Ditadura), nem no atual, gozam de representatividade política para reivindicar a justiça contra os genocídios sofridos por um Estado imutável no quesito violência. Índios, campesinos, favelados, pobres, periféricos de todos os tipos, a maioria dos que sofreram e sofrem com a violência de estado não estão na conta. Este sim, é o outro lado que falta ser devidamente justiçado.

A razão pra tamanha omissão é uma só: ninguém, nem esquerda (nem o PT), nem a Direita, abrem mão de manter viva a aparelhagem repressiva das instituições. Apesar de chorarem seus mortos, nem Marcelo Rubens Paiva, nem Adriano Diogo, nem ninguém que hoje se mostra liderança na luta contra a falsa anistia, se atreve a apurar de fato as permanências, as heranças repressivas que ainda estão muito atuantes e continuamente matam, aniquilam, sofisticam-se dia a dia, sem que ninguém (nenhum guerrilheiro da antiga, diga-se!) se atreva a aprofundar. Nenhum torturado dos tempos áureos se compadece das torturas anônimas ou se opõe à máquina de matar. Isto não entrou na pauta dos que abraçam o tema. Talvez tham medo de ser torturados (novamente? É o que dizem). O fato é que hoje, há uma mão institucional que aperta carinhosamente a mão do paralelismo. Ambas sujas de sangue. Ambas cortejadas pelas mãos que se dizem vitimadas no passado. Padilha deixou seu recado em São Paulo. Se eleito, não mexeria com a PM. Adotaria o fiscalismo idêntico ao do Alckmin, pra inglês ver e americano vender. Triste constatação, mas o que dói nos que lutam por algo tão justo quanto a prisão dos bandidos de outrora, não é a memória de sua dor, ou dos que já partiram vitimados pela tortura. O que dói nesta gente é o umbigo, apesar de não ter sido devidamente separado das entranhas do DOPS.

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