Andrea Gorenstein: Um choque no mundinho fechado da alta costura

Tempo de leitura: 3 min

Rachaduras na Torre de Marfim

por Andrea Gorenstein, especial para o Viomundo

A alta moda tem códigos muito particulares. Por se distinguir tanto dos demais segmentos de consumo de vestimentas, fashionistas gostam de chamá-lo de “mundinho”, uma realidade paralela em que os padrões e pudores tradicionais são deixados à porta.

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Fora do “mundinho”, a publicidade que abusa da objetificação da mulher e apela ao corpo feminino para alavancar vendas costuma se distribuir no nicho dos produtos populares, voltados ao público masculino — como reinava a tradição no segmento de cervejas.

Nos últimos anos, o ruído contra o abuso do corpo feminino se tornou tão persistente, que mesmo empresas cujo marketing só inovava em revelar novas donas de nádegas e seios, cederam.

Neste verão, mesmo a Skol capitulou, assinalando que suas campanhas antigas não mais a representavam.

Mas, se o barulho contra a publicidade misógina atinge marcas populares, mesmo não parecia acontecer no “mundinho”, em que campanhas muito bem embaladas esteticamente vendiam fantasias de estupro ou a glamurização do consumo de drogas com assustadora naturalidade.

O público feminino consumia as imagens que estetizavam o aspecto pré-pubescente, anoréxico e hipersexualizado das modelos com absoluta naturalidade.

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E o mercado de alto luxo informava as campanhas de todo o segmento de vestuário, uma das maiores indústrias do planeta.

Uma recente campanha francesa da maison Saint Laurent parece prenunciar o fim da do caráter intocável do segmento de alto luxo: fotos impecáveis de jovens mulheres de aspecto anoréxico em posições de hipersexualização ou submissão humilhante foram alvos de ataque por toda a cidade de Paris, de condenação pela Ministra dos Direitos das Mulheres e ganharam hashtag própria nas redes sociais.

Um muro de separação do mundinho foi seriamente fissurado.

O requinte fotográfico não protegeu a campanha da chuva de críticas: mais de 200 pessoas denunciaram a campanha como degradante para as mulheres, à autoridade de regulamentação publicitária francesa.

Um dos segredos do segmento de luxo feminino é que as maisons produzem alta costura, deficitariamente, para lucrar com a venda de perfumes, bolsas e sapatos, que possuem etiquetas mais acessíveis.

É por isso que o barulho vindo de quem não consome alta-costura assusta.

Os círculos acadêmicos feministas sempre condenaram a representação da mulher na indústria de luxo, por ser exclusivista, limitadora e pouquíssimo representativa.

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Desta feita, em vez dos habituais narizes torcidos, cartazes amanheceram pichados por toda a cidade e soaram como um alarme que prenuncie, talvez, o fim de uma era.

A publicidade foi julgada e condenada a ser retirada de circulação.

Na sexta-feira passada, os anúncios saíram de cartaz.

São pequenos, mas seguros sinais de que o mundo real começa a se infiltrar pelas rachaduras no mundinho da moda.

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Comentários

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RONALD

Essa turma do mainstream tenta impingir seus comportamentos bizarros, sexistas e trissextos. Aí, vem o público diz basta. Eles dão uma recuada, mas logo vem de novo, tentando implantar suas misérias e aberrações.
Vamos sabotar esses produtos e marcas !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

a.ali

As “placas tectônicas” começam a se mexer!

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