Altamiro Borges: O programa ultraliberal da Folha

Tempo de leitura: 3 min

Carro de entrega da Folha queimado por guerrilheiros durante a ditadura militar. Jornal apoiou o regime e entregou periódico Folha da Tarde para fazer serviço sujo da polícia política. Dizia-se, na época, que a FT era o jornal de maior “tiragem”, por ter policiais em seus quadros.

A Folha pensa? Pobre jornalismo!

Por Altamiro Borges, em seu blog

Para que ainda imaginava que a Folha de S.Paulo faz jornalismo, o especial do jornal desta quarta-feira (19) confirma que ela faz política. “O que a Folha pensa” é o título do longo e laudatório artigo. Nele o diário da famiglia Frias – que apoiou o golpe militar, aliou-se ao setor linha dura da ditadura, cedeu seus veículos para os órgãos de repressão e tornou-se um dos principais veículos dos dogmas neoliberais, entre outros crimes que comprovam que o jornal é um verdadeiro partido da direita nativa – apresenta a sua plataforma para a atualidade. A linha editorial da Folha revela bem os limites estreitos do seu jornalismo – e coitado do jornalista que não reze de seus dogmas.

O artigo apresenta os “principais pontos de vista defendidos pela Folha”, que completou 93 anos de existência nesta quarta-feira. O jornal ainda tenta se travestir de eclético e pluralista para enganar os mais ingênuos, mas a sua visão elitista e autoritária fica patente. No terreno econômico, por exemplo, a Folha endeusa a “livre-iniciativa” e a “economia de mercado”. Já no campo da política, as suas propostas são de uma democracia liberal ainda mais restritiva, com voto distrital, cláusula de barreira, voto facultativo e outros contrabandos para afastar a participação popular. Apenas na área do comportamento é que a Folha apresenta algumas ideias progressistas em defesa das liberdades individuais.

O jornal confessa que “tais princípios gerais funcionam como pedra de toque para os editoriais que a Folha publica diariamente. Cabe à editoria de Opinião, a cada novo assunto, elaborar argumentos coerentes com tais diretrizes, tentando traduzi-las para um público amplo. Exceto quando há mudança expressa de posição, o próprio histórico dos editoriais serve de baliza. Opiniões já publicadas funcionam como ‘jurisprudência’ do jornal. O fato de a Folha declarar sua opinião por meio dos editoriais não impede que os colunistas (de colaboração periódica) e os articulistas (esporádica) manifestem posição diferente”. Exatamente por isto, a Folha escalou um time de notórios reacionários, com raríssimas exceções.

Mesmo declamando que “o pluralismo é uma das marcas da Folha”, o artigo fixa seus “principais pontos de vista” sobre vários temas. Em todos, o jornal não esconde seu viés oposicionista, sempre destilando veneno contra os governos Lula e Dilma. No item Copa do Mundo, por exemplo, ele faz questão de realçar os gastos excessivos e o péssimo legado. Já sobre o Bolsa Família, o jornal diz que “o Brasil ainda precisa de programas de transferência direta de renda, mas eles devem exigir contrapartida do beneficiário… O programa peca pelas poucas portas de saída, ou seja, oportunidades criadas para que os beneficiários deixem de precisar da bolsa”.

A visão ultraliberal da Folha fica mais evidente no debate sobre a economia. O jornal defende “reduzir o gasto público”; “perseguir inflação baixa e reduzir a meta oficial no médio prazo”; “reduzir e reformar progressivamente a carga tributária”; “reformar a Previdência, o que implica, entre outras medidas, aumentar a idade da aposentadoria”; “conceder mais serviços públicos à iniciativa privada”; entre outros pontos. Um típico programa neoliberal, bem ao gosto de FHC – que quase levou o Brasil à falência no seu triste reinado – e da oligarquia financeira que afundou os EUA e a Europa numa das piores crises da história do sistema capitalista mundial.

Veja também:

Alípio Freire e Beatriz Kushnir: A Folha e a ditadura


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Comentários

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Fabio Passos

Este jornal é apenas mais um porta voz dos ricos, privilegiados… e golpistas.
A fsp pensa que os pobres devem se lascar para meia dúzia de miliardários vagabundos curtirem a vida. O frias quer posar de defensor da iniciativa privada… mas mama nas tetas do governo de SP. Se cortar o desvio de verba pública que sustenta a famíglia frias… a fsp acaba.

Aline C. Pavia

Em resumo, não dá nem pra embrulhar peixe.
Capaz de estragar o peixe.

ricardo

Tem razão, esse receituário da economia política ortodoxa precisa ser superado. Devemos seguir os exemplos da saudável heterodoxia econômica que vigora em casos de inquestionável sucesso como a Venezuela e a Argentina.

Elias

E depois de todos esses vícios nefastos que Altamiro Borges descreve, não devemos esquecer que a Folha Mente, a Folha Mente descaradamente.

Jader

Quer coisa mais progressista que voto distrital e facultativo?

FrancoAtirador

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ARMADILHA RETÓRICA

A FOLHA NÃO PENSA NADA. QUEM PENSA É O DONO.

ASSIM COMO NA GLOBO, NO ESTADÃO E NA VEJA.

Essas Empresas de Comunicação são famiGliares.

Como qualquer outra empresa desse tipo

quem manda é o empresário patriarca.
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abolicionista

Um dos episódios mais tristes do jornalismo brasileiro foi a recente campanha da Folha em prol da elevação das taxas de juros e pelo aumento do desemprego.

A Folha não é nem liberal, é pior do que isso. Um liberal defenderia o capital produtivo. Ela é o garoto de recados do capital financeiro.

A Folha luta pelo aumento da desigualdade, por uma maior concentração de renda, e está quase tomando coragem de dizer isso abertamente.

José Ademar

Será que os jovens ultra politizados(Coxinhas/Black Blocs/PSOL/Marineiros) que dizem que 7 bilhões dos estádios é mais dinheiro do que os 850 bilhões de reais que foram gastos em saúde e educação de 2007 pra cá sabem o que é neoliberal pelo menos,já que os mesmos leem a Falha,Veja e consomem BBB,Novelas e JN da Globo Overseas e ainda acham Chico Alencar e Freixo um luxo?
Duvido que saibam.

    Lucas Gomes

    defender um evento da FIFA, eis a nova pauta da esquerda brasileira.

Fabio Nogueira

Para a Folha (e outros) se o Aécio ainda patina no baile do Royal, e se o PSDB continua boiando no vaso, cabe a eles a produção de uma linha de argumentação, de um programa para dar norte à oposição. Nada que cause espanto, vindo de um jornal cuja representante declarou em alto e bom som ser exatamente essa a função da imprensa, digo, dos proprietários das prensas: ser oposição. Estão tentando criar um solo onde a oposição vai pisar. Os jornais baterão diariamente na tecla do neoliberalismo, que é a salvação etc., aí falarão “olha que incrível, não é que é o mesmo que o Aécio está dizendo?! Que candidato cheio de bom senso e ideias novas!”.

José X.

O problema da Folha não é ser de direita, é ser canalha, como quase toda a direita brasileira. Nem vale perder tempo com ela.

    Nelia

    A folha é tucanalha!

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