Adilson Filho: Segurança vai muito além de “cabeças” entregues após chacinas como a de Costa Barros

por Adilson Filho

Na foto, a lágrima no rosto do pai de um dos meninos.

Quando você e seus amigos vão às ruas jogar pedra e mijo no policial, o máximo que vão ganhar é uma sprayzada na cara, um “confronto a brinca” pra filmar no celular e publicar no facebook. A polícia não vai fazer nada porque sabe muito bem quem são os que ali estão. Mas enquanto é “esquentada” nas ruas, humilhada com ofensas racistas e preconceituosas que fazem alusão a seus baixos salários, pode crer que isso ai se soma a um corpo já castigado psicologicamente e alguém vai pagar essa conta.

Há uns 15 anos, policiais entraram no Posto 9 e prenderam uma quadrilha inteira de bandidos, debaixo de cocos e pau de barraca voando pelos frequentadores locais. Mesmo quando cumprem o desviante papel de dar proteção a um lado, eles são esculachados por esse lado. É público e notório que ali naquele pedaço a ilicitude rola solta de montão, mas a certeza da impunidade é tão grande que chegam ao ponto de agredir quem deveria cumprir a lei e mandar ‘tudo’ pro xilindró.

A polícia é uma ferramenta do Estado para o controle social e defesa da propriedade. Que cumpre seu papel através da aplicação sistemática do terror contra a população pobre e negra. A execução de jovens em favelas e periferias é parte do cotidiano; não o contrário. Portanto, não é despreparo ou mero desvio de conduta como O GLOBO tá querendo enfurnar na sua cabeça. A PM é preparada para matar e reprimir alguns para que outros possam ter a paz que procuram quando vão dar abraço de branco na Lagoa.

Então, no lugar de ficar atacando policial, chamando de “verme”, digitando bobagens enquanto tomam seu suco de laranja, alguns deveriam botar a mão na consciência e se esforçar pra compreender uma estrutura que é muito maior e que vai além de meia dúzia de ‘cabeças’ entregues depois de chacinas como a de Costa Barros, para que outras similares possam continuar a ocorrer.

A questão da segurança ‘pública’ no Rio de Janeiro precisa ser olhada com mais responsabilidade; e a responsabilidade não é só das autoridades constituídas mas também da parcela da sociedade para quem ela é planejada.

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