Guaraná reduz fadiga em mulheres com câncer de mama

Tempo de leitura: 3 min

por Conceição Lemes

Diz a lenda que as tribos de Munducurucânia eram as mais prósperas. Venciam todas as guerras, apanhavam os melhores peixes e as doenças eram raras.

Tudo isso por causa de um curumim, que nascera naquela tribo havia alguns anos. Era o mais protegido. Nas pescas era acompanhado por muitos pescadores, que afastavam dos rios piranhas, jacarés ou qualquer outro perigo. Mas, certo dia, o Gênio do Mal apareceu em forma de cascavel e feriu o garoto. A tribo entrou em desespero.

Tupã, deus dos indígenas, atendeu os lamentos e disse:

— Tirem os olhos do curumim, plantem em terra firme e reguem com lágrimas durante quatro luas.  Ali, nascerá a “planta da vida”, ela dará força aos jovens e revigorará os velhos.

Os pajés não tiveram dúvida. Fizeram o que Tupã recomendou. Nasceu uma nova planta, travessa como as crianças, com hastes escuras e sulcadas como os músculos dos guerreiros da tribo. Quando ela frutificou, seus frutos eram negro azeviche, envoltos de um arilo branco com duas cápsulas vermelho-vivas. Diziam os indígenas:

— É a multiplicação dos olhos do príncipe!

O fruto trouxe progresso à tribo. Ajudou os velhos e deu mais força aos guerreiros.

Esse fruto é o guaraná (Paullinia cupana), planta nativa da Amazônia muito usada na medicina popular como estimulante. Essa propriedade medicinal se deve à guaraína, a cafeína do guaraná. A semente é muito rica nessa substância.

Pois uma pesquisa do Departamento de Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do ABC descobriu que o guaraná reduz a fadiga, ou cansaço, em mulheres com câncer de mama fazendo quimioterapia.  O sintoma é freqüente, tem impacto na qualidade de vida e ainda não há uma terapia padrão para tratá-lo.

“Nós sabíamos que o guaraná é um tônico, os estudantes usam-no para combater fadiga, se manter acordados, para estudar de madrugada”, conta o oncologista e professor Auro Del Giglio, coordenador do estudo. “Resolvemos então verificar se aliviaria a fadiga nas pacientes com câncer de mama, que atinge 50% a 80% delas.”

A fadiga pode decorrer da quimioterapia. Aparece também nos casos em que o tumor é diagnosticado em estado avançado. A pessoa sente cansaço, fica prostrada.

“A fadiga relacionada ao câncer é diferente da que se manifesta na depressão”, explica Del Giglio. “Na da depressão, a pessoa não tem vontade de fazer as coisas. Já na do câncer, a pessoa tem vontade de fazer as coisas, mas não consegue.”

EFICAZ, NÃO TÓXICO E BARATO

O estudo envolveu 75 mulheres em tratamento de câncer de mama no Ambulatório de Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do ABC. Todas sentiam cansaço crescente após o primeiro ciclo de quimioterapia.

Foram divididas em dois grupos. Um, integrado por 32 pacientes, recebeu 50 mg de extrato de guaraná, duas vezes por dia, durante 21 dias. O outro, com 43 pacientes, recebeu placebo (produto com aparência do guaraná verdadeiro, mas sem nenhuma substância ativa).

As mulheres também responderam questionários no dias 1, 7, 14 e 21 após o início do tratamento para avaliar o nível de fadiga. Ao final, 66% das pacientes do primeiro grupo relataram melhora, contra 13% do grupo que recebeu placebo.

“Ainda desconhecemos como o guaraná age nessas pacientes, apenas sabemos  que funciona”, expõe Del Giglio. “Uma das hipóteses a diminuição do cansaço seria o efeito estimulante da cafeína [2% a 5%], que atua no cérebro. Mas talvez não seja, já que o café também contém cafeína [1% a 2,5%] e não produz os mesmos resultados.”

Os efeitos colaterais foram mínimos e não se verificou insônia nem ansiedade nas pacientes tratadas com o guaraná.

“Além de eficaz e não ser tóxico, o guaraná é barato, por isso a nossa ideia agora é avaliar o seu uso em pacientes com outros tumores”, conclui o oncologista. “Pretendemos investigar também o mecanismo que faz com que essa planta atue no cansaço de pacientes oncológicos.”

— Como o médico descobre se a prostração é devido à depressão ou ao câncer e/ou quimioterapia?

“É preciso analisar os demais sintomas”, afirma o oncologista Auro Del Giglio. “Na dúvida, trata-se primeiro a depressão. Caso não haja melhora, é possível que o cansaço seja devido ao câncer.”


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Comentários

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Marcelo de Matos

(parte 2) Quanto aos dedos da mão, já me mandaram em reumatologista que disse que o problema não era de sua área. Então, de que área é? Minhas pernas, começando um pouco abaixo do joelho, ficaram todas pintadas, quase pretas. Não sei se foi muito sol que eu tomei ou se é algum problema de circulação. Até agora nenhum dermatologista fez um diagnóstico claro. Só mandam usar este ou aquele creme e não tem resolvido.

Marcelo de Matos

(parte 1) Vou falar de saúde, não especificamente de guaraná. Mesmo porque sou adepto do vinho e da cerveja, não necessariamente nessa ordem. A cerveja é o principal vilão para quem tem glicemia alta ou o vinho está no mesmo patamar? Estou descrente com a medicina, especialmente a dos convênios médicos. Se você tem um problema de coração ou rins, geralmente um clínico confirma o diagnóstico do outro – não tem muito mistério. Se o problema é de pele ou tecidos, a coisa se complica. Depois que adquiri idade um pouco avançada, surgiram caroços nos nós do dedo da mão e na planta dos dois pés. Operei dois desses caroços nos dedos da mão. Depois surgiram mais dois e meu urologista disse para não operar mais, porque eu tenho um rim só e não posso tomar antiinflamatório. Os dos pés eu operei, mas, ninguém soube me dizer o que era. A parte óssea foi extraída, mas, surgiu uma nova calosidade no local.

    Marcelo de Matos

    Conceição: faltou a parte 2 do comentário.

Marcelo de Matos

Ouvi dizer que, em especial, quando usado por crianças, o guaraná pode tirar o sono. Substâncias estimulantes, como as contidas em alguns energéticos (gengibre, guaraná, canela) têm igual efeito. Se tomar café e Coca Cola eu perco o sono. Para outras pessoas isso não faz efeito algum.

Conceição Lemes

Não entendi. abs

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