Tá chegando a hora…

por Marco Aurélio Mello

Um é “rigoroso”, o outro é “garantista” e o terceiro “rema com o STF”. Foi mais ou menos assim que a Veja num artigo de três páginas traçou o perfil dos três magistrados que vão decidir o destino de Lula logo mais, ao vivo em cores.

Uma capa sóbria e um texto sem afetação. É a estratégia para legitimar a pretensa imparcialidade da cobertura.

Os três juízes são tratados com certo respeito e parcimônia, mas sobram nas entrelinhas insinuações aos “petistas” que já foram condenador por aquela corte.

O texto dá um jeito de livrar a cara de Sérgio Moro diante da suspeita de que suas relações com um dos ministros vai além das formalidades jurídicas.

E dá um jeito de dizer que Lula despreza a Justiça, ainda que ressalve que o ex-presidente não fez críticas diretas a nenhum deles.

No encerramento eles ainda dão um jeito de dizer que, segundo entendimento do Supremo, se condenado, o réu deve ser preso imediatamente, antes mesmo que seja interposto e apreciado o recurso especial.

Ao final, ouço do dono da revista o seguinte comentário: “acho que não tem jeito. O povo quer que todos os corruptos sigam para a cadeia.”

Aí eu penso: que povo? Como ele pode fazer uma afirmação desta a respeito de alguém que, se as eleições fossem hoje, estaria consagrado com a maioria avassaladora dos votos em primeiro turno?

Se a Justiça tende a julgar sob a espada do interesse público, que quer punir independentemente de haver ou não prova, porque os institutos de pesquisa não preparam uma enquete fazendo uma pergunta bem simples: Na sua opinião o presidente Lula deve ou não ser condenado e ir parar na cadeia?

Ainda dá tempo. Sugiro até que Datafolha, Ibope, Gallup (ainda existe?) e outros dêem uma mexidinha na metodologia para privilegiar os brancos, de classe média e dos grandes centros.

Até que a farsa metodológica seja descoberta o serviço já estará pronto, com “viés” de autenticidade.

Detalhe, o assinante em questão não paga pela assinatura. Foi identificado por robôs na internet e passou a ganhar de graça a revista toda semana a revista que virava encalhe.

Privilegiado pela editora, ele acha que está fazendo um excelente negócio. “Tempo-Rei, oh Tempo-Rei, oh Tempo-Rei…”