De mulher para mulher

por Marco Aurélio Mello

Para os que não alcançam além das aparências…

Ele é sério, formal até.

Seu olhar é objetivo, direto, sem disfarces.

Daquele que avança sobre tudo o que mira com ímpeto desconcertante.

Mas socialmente é comedido porque sabe que é capaz de alcançar o que quer sem esforço.

Na intimidade, no entanto, não é nada disso.

Tímido, seu olhar é franco, demonstra curiosidade, encantamento e brejeirice e revela-se absolutamente sedutor.

Insinuante ele te fita, cerca, te despe e te molha, é arrebatador.

Um feitiço, tipo hipnose, acompanhado de um largo sorriso.

Seu apreço pelas palavras ditas na hora certa constroem um discurso preciso.

Repentinamente seus bons modos viram volúpia.

Numa atmosfera apropriada é impossível não se entregar.

Todas as necessidades básicas estão atendidas: alimento e um trago.

A Iluminação é indireta e amarelada, com a música calibrada e de bom gosto.

O contato físico causa no corpo ondas de calor e estremecimento.

Algo dentro de você começa a se perder, a se desprender.

Vem de um abraço apertado, aparafusado com justeza e com toque de seda.

Seus lábios são macios como as almofadas de veludo.

A experiência foge ao controle, beira a insanidade.

Somos levados a um lugar de plenitude, de onde não queremos mais sair.

Depois de passar por isso fica difícil escolher qualquer outra coisa.

E assim a gente entende porque certas relações nos escravizam.

Ao mesmo tempo que nos libertam.

Quem já passou por isso sabe.

De início ela tinha certeza que ele era homem.

Mas ao descobrir que era outra mulher não se importou.

Não era mais uma questão de gênero.